Marcelo Neri*
O vencedor disparado do ranking trabalhista é medicina, seguido de odontologia e engenharias
A analogia do capital humano com os outros tipos de capital é
procedente. É verdade que ativos financeiros não ficam desempregados,
não têm filhos ou se aposentam, mas a comparação é válida. Ao fim, temos
de colocar nossos ovos em alguma cesta, seja em ativos reais ou
financeiros seja na educação.
É fundamental saber como o mercado valora diferentes profissões, seja na
escolha privada de carreira seja na decisão pública de conceder
financiamento, como nos programas Fies e Prouni, ou de abertura de
faculdades. Mesmo ao gestor de políticas, o retorno privado é o
componente mais fundamental do retorno social.
O estudo "A Universidade e Você no Mercado de Trabalho", realizado pelo
Centro de Políticas Sociais da FGV, avalia os prêmios individuais
conquistados a partir de escolhas educacionais. A questão é determinar
os ganhos trabalhistas de diferentes carreiras universitárias.
O modelo mais popular sobre impactos da educação são as equações
mincerianas de salário. Dela aprendemos que, quando comparamos pessoas
do mesmo sexo, com a mesma educação etc., situadas no mesmo Estado,
mimetizando a trajetória de uma mesma pessoa do seu ciclo de vida, o
pico da renda de trabalho se dá aos 51 anos.
Exercício semelhante aplicado à chance de o indivíduo dispor de ocupação
se dá dez anos antes, ou seja, aos 41 anos. O que notamos são curvas
etárias em forma de sino, com crescimento da renda e da chance de
ocupação na juventude, atingindo o ápice na meia-idade e decaindo daí
para a frente, em particular no caso da ocupação.
A questão central aqui é: quais os ganhos trabalhistas derivados de
diferentes carreiras universitárias? Do tipo, quanto ganham? Quantos
conseguem trabalho? Quantas horas trabalham? Quantos conseguem proteção
trabalhista?
Avaliamos, a partir dos microdados do Censo 2010, o impacto de
diferentes cursos universitários no desempenho trabalhista observado a
posteriori para pessoas com o mesmo "background" inicial (idade, gênero,
Estado e tamanho de cidade), de forma a isolar os efeitos da escolha
universitária.
Comparamos a performance trabalhista de pessoas iguais, em alguns atributos, que seguiram diferentes carreiras universitárias.
Nossos modelos foram traduzidos em simuladores interativos e amigáveis que podem ser acessados em http://cps.fgv.br/indice_voce.
Eles permitem ao jovem vestibulando que vai optar por carreira no Enem
vislumbrar entre as suas vocações profissionais como pessoas com
características similares às suas desempenham, em média, no mercado de
trabalho.
Para ilustrar, falo de um homem de 49 anos que mora na cidade de São
Paulo. Os rankings de 48 carreiras universitárias dizem coisas simples:
Quem, na média, ganha mais? Medicina, com R$ 8.459 mensais, a preços de
hoje; menos, religião, com R$ 2.175.
Quem trabalha mais? Engenharia mecânica, com 42,9 horas semanais; menos, física, com 34,6 horas.
Qual é a carreira campeã de proteção trabalhista? Setor militar, dado
viés público, com 97% de cobertura previdenciária. Os menos protegidos
são serviços pessoais (como estética), com 72% de cobertura, dado viés
conta-proprista/empreendedor da atividade.
Quem, em idade ativa, tem mais chance de conseguir trabalho? Medicina, com 97%; o último é filosofia, com 89%.
Depois traçamos um ranking geral normalizado envolvendo as quatro
qualidades trabalhistas citadas, dando peso dois a salário e
considerando alta jornada como um problema. Afinal, nem todos são
"workaholics".
O vencedor disparado do ranking combinado é medicina, com índice
sintético 30% maior que o segundo colocado, que é odontologia; a seguir
vêm engenharia de transportes e engenharia civil. Esses dois passaram
por forte valorização na última década. Medicina já era o líder do
ranking da década passada.
Olhando para a base do ranking, temos religião, filosofia, educação
física e turismo, sugerindo que os eventos esportivos internacionais
ainda não mudaram o patamar de inserção laboral de suas carreiras
superiores.
--------------------
Nenhum comentário:
Postar um comentário