terça-feira, 19 de junho de 2012

Humano, eu te amo!

Lucas Benetti*

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Todo mundo já chegou a pensar, pelo menos uma vez na vida, sobre um futuro repleto de robôs ou coisas robotizadas e automatizadas obedecendo ordens de nós, seres devidamente humanos, tornando a vida mais fácil. Mas até onde realmente é necessário avançar para que isso se torne possível, sem deixar que o capricho dos homens ultrapasse a necessidade e crie máquinas cada vez mais parecidas conosco, imitando nossas razões e emoções?
A criação de seres mecânicos que pudessem auxiliar seu criador de alguma forma existe desde as antigas histórias da mitologia greco-romana onde, Hefesto (ou Vulcano), deus dos ferreiros, criava, em suas forjas dentro de vulcões, servos de metal, muitas vezes em formas humanóides e, também, outros objetos que se moviam sozinhos (ambos chamados de autômatos), para que estes o ajudassem a produzir equipamentos para o olimpo, como o elmo do deus Hermes, por exemplo. E influenciados por essa e outras histórias e lendas é que os humanos começaram a tentar criar autômatos (ou robôs, como preferirem) para que estes também os ajudassem em tarefas mais difíceis e/ou impossíveis.
Robôs, por definição, são uma mistura de sensores, controles, cabos e programação. Eles pode ter diversas formas - muitas vezes formas e formatos indefinidos -, mas isso nunca foi uma regra. Aliás, aparentemente foi a ideia que menos foi seguida. Até mesmo nos tempos em que não havia tecnologia suficiente para a criação de robôs, algumas pessoas se meteram a criar projetos de autômatos e era possível notar, ao final dos rabiscos, desenhos e medidas que os revolucionários seres mecânicos tinham aparência humana. O mais famoso deles - e talvez o precursor de todos os andróides (robôs com forma de homem) - é o robô de Leonardo da Vinci, feito em 1495, resultado de pesquisas anatômicas, desenhos e ideias, como o Homem Vitruviano, vindas de seu diário e caderno de rascunhos.
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Séculos mais tarde, a autora Mary Shelley em seu livro "Frankenstein" fala sobre os princípios da alquimia e a criação de vida animada e inteligente através de materiais inanimados - mais ou menos o que o deus Hefesto já fazia, só que com outros materiais além de metais. E, para completar, em 1901 o autor L. Frank Baum com o seu best-seller "O Maravilhoso Mágico de Oz" deu uma pequena ideia de que seres autômatos poderiam se portar, viver e sentir como humanos normais. Afinal de contas não era o Homem de Lata que queria um coração para poder sentir amor?
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Tudo bem, vamos juntar o que nós temos até aqui: materiais inanimados com formas humanas que tem inteligência e sentimentos. Seria isso possível?
É fato que a inteligência artificial é algo desejado pelos humanos há tempos e, logo após a Segunda Guerra Mundial, cientistas começaram a desenvolver pesquisas sendo que a maioria delas dura até hoje e estão longe de ter uma conclusão, porque a tecnologia é cambiante e muitas de suas mudanças ocorrem de forma rápida abrindo assim novas ramificações de adaptações, pesquisas, estudos e planejamentos do uso da inteligência artificial em robôs e outras máquinas.
Fica claro que o uso dessa programação para deixar esses seres com um pouco de livre arbítrio é bom e mesmo que ainda haja limitações, já existe muita utilidade para esses robôs, principalmente nos campos de segurança e medicina. Porém, até onde é interessante usar essa inteligência que, em alguns casos, pode até falhar?
Na adaptação "Eu, robô" para o cinema - do livro de contos de mesmo nome, do autor de ficção-científica Isaac Asimov - o detetive Spooner (Will Smith), odeia os robôs e sua inteligência artificial, pois, num acidente, um robô que estava por perto preferiu salvar o detetive ao invés de salvar sua filha, porque segundo a análise feita pelo andróide, ela tinha menos chances de sobreviver.

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A justificativa para isso pode até parecer simples e você deve estar imaginando ela nesse exato momento: "o robô não salvou a menina porque ele não tem sentimentos e nem emoções". Exato! E é por isso que muitos especialistas - em destaque a EARL (emotion annotation and representation language) - estão tentando incluir emoções em nossos queridos andróides.
Fala-se de mapeamento de emoções desde os anos 80, quando Robert Plutchik, médico e psicólogo dos Estados Unidos, criou um diagrama chamado "A Rodas das Emoções". Nela, Plutchik classificou 8 emoções básicas - alegria, confiança, medo, surpresa, tristeza, nojo, raiva e intuição - dizendo que são emoções biológicas, ou seja, emoções com as quais nascemos. Para cada uma delas, o psicólogo deu dois níveis de variação, sendo um maior e outro menor. Por último, pra cada união de duas emoções, Plutchik classificou um sentimento. Intuição e alegria geram otimismo, por exemplo.
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Baseando-se na "Roda das Emoções" a EARL criou a sua tabela de emoções para incluir nas programações de sistemas de robôs e encontrou algumas emoções a mais que Plutchik. Enquanto o psicólogo classificou 32 emoções e sentimentos, a EARL, talvez numa visão um pouco mais atual, encontrou 48. Vale destacar algumas como: stress, vergonha, dúvida, frustração e inveja.
Por fim, fica a dúvida da real necessidade da existência de sentimentos para robôs. Será que essa capacidade de sentir não induziria os andróides a cometerem mais erros? Imagine só se um robô, executando um procedimento cirúrgico, com uma carga elevada de stress, dúvida, desespero e tensão de seu dia-a-dia, cometesse uma falha. Seria horrível, tanto para os humanos, quanto para o robô.
Aparentemente, fornecer sentimentos às máquinas só limitariam a sua grande capacidade e velocidade de processamento de informações e, com isso, elas não seriam mais do que realmente seres semelhantes aos homens com a mente lenta, fraca, pequena e fechada.
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* Um designer e mercadologista que adora arte, música, cinema, desenhos, stickers, grafitti, tecnologia, pokémon e starbucks. Além de uma paixão sem tamanho por livros
Fonte: http://lounge.obviousmag.org/nerdsgodance/2012/06/17

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