Lucas Benetti*
A criação de seres mecânicos que pudessem auxiliar seu criador de
alguma forma existe desde as antigas histórias da mitologia greco-romana
onde, Hefesto (ou Vulcano), deus dos ferreiros, criava, em suas forjas
dentro de vulcões, servos de metal, muitas vezes em formas humanóides e,
também, outros objetos que se moviam sozinhos (ambos chamados de
autômatos), para que estes o ajudassem a produzir equipamentos para o
olimpo, como o elmo do deus Hermes, por exemplo. E influenciados por
essa e outras histórias e lendas é que os humanos começaram a tentar
criar autômatos (ou robôs, como preferirem) para que estes também os
ajudassem em tarefas mais difíceis e/ou impossíveis.
Robôs, por definição, são uma mistura de sensores, controles, cabos e
programação. Eles pode ter diversas formas - muitas vezes formas e
formatos indefinidos -, mas isso nunca foi uma regra. Aliás,
aparentemente foi a ideia que menos foi seguida. Até mesmo nos tempos em
que não havia tecnologia suficiente para a criação de robôs, algumas
pessoas se meteram a criar projetos de autômatos e era possível notar,
ao final dos rabiscos, desenhos e medidas que os revolucionários seres
mecânicos tinham aparência humana. O mais famoso deles - e talvez o
precursor de todos os andróides (robôs com forma de homem) - é o robô de
Leonardo da Vinci, feito em 1495, resultado de pesquisas anatômicas,
desenhos e ideias, como o Homem Vitruviano, vindas de seu diário e
caderno de rascunhos.
Séculos mais tarde, a autora Mary Shelley em seu livro "Frankenstein"
fala sobre os princípios da alquimia e a criação de vida animada e
inteligente através de materiais inanimados - mais ou menos o que o deus
Hefesto já fazia, só que com outros materiais além de metais. E, para
completar, em 1901 o autor L. Frank Baum com o seu best-seller "O
Maravilhoso Mágico de Oz" deu uma pequena ideia de que seres autômatos
poderiam se portar, viver e sentir como humanos normais. Afinal de
contas não era o Homem de Lata que queria um coração para poder sentir
amor?
Tudo bem, vamos juntar o que nós temos até aqui: materiais inanimados
com formas humanas que tem inteligência e sentimentos. Seria isso
possível?
É fato que a inteligência artificial é algo desejado pelos humanos há
tempos e, logo após a Segunda Guerra Mundial, cientistas começaram a
desenvolver pesquisas sendo que a maioria delas dura até hoje e estão
longe de ter uma conclusão, porque a tecnologia é cambiante e muitas de
suas mudanças ocorrem de forma rápida abrindo assim novas ramificações
de adaptações, pesquisas, estudos e planejamentos do uso da inteligência
artificial em robôs e outras máquinas.
Fica claro que o uso dessa programação para deixar esses seres com um
pouco de livre arbítrio é bom e mesmo que ainda haja limitações, já
existe muita utilidade para esses robôs, principalmente nos campos de
segurança e medicina. Porém, até onde é interessante usar essa
inteligência que, em alguns casos, pode até falhar?
Na adaptação "Eu, robô" para o cinema - do livro de contos de mesmo
nome, do autor de ficção-científica Isaac Asimov - o detetive Spooner
(Will Smith), odeia os robôs e sua inteligência artificial, pois, num
acidente, um robô que estava por perto preferiu salvar o detetive ao
invés de salvar sua filha, porque segundo a análise feita pelo andróide,
ela tinha menos chances de sobreviver.
A justificativa para isso pode até parecer simples e você deve estar imaginando ela nesse exato momento: "o robô não salvou a menina porque ele não tem sentimentos e nem emoções". Exato! E é por isso que muitos especialistas - em destaque a EARL (emotion annotation and representation language) - estão tentando incluir emoções em nossos queridos andróides.
Fala-se de mapeamento de emoções desde os anos 80, quando Robert
Plutchik, médico e psicólogo dos Estados Unidos, criou um diagrama
chamado "A Rodas das Emoções". Nela, Plutchik classificou 8 emoções
básicas - alegria, confiança, medo, surpresa, tristeza, nojo, raiva e
intuição - dizendo que são emoções biológicas, ou seja, emoções com as
quais nascemos. Para cada uma delas, o psicólogo deu dois níveis de
variação, sendo um maior e outro menor. Por último, pra cada união de
duas emoções, Plutchik classificou um sentimento. Intuição e alegria
geram otimismo, por exemplo.
Baseando-se na "Roda das Emoções" a EARL criou a sua tabela de
emoções para incluir nas programações de sistemas de robôs e encontrou
algumas emoções a mais que Plutchik. Enquanto o psicólogo classificou 32
emoções e sentimentos, a EARL, talvez numa visão um pouco mais atual,
encontrou 48. Vale destacar algumas como: stress, vergonha, dúvida,
frustração e inveja.
Por fim, fica a dúvida da real necessidade da existência de
sentimentos para robôs. Será que essa capacidade de sentir não induziria
os andróides a cometerem mais erros? Imagine só se um robô, executando
um procedimento cirúrgico, com uma carga elevada de stress, dúvida,
desespero e tensão de seu dia-a-dia, cometesse uma falha. Seria
horrível, tanto para os humanos, quanto para o robô.
Aparentemente, fornecer sentimentos às máquinas só limitariam a sua
grande capacidade e velocidade de processamento de informações e, com
isso, elas não seriam mais do que realmente seres semelhantes aos homens
com a mente lenta, fraca, pequena e fechada.
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