LUTO
Tiziana Marrone (de preto) lidera a marcha
das viúvas em Bolonha, na Itália
Aumento do número de suicídios motivados por razões econômicas levanta uma delicada questão: será que os planos de austeridades não estão indo longe demais?
Mariana Queiroz Barboza
No início de junho, o empresário Renzo Menin, 60 anos, decidiu acabar
com sua vida se atirando da ponte Stocco, em Pádua, na Itália. Pouco
menos de um mês antes, um homem de 53 anos, desempregado, fez o mesmo na
província de Ancona, saltando da varanda do terceiro andar de sua casa.
Em Salerno, Generoso Armenante, ex-segurança de 49 anos, se enforcou
depois de um almoço em família. Em comum na história desses italianos, a
falta de perspectiva e o sofrimento causado pela incapacidade de honrar
suas dívidas, reflexo direto da crise econômica que atinge a Europa.
Menin, pouco antes de ir à ponte, recebera uma notificação da Equitalia,
empresa pública responsável pela cobrança dos impostos no país, de que
sua dívida com o fisco chegava a 117 mil euros. O homem de Ancona, cujo
nome não foi divulgado, vinha de um profundo quadro de depressão
agravado pela falta de emprego e pelo fim de seu casamento. Estava
sozinho em casa quando saltou da varanda, mas foi encontrado pelo
próprio filho na calçada. Armenante estava sem trabalho há um ano e meio
e era ameaçado de despejo. Deixou no bolso um bilhete: “Decidi acabar
com minha vida porque sou um fracasso. Não posso mais viver sem
trabalho”.
Desde o início de 2012, 80 pessoas tiveram suas mortes ligadas à crise econômica na Itália. Segundo o instituto de pesquisas Eures, o número de suicídios está em ascensão desde 2008, quando os primeiros efeitos do colapso financeiro começaram a surgir. Assim que o premiê Mario Monti assumiu o poder na terceira maior economia da zona do euro, no fim de 2011, uma série de medidas de austeridade entrou em vigor para reduzir os gastos públicos e assegurar a saúde financeira do governo. Os serviços públicos foram cortados e os impostos subiram. Enquanto o desemprego chegava a níveis recordes (em abril, ficou em 10,2%), o custo de vida aumentava. Com o objetivo de chamar a atenção para o drama, em maio, um grupo de viúvas de suicidas organizou uma marcha na cidade de Bolonha. A líder do grupo, Tiziana Marrone, era casada com o artesão Giuseppe Campaniello, que atirou fogo em si na calçada em frente a um escritório da Equitalia. Durante o protesto, Tiziana disse: “Não queremos terminar como a Grécia”.
Desde o início de 2012, 80 pessoas tiveram suas mortes ligadas à crise econômica na Itália. Segundo o instituto de pesquisas Eures, o número de suicídios está em ascensão desde 2008, quando os primeiros efeitos do colapso financeiro começaram a surgir. Assim que o premiê Mario Monti assumiu o poder na terceira maior economia da zona do euro, no fim de 2011, uma série de medidas de austeridade entrou em vigor para reduzir os gastos públicos e assegurar a saúde financeira do governo. Os serviços públicos foram cortados e os impostos subiram. Enquanto o desemprego chegava a níveis recordes (em abril, ficou em 10,2%), o custo de vida aumentava. Com o objetivo de chamar a atenção para o drama, em maio, um grupo de viúvas de suicidas organizou uma marcha na cidade de Bolonha. A líder do grupo, Tiziana Marrone, era casada com o artesão Giuseppe Campaniello, que atirou fogo em si na calçada em frente a um escritório da Equitalia. Durante o protesto, Tiziana disse: “Não queremos terminar como a Grécia”.
VÍTIMAS DA ECONOMIA
Família dorme na calçada em Atenas, na Grécia: a austeridade gerada
pela recessão fez o índice de suicídios dobrar no país nos últimos três anos
Antes um dos países com o menor índice de
suicídio, a Grécia viu suas taxas dobrar nos últimos três anos. O caso
mais emblemático é o do aposentado Dimitris Christoulas, 77 anos, que
chocou o mundo numa manhã de abril, quando disparou um tiro de pistola
na cabeça. O local escolhido foi a praça Sintagma, em Atenas, bem em
frente ao Parlamento. Em sua carta de despedida, Christoulas escreveu:
“Não me resta nenhuma solução exceto colocar um fim decente à minha vida
antes de ser forçado a procurar comida no lixo e de ser um fardo para
os meus filhos”. O final trágico segue um roteiro previsível. A crise
provoca mudanças no ambiente macroeconômico (aumento do desemprego, das
dívidas domésticas e da desigualdade de renda), o que implica respostas
políticas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), essas respostas
são determinantes para o agravamento ou a suavização de fatores de
risco para a saúde mental. Em geral, cada aumento de 1% no desemprego é
associado a uma alta de 0,79% nos suicídios de pessoas de até 65 anos.
“A austeridade está intimamente relacionada ao aumento de suicídios”,
disse à ISTOÉ Paul Corcoran, diretor da Fundação Nacional para Pesquisas
em Suicídio, da Irlanda. “Investir em criação de empregos e serviços
sociais reduz o impacto da recessão.” Segundo o especialista, a polícia
irlandesa intensificou nos últimos meses a patrulha em conhecidos
locais de suicídios, como os cais de Dublin e Cork.
Relatório da OMS mostra que, na Finlândia e na Suécia, períodos de profunda recessão não aumentaram as taxas de suicídio porque os benefícios sociais foram mantidos e, em alguns casos, até subiram. A regra, porém, é outra. A crise asiática de 1997 e 1998 foi responsável por dez mil mortes em Hong Kong, no Japão e na Coreia. Nos Estados Unidos, a crise de 1929, conhecida também como Grande Depressão, levou a um aumento de 22,8% nos suicídios até 1932 – maior avanço observado num período de quatro anos, de acordo com o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), de Atlanta. Alex Crosby, médico do CDC, disse à ISTOÉ que os homens, entre 25 e 64 anos, são quatro vezes mais propensos ao suicídio motivado por razões econômicas do que as mulheres. O medo de perder o emprego e o comprometimento da renda com dívidas são fatores de estresse. Os números relacionados às mortes demoram cerca de dois anos para serem oficializados, mas, pelas suas observações, Crosby afirma: “O padrão se repete na crise atual”.
Relatório da OMS mostra que, na Finlândia e na Suécia, períodos de profunda recessão não aumentaram as taxas de suicídio porque os benefícios sociais foram mantidos e, em alguns casos, até subiram. A regra, porém, é outra. A crise asiática de 1997 e 1998 foi responsável por dez mil mortes em Hong Kong, no Japão e na Coreia. Nos Estados Unidos, a crise de 1929, conhecida também como Grande Depressão, levou a um aumento de 22,8% nos suicídios até 1932 – maior avanço observado num período de quatro anos, de acordo com o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), de Atlanta. Alex Crosby, médico do CDC, disse à ISTOÉ que os homens, entre 25 e 64 anos, são quatro vezes mais propensos ao suicídio motivado por razões econômicas do que as mulheres. O medo de perder o emprego e o comprometimento da renda com dívidas são fatores de estresse. Os números relacionados às mortes demoram cerca de dois anos para serem oficializados, mas, pelas suas observações, Crosby afirma: “O padrão se repete na crise atual”.
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Fonte:http://www.istoe.com.br/reportagens/218103_A+EUROPA+EM+DEPRESSAO
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