Em
entrevista exclusiva, o intectual aborda, dentre outros, temas como
ativismo de minorias, supremacia de teses socialistas no mundo cultural e
religiosidade.
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M@M
— O senhor acha que hoje vivemos algo parecido a uma “tirania das
minorias”, onde uma série de grupos minoritários brigam por “direitos
especiais” acima das pessoas comuns? Por exemplo, os ciclistas em São
Paulo, que reivindicam o tempo todo mas parecem não ser capazes de
respeitar sinais de trânsito como os carros e pedestres comuns? Se a
bandeira política de outros tempos era “igualdade”, hoje é “privilégio”?
PONDÉ: De
certa forma sim, mas acho que isso é resultado de uma sociedade
excessivamente cheia de gente e de interesses; tem que fazer engenharias
de acomodação de interesses sociais o tempo todo; o que julgo pior
nisso, é que casos como o dos ciclistas. Acho ótimo quem pode ir
trabalhar de bike, nada contra e acho que deve haver uma regulamentação
para isso – são comumentemente acompanhados de um senso de superioridade
moral do tipo “ando de bike, estou salvanado o mundo, por isso sou
melhor que você”. Isso é muito comum hoje em dia. Mas, de certa forma,
sempre foi assim, quem acha que faz o bem, se acha superior.
M@M —
Há uma noção moderna, e disseminada especialmente pelo cinema e pela
literatura, de que a “repressão” (especialmente a de natureza sexual) é a
responsável por boa parte dos males humanos e suas infelicidades. O
senhor acha que tal noção é verdadeira? A chamada “Revolução Sexual” foi
realmente “libertadora”?
PONDÉ: Sem
repressão não há tesão. O pecado é um afrodisíaco. A revolução sexual
foi um fenômeno da classe média americana junto com a pílula. Há algo de
verdadeiro nela, principalmente em termos de marketing de comportamento
e de vestuário. Mas não acho que ela implica em mais sexo ou em melhor
qualidade de sexo; acho que há 100 anos se fazia mais sexo que hoje.
M@M
— Após o fim do regime militar, percebemos a predominância praticamente
absoluta do pensamento de esquerda, marxista, no meio universitário, na
imprensa, entre os artistas e “formadores de opinião”, etc., uma
tendência que acaba se refletindo também no campo político-partidário. O
senhor acha possível que uma verdadeira “democracia” conviva com tal
ausência de debate ideológico? Como combater ou diminuir os efeitos do
“pensamento único”, especialmente quando pensamos no ambiente acadêmico,
todo regido por grades curriculares, regimentos, ementas e portarias?
PONDÉ: Primeiro
dando aos alunos a chance de lerem mais autores que não os marxistas. A
democracia vive bem sem debate ideológico, mas hoje ela é um regime de
massa e de espetáculos ideológicos e não discussão. Acho que a principal
dificuldade na Democracia é a natureza humana que não se resolve
politicamente: somos medrosos, ressentidos, vaidosos… a generosidade e a
coragem não se ensinam politicamente; necessitamos de mais diálogo
moral e não só político.
M@M
— Hoje em dia, o movimento feminista parece confundir-se com outros
movimentos mais predominantes na esquerda, tais como a defesa do aborto,
a luta contra o “imperialismo”, contra Israel, contra o embargo a Cuba,
etc.? Não é irônico (ou trágico, enfim) que uma feminista empunhe
bandeiras contra a presença de americanos no Oriente Médio, ou que fique
ao lado dos palestinos contra Israel, sabendo-se que as mulheres têm
infinitamente mais direitos nos EUA e em Israel do que em qualquer país
muçulmano?
PONDÉ: Claro
e é ridículo! Mas isso é fruto da natureza fundamentalista do movimento
feminista. Sua radicalidade religioso-fanática faz isso com ele.
Esquecem as mulheres e embarcam em projetos utópicos monstruosos como
qualquer fanático religioso…
M@M
— O senhor acredita em Deus? O senhor acha possível compatibilizar a
crença no Deus bíblico com a prática científica e com o ambiente
acadêmico? E como o senhor vê a “substituição”, de certa forma proposta
pela modernidade e que hoje resultou em fenômenos muito perceptíveis em
nossa sociedade, como quando os jovens (e mesmo muitos adultos) trocam o
culto a Deus por outros cultos (a celebridades, bandas de música,
astros de cinema, ou mesmo a Che Guevara)?
PONDÉ: Chesterton
dizia que o problema em parar de acreditar em Deus é que começamos a
acreditar em qualquer coisa em seu lugar, como as que você citou. A
ciência não tem nada a dizer sobre Deus porque Deus não é uma variável
sob controle epistemológico. Não dá para testar Deus em um laboratório,
mas há uma tendência de alguns cientistas de ficarem ateus por conta do
ônus da prova da existência de Deus; de Deus ser dos crentes. Outro
argumento contra a existência de Deus é o chamado ARGUMENTO DO MAL: se
Deus é bom e o mundo é mal, há algo de errado na premissa. Quanto a mim,
acho o ateísmo mais provável como hipótese filosófica. Não sou
religioso, não acho que a vida tenha algum grande sentido, mas acho o
conceito de Deus bíblico elegante e fascinante.
M@M — Em relação à Igreja Católica, como o senhor vê o fenômeno da Teologia da Libertação?
PONDÉ: Vejo
como uma resposta à miséria latino-americana, um modo de ler o carisma
profético do cristianismo usando a hermenêutica marxista, um fato do
contexto histórico dos anos 60 e 70. Mas acho uma lástima em termos
intelectuais e teológicos porque reduziu a teologia à pastoral sindical,
político-partidária e a modas da esquerda mundial, do tipo teologia
feminista, teologia gay, teologia verde; isso não significa que não
devemos dar atenção a esses temas, o que critico é a tendência, as
obssessões da teologia ao se tornar uma vassala do marxismo atenuado que
ela usa.
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Por: Maria Júlia Ferraz | Fonte: MÍDIA@MAIS (15/06/2012)
Fonte: http://luizfelipeponde.wordpress.com/2012/06/29/ponde-em-entrevista-a-midiamais/
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