Patrick Brock
Suponha que a literatura existe por um motivo biológico crucial: para
permitir que o ser humano simule situações e aprenda com elas. Esse
mecanismo cognitivo permite que você viva a experiência de seduzir a
mulher de um homem poderoso sem correr nenhum risco, por exemplo, ou
vivencie uma grande batalha sem se ferir. Mais que um universo
imaginário onde nos lançamos por puro prazer, a narrativa pode ter um
papel importante na evolução.
Essas e outras teorias do professor de literatura Jonathan Gottschall, do Washington & Jefferson College, a 48 km de Pittsburgh, na Pensilvânia, integram a mais nova investida das ciências exatas no campo das humanas. Esse casamento causou polêmica alguns anos atrás e ainda é alvo de críticas, como frequentemente ocorre no surgimento de tendências inovadoras na interpretação da subjetividade literária. Considerada por alguns uma ameaça ao progresso obtido por tendências contemporâneas como o pós-estruturalismo e o novo historicismo, essa tendência vem atraindo interesse crescente do público e das editoras.
Gottschall ficou mais conhecido no Brasil recentemente por sua experiência de imersão em esportes como o vale-tudo, numa tentativa de compreender a fascinação pela violência. Gottschall lançou em abril o livro "The Storytelling Animal: How Stories Make Us Human" (Houghton Mifflin Harcourt, 272 págs., US$ 14,45) em que emprega uma abordagem mais amigável ao leitor comum para explicar suas teorias sobre os efeitos da literatura e seu papel na evolução do homem. Para o público acadêmico, Gottschall lançou em maio "Graphing Jane Austen: The Evolutionary Basis of Literary Meaning" (Palgrave Macmillan, 318 págs., US$ 74,79), em que se uniu a outros pesquisadores para provar que os romances da britânica Jane Austen (1775-1817), seja por meio de suas personagens ou tramas, exibem características darwinistas importantes que podem ajudar a decifrar a verdadeira função da literatura.
Em "The Storytelling Animal", Gottschall procura explicar uma das grandes perguntas a que chegou em seus estudos: por que os seres humanos criam histórias? "A narrativa é tão básica para nossa existência, está tão presente em nossas vidas, que a maioria de nós não percebe. A narrativa, do ponto de vista puramente biológico, parece uma grande perda de tempo, passamos tanto tempo de nossas vidas em mundos imaginários. Então por que fazemos isso?", questiona.
Com base na teoria evolucionista, Gottschall propõe a hipótese da simulação para explicar a importância da narrativa. Enquanto alguns acham que a capacidade narrativa do ser humano é nada mais que um grande acidente da evolução sem nenhum benefício ao seu processo, o professor defende que há um benefício evolutivo oculto que ajuda a própria humanidade a sobreviver. Para isso, a narrativa seguiria uma estrutura habitual de problema e solução. Como um simulador que ensina alguém a pilotar, a literatura permite que enfrentemos possíveis problemas e achemos a solução. Assim, é possível viver a experiência e até aprender com ela, mas sem correr os riscos.
"Um exemplo é que a leitura nos permite viver a experiência de seduzir a mulher de um homem poderoso, algo perigoso, mas sem enfrentarmos os riscos. Isso ainda é uma teoria, mas me parece que é consistente com as evidências disponíveis", diz.
Como provar essa hipótese empiricamente é a questão crucial, admite o pesquisador. Gottschall cita estudos da Universidade de Toronto comandados pelo professor Keith E. Stanovich que tentam testar a hipótese da simulação. Também já existem estudos mostrando que as pessoas que leem mais se saem melhor em diversas tarefas e até ampliam a empatia. Um exemplo é a pesquisa conduzida pela professora da Universidade de Kentucky Lisa Zunshine.
Financiada pela Fundação Teagle, Lisa investigou como estudantes universitários processam a leitura. O estudo usou equipamentos de ressonância magnética funcional para observar em tempo real a atividade cerebral. "Esse é o tipo de pesquisa que eu gostaria de ver - é exatamente o que eu defendo há anos", Gottschall diz. "Precisamos derrubar esse muro entre as ciências exatas e as humanas para solucionar essa questões, precisamos que professores de humanas cruzem essa barreira e aprendam métodos científicos", acrescenta.
Gottschall argumenta que a ficção é poderosa - para o bem ou o mal. "Temos essa noção de que entramos nos mundos literários e é algo divertido, mas saímos deles da mesma maneira que entramos. Estamos exagerando nossa imunidade para a ficção, porque ela realmente muda as pessoas. Mas não devemos nos convencer de que a literatura é totalmente boa - ela é uma ferramenta que as pessoas podem usar para propagar qualquer tipo de ideia que queiram, pois quando você lê uma obra de ficção abandona o ceticismo e se torna mais maleável à mensagem da narrativa."
Gottschall admite que seus estudos sobre o poder da narrativa podem
parecer uma grande invenção da roda, porque é evidente que as histórias
sempre mudaram o mundo, do abolicionismo inspirado por "A Cabana do Pai
Tomás", de Harriet Beecher Stowe, ao belicismo revanchista de "Minha
Luta", de Adolf Hitler. Mas, com base em suas pesquisas, ele sustenta
que "se você quer que uma mensagem realmente se enterre no cérebro
humano, não mostre uma tabela ou uma apresentação de Powerpoint, mas
conte uma história, porque é nesse momento que estamos vulneráveis".
Numa entrevista ao Valor no Riverside Park, próximo à Universidade Columbia, Lisa Zunshine diz acreditar que seu trabalho está sendo cada vez mais aceito e cita como exemplo a petição que ela e cinco colegas apresentaram há alguns anos à Modern Language Association, a principal associação americana de professores de literatura, sugerindo a criação de um novo grupo voltado à abordagem cognitiva. O pedido foi aceito e a discussão começou com 250 membros.
Atualmente, o grupo conta com mais de 2 mil integrantes e também consegue emplacar todo ano uma mesa de debates na altamente competitiva reunião anual da MLA. Lisa, que foi agraciada com uma bolsa da Fundação Guggenheim de 2007 a 2009 para passar um semestre como professora visitante no departamento de psicologia da Universidade de Yale, também diz que várias editoras têm demonstrado interesse em publicar livros sobre abordagens cognitivas dos estudos literários, sua especialidade, e que o campo ganha cada vez mais vertentes, como a narratologia cognitiva e a neuroestética.
Lisa acredita que o estudo cognitivo da literatura pode ser útil para
o mundo dos negócios. Isso porque, segundo ela, os psicólogos
cognitivos buscam compreender a maneira como as pessoas interpretam
diferentes estados da mente, seja por meio da observação ou por outros
indícios. Para entender qualquer obra de ficção, por exemplo, é preciso
compreender o estado mental dos personagens, num jogo complexo em que
buscamos adivinhar o que outras pessoas acham que os outros estão
pensando e assim por diante, até o quinto nível desse relacionamento,
quando a compreensão se torna impossível. "Se você quiser tornar um
modelo empresarial mais convincente, pode incorporar o conhecimento
sobre esses diferentes estados mentais na sua explicação", afirma.
Na literatura, conta Lisa, o processo é o mesmo, pois "quando falamos de emoções ou pensamentos, essa narrativa se torna mais interessante do que se fosse contada com uma simples descrição."
Keith Gandal, professor de literatura da Universidade da Cidade de Nova York, integra a facção de pesquisadores que questiona o uso de teorias científicas para explicar acontecimentos na literatura ou na história. "Minha crítica ao evolucionismo na literatura não é que ele usa a ciência, mas que ele o faz de maneira anticientífica ou contra o método científico. Ele trabalha pela dedução e não pela indução. Assim, o evolucionismo na literatura me parece tão 'leviano' quanto os estudos literários que quer substituir", comenta o professor.
Gandal alerta para um possível perigo do uso do evolucionismo na interpretação de obras de ficção: o de uma teoria ser usada para explicar tudo. Ele cita um exemplo do pensamento do filósofo francês Michel Foucault, seu mentor na Universidade de Berkeley, para suscitar o que considera ser o problema.
Num ensaio chamado "Two Lectures", na coletânea "Power/Knowledge" (Vintage, 288 págs., US$ 10,44), Foucault questiona o uso do marxismo e da teoria da dominação da classe burguesa como ferramenta para explicar todos as questões, inclusive a repressão da sexualidade infantil. "Essas deduções sempre são possíveis. Elas são simultaneamente corretas e falsas. Acima de tudo, elas são superficiais demais, porque sempre é possível fazer o oposto e mostrar precisamente pelo apelo do princípio da dominância da classe burguesa que as formas de controle da sexualidade infantil jamais poderiam ser previstas", escreveu o filósofo francês.
Para Gandal, o mesmo problema se apresenta na aplicação da teoria evolucionista à literatura ou à história. O darwinismo sempre pode explicar o surgimento e as características do modernismo americano ou da mobilização americana para a Primeira Guerra, um dos temas pesquisados por Gandal, mas também pode provar exatamente o oposto, de que a teoria evolucionista poderia ter previsto um tipo diferente de mobilização para a guerra e um tipo diferente de literatura. "Aplicar uma teoria ou usar a dedução não me parece esclarecedor ou interessante. É 'bobo' precisamente porque pode ser feito sem pesquisas históricas e sem rigor", observa.
O professor defende a ideia de que um dos principais objetivos dos estudos literários é descobrir coisas que ainda não sabemos para tentar responder a perguntas reais. E a única maneira de fazer isso seria pela indução, começando com um questionamento real cuja resposta ainda não é conhecida. Assim, o pesquisador estabelece o que considera as regras do jogo para os estudos literários: "Por que essas obras-primas do modernismo americano surgiram nesse período? Por que têm similaridades na trama e nos personagens? Por que compartilham algumas características estilísticas parecidas? E a partir daí tentar responder a essas perguntas por meio da pesquisa histórica, tentando recriar o contexto da história para reconstruir a imprevisível confluência de acontecimentos e forças históricas que moldaram um conjunto de obras".
Gottschall diz que, apesar de ainda haver estudiosos que rejeitem suas teorias, há interesse crescente do público por novas abordagens dos estudos literários. A forte reação dos acadêmicos de literatura "é a história mais antiga do mundo", reflete. "Hoje em dia, elas [as críticas] são mais no sentido de que eu quero voltar no tempo e apagar todo esse progresso que fizemos. Dizem até que eu odeio a literatura - pois, para eles, se você leva a biologia para a literatura, quer destruir a literatura, você só quer triturá-la em sua máquina científica. É basicamente uma ideia supersticiosa de que se você consegue explicar algo acaba com a mágica que faz aquilo funcionar."
Por outro lado, Gottschall conta que recebeu um apoio muito forte dos estudiosos da ciência e da psicologia, "pessoas que têm uma mente mais empírica, que se decepcionaram com o pós-modernismo meio louco das humanidades".
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Fonte: Valor Econômico on line, 222/06/2012
Essas e outras teorias do professor de literatura Jonathan Gottschall, do Washington & Jefferson College, a 48 km de Pittsburgh, na Pensilvânia, integram a mais nova investida das ciências exatas no campo das humanas. Esse casamento causou polêmica alguns anos atrás e ainda é alvo de críticas, como frequentemente ocorre no surgimento de tendências inovadoras na interpretação da subjetividade literária. Considerada por alguns uma ameaça ao progresso obtido por tendências contemporâneas como o pós-estruturalismo e o novo historicismo, essa tendência vem atraindo interesse crescente do público e das editoras.
Gottschall ficou mais conhecido no Brasil recentemente por sua experiência de imersão em esportes como o vale-tudo, numa tentativa de compreender a fascinação pela violência. Gottschall lançou em abril o livro "The Storytelling Animal: How Stories Make Us Human" (Houghton Mifflin Harcourt, 272 págs., US$ 14,45) em que emprega uma abordagem mais amigável ao leitor comum para explicar suas teorias sobre os efeitos da literatura e seu papel na evolução do homem. Para o público acadêmico, Gottschall lançou em maio "Graphing Jane Austen: The Evolutionary Basis of Literary Meaning" (Palgrave Macmillan, 318 págs., US$ 74,79), em que se uniu a outros pesquisadores para provar que os romances da britânica Jane Austen (1775-1817), seja por meio de suas personagens ou tramas, exibem características darwinistas importantes que podem ajudar a decifrar a verdadeira função da literatura.
As histórias sempre mudaram o mundo, do
abolicionismo inspirado por "A Cabana do Pai Tomás" ao belicismo de
"Minha Luta", de Hitler
Em "The Storytelling Animal", Gottschall procura explicar uma das grandes perguntas a que chegou em seus estudos: por que os seres humanos criam histórias? "A narrativa é tão básica para nossa existência, está tão presente em nossas vidas, que a maioria de nós não percebe. A narrativa, do ponto de vista puramente biológico, parece uma grande perda de tempo, passamos tanto tempo de nossas vidas em mundos imaginários. Então por que fazemos isso?", questiona.
Com base na teoria evolucionista, Gottschall propõe a hipótese da simulação para explicar a importância da narrativa. Enquanto alguns acham que a capacidade narrativa do ser humano é nada mais que um grande acidente da evolução sem nenhum benefício ao seu processo, o professor defende que há um benefício evolutivo oculto que ajuda a própria humanidade a sobreviver. Para isso, a narrativa seguiria uma estrutura habitual de problema e solução. Como um simulador que ensina alguém a pilotar, a literatura permite que enfrentemos possíveis problemas e achemos a solução. Assim, é possível viver a experiência e até aprender com ela, mas sem correr os riscos.
"Um exemplo é que a leitura nos permite viver a experiência de seduzir a mulher de um homem poderoso, algo perigoso, mas sem enfrentarmos os riscos. Isso ainda é uma teoria, mas me parece que é consistente com as evidências disponíveis", diz.
Como provar essa hipótese empiricamente é a questão crucial, admite o pesquisador. Gottschall cita estudos da Universidade de Toronto comandados pelo professor Keith E. Stanovich que tentam testar a hipótese da simulação. Também já existem estudos mostrando que as pessoas que leem mais se saem melhor em diversas tarefas e até ampliam a empatia. Um exemplo é a pesquisa conduzida pela professora da Universidade de Kentucky Lisa Zunshine.
Financiada pela Fundação Teagle, Lisa investigou como estudantes universitários processam a leitura. O estudo usou equipamentos de ressonância magnética funcional para observar em tempo real a atividade cerebral. "Esse é o tipo de pesquisa que eu gostaria de ver - é exatamente o que eu defendo há anos", Gottschall diz. "Precisamos derrubar esse muro entre as ciências exatas e as humanas para solucionar essa questões, precisamos que professores de humanas cruzem essa barreira e aprendam métodos científicos", acrescenta.
Gottschall argumenta que a ficção é poderosa - para o bem ou o mal. "Temos essa noção de que entramos nos mundos literários e é algo divertido, mas saímos deles da mesma maneira que entramos. Estamos exagerando nossa imunidade para a ficção, porque ela realmente muda as pessoas. Mas não devemos nos convencer de que a literatura é totalmente boa - ela é uma ferramenta que as pessoas podem usar para propagar qualquer tipo de ideia que queiram, pois quando você lê uma obra de ficção abandona o ceticismo e se torna mais maleável à mensagem da narrativa."
A literatura funciona desde o início como um
simulador. Por meio dela, o leitor pode enfrentar problemas sem riscos e
conhecer outras realidades
Numa entrevista ao Valor no Riverside Park, próximo à Universidade Columbia, Lisa Zunshine diz acreditar que seu trabalho está sendo cada vez mais aceito e cita como exemplo a petição que ela e cinco colegas apresentaram há alguns anos à Modern Language Association, a principal associação americana de professores de literatura, sugerindo a criação de um novo grupo voltado à abordagem cognitiva. O pedido foi aceito e a discussão começou com 250 membros.
Atualmente, o grupo conta com mais de 2 mil integrantes e também consegue emplacar todo ano uma mesa de debates na altamente competitiva reunião anual da MLA. Lisa, que foi agraciada com uma bolsa da Fundação Guggenheim de 2007 a 2009 para passar um semestre como professora visitante no departamento de psicologia da Universidade de Yale, também diz que várias editoras têm demonstrado interesse em publicar livros sobre abordagens cognitivas dos estudos literários, sua especialidade, e que o campo ganha cada vez mais vertentes, como a narratologia cognitiva e a neuroestética.
Na literatura, conta Lisa, o processo é o mesmo, pois "quando falamos de emoções ou pensamentos, essa narrativa se torna mais interessante do que se fosse contada com uma simples descrição."
Keith Gandal, professor de literatura da Universidade da Cidade de Nova York, integra a facção de pesquisadores que questiona o uso de teorias científicas para explicar acontecimentos na literatura ou na história. "Minha crítica ao evolucionismo na literatura não é que ele usa a ciência, mas que ele o faz de maneira anticientífica ou contra o método científico. Ele trabalha pela dedução e não pela indução. Assim, o evolucionismo na literatura me parece tão 'leviano' quanto os estudos literários que quer substituir", comenta o professor.
Gandal alerta para um possível perigo do uso do evolucionismo na interpretação de obras de ficção: o de uma teoria ser usada para explicar tudo. Ele cita um exemplo do pensamento do filósofo francês Michel Foucault, seu mentor na Universidade de Berkeley, para suscitar o que considera ser o problema.
Num ensaio chamado "Two Lectures", na coletânea "Power/Knowledge" (Vintage, 288 págs., US$ 10,44), Foucault questiona o uso do marxismo e da teoria da dominação da classe burguesa como ferramenta para explicar todos as questões, inclusive a repressão da sexualidade infantil. "Essas deduções sempre são possíveis. Elas são simultaneamente corretas e falsas. Acima de tudo, elas são superficiais demais, porque sempre é possível fazer o oposto e mostrar precisamente pelo apelo do princípio da dominância da classe burguesa que as formas de controle da sexualidade infantil jamais poderiam ser previstas", escreveu o filósofo francês.
Para Gandal, o mesmo problema se apresenta na aplicação da teoria evolucionista à literatura ou à história. O darwinismo sempre pode explicar o surgimento e as características do modernismo americano ou da mobilização americana para a Primeira Guerra, um dos temas pesquisados por Gandal, mas também pode provar exatamente o oposto, de que a teoria evolucionista poderia ter previsto um tipo diferente de mobilização para a guerra e um tipo diferente de literatura. "Aplicar uma teoria ou usar a dedução não me parece esclarecedor ou interessante. É 'bobo' precisamente porque pode ser feito sem pesquisas históricas e sem rigor", observa.
O professor defende a ideia de que um dos principais objetivos dos estudos literários é descobrir coisas que ainda não sabemos para tentar responder a perguntas reais. E a única maneira de fazer isso seria pela indução, começando com um questionamento real cuja resposta ainda não é conhecida. Assim, o pesquisador estabelece o que considera as regras do jogo para os estudos literários: "Por que essas obras-primas do modernismo americano surgiram nesse período? Por que têm similaridades na trama e nos personagens? Por que compartilham algumas características estilísticas parecidas? E a partir daí tentar responder a essas perguntas por meio da pesquisa histórica, tentando recriar o contexto da história para reconstruir a imprevisível confluência de acontecimentos e forças históricas que moldaram um conjunto de obras".
Gottschall diz que, apesar de ainda haver estudiosos que rejeitem suas teorias, há interesse crescente do público por novas abordagens dos estudos literários. A forte reação dos acadêmicos de literatura "é a história mais antiga do mundo", reflete. "Hoje em dia, elas [as críticas] são mais no sentido de que eu quero voltar no tempo e apagar todo esse progresso que fizemos. Dizem até que eu odeio a literatura - pois, para eles, se você leva a biologia para a literatura, quer destruir a literatura, você só quer triturá-la em sua máquina científica. É basicamente uma ideia supersticiosa de que se você consegue explicar algo acaba com a mágica que faz aquilo funcionar."
Por outro lado, Gottschall conta que recebeu um apoio muito forte dos estudiosos da ciência e da psicologia, "pessoas que têm uma mente mais empírica, que se decepcionaram com o pós-modernismo meio louco das humanidades".
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Fonte: Valor Econômico on line, 222/06/2012
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