Em "Prometheus", Ridley Scott responde ao enigma de Alien e lança novas perguntas
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fox / Divulgação
Após 33 anos do filme épico do diretor, "Alien – O Oitavo Passageiro", Ridley Scott volta às telas com "Prometheus"
Ridley Scott nunca gastou tanto dinheiro em sua carreira, mas estava
sereno ao conversar com a reportagem, na capital inglesa, sobre
Prometheus. Durante muito tempo se falou no retorno do diretor a seu
filme mítico, Alien – O Oitavo Passageiro, de 1979. O próprio título,
Scott reconhece, é simbólico. Prometeu, o herói mitológico, roubou o
fogo de Zeus para dá-lo aos homens e foi punido pelo deus. Prometheus, o
filme, parece que vai responder ao enigma de Alien e lança novas
perguntas. O filme promete mais do que cumpre, mas impressiona,
principalmente pelo visual.
Pergunta – Por que voltar a Alien, 33 anos depois?
Ridley Scott – De todas as minhas criações, Alien foi a
que mais se instalou no imaginário coletivo. Concebi-o como um
personagem aterrador e, embora lisonjeado com a popularidade que
alcançou, nunca me senti muito confortável com as sequências nem com os
filmes da outra franquia, quando Alien enfrenta o Predador. Há algum
tempo, comecei a conversar com a Fox, propondo uma retomada da série. A
conversa era no rumo de uma sequência, mas, quando comecei a trabalhar
no projeto, percebi que teria de tomar o caminho inverso. Saiu uma
prequel.
Pergunta – Por que esse formato?
Scott – Porque o filme nasce da indagação. Se estava
insatisfeito com os rumos de Alien, precisava voltar à origem. Quem é
ele? Todas as culturas ancestrais manifestam o temor e a reverência
perante o desconhecido. Na trama, Noomi Rapace (atriz que vive a
protagonista, a arqueóloga Elizabeth Shaw) acredita que os signos que
encontra em diferentes culturas apontam para um convite. O homem está
sendo chamado para ir às estrelas. Ela organiza uma expedição em busca
de repostas. Encontra o desconhecido.
Pergunta – Erik Von Däniken escreveu um monte de livros sobre os deuses astronautas. Foi uma influência?
Scott – Ninguém o levava a sério, do ponto de vista
científico, mas muitas hipóteses que levantou permanecem sem respostas e
não podem ser descartadas. Parte disso veio para o filme, sim.
Pergunta – O que você descobriu sobre Alien no retorno à origem?
Scott – Fortaleci ideias que já estavam no filme de
1979. Ele representa nossos medos mais profundos e, nesse sentido, tem
de ser estressante. Insisto sempre nas cenas de nascimento do alienígena
justamente por isso, para explicitar o horror.
Pergunta – No primeiro filme, ele nascia do ventre do homem. Aqui, do ventre do homem das estrelas. Por que a fixação?
Scott – É o aspecto mais intrigante e não vou lhe dar
nenhuma resposta específica. Tem a ver com a construção dramática dos
filmes como unidades de espaço e tempo. Mas digamos que, obviamente, há
aí uma crítica ao machismo, num sentido amplo. O poder do falus,
Tanatos, Marte, a guerra.
Pergunta – É por isso que você gosta tanto de heroínas feministas? Sigourney Weaver em Alien, Noomi Rapace em Prometheus...
Scott – Fiz diversos filmes com e sobre mulheres fortes e a
explicação é simples. Meu pai era militar, vivia viajando. Meus irmãos e
eu fomos criados por nossa mãe, e ela tem sido o protótipo feminino,
não só do meu cinema, mas da minha vida. Era dominadora sem perder a
ternura. Não precisava gritar nem bater. Bastava um olhar. Mas não creio
que homem nenhum possa bater no peito e dizer – sou feminista.
Carregamos a nostalgia de nossas funções ancestrais. O homem como
provedor, a mulher como mantenedora da espécie. Mas, sim, em definitivo
as mulheres fortes me atraem, em especial na ficção.
Pergunta – Por que Noomi Rapace?
Scott – Era uma atriz com quem queria trabalhar há
tempos, mas não encontrava o papel certo. É frágil e forte, possui uma
beleza particular. E eu precisava de uma atriz com olhar humano, para
que o público acreditasse na honestidade de sua busca.
Pergunta – O filme tem muita ação, mas à maneira de
Stanley Kubrick, em 2001, carrega indagações filosóficas sobre a
existência. Como veio isso?
Scott – O roteiro foi concebido dessa maneira. Foi escrito
em oito meses, o que me parece um prazo curto, considerando-se a
amplitude do projeto. Mas não pensava: "Vou fazer o meu 2001". Seria
muita presunção, mesmo que Alien e Blade Runner sejam consideradas duas
das ficções científicas mais influentes.
Pergunta – O que o gênero tem de tão atraente?
Scott – É a possibilidade de projetar, como fantasia,
questões que são relevantes sobre o nosso presente e futuro. Existem os
autores que viajam na imaginação, os que se mantêm dentro das
possibilidades reais da ciência e os que buscam extrapolar as
indagações.
Pergunta – Em que ponto você se situa?
Scott – Sou visionário. Gosto de criar mundos, é a minha paixão.
Pergunta – A contribuição de H. R. Giger (artista gráfico
suíço responsável pelo conceito visual do universo Alien) é fundamental.
Você tem outra equipe técnica e artística, mas o conceito visual de
Alien segue sendo dele. Por quê?
Scott – Tenho plena consciência de que o sucesso de Alien
deve muito a Giger. Tive sorte ao encontrá-lo, mas foi difícil persuadir
o estúdio (Fox) a aceitar seus desenhos. Eles os consideravam obscenos,
e eram, mas isso agrega ao terror do humanoide. Quando vi o Necromicon
de Giger senti uma vertigem, pensei: "É isso!". Na época, não tinha
muito dinheiro, e fizemos várias tentativas. Filmamos um protótipo
minúsculo em imagem reduzida, ampliamos para 35mm, gravamos em vídeo e
jogamos na tela da TV. Mas aquilo foi só a base. Em cima joguei a
direção de arte, a fotografia, os efeitos, como aqui. Para Prometheus
retomamos desenhos originais de Giger. A atmosfera continua dele.
Pergunta – Você filmou na Islândia, construiu sets
gigantescos. Noomi disse que achava que ia representar contra um fundo
verde e estava tudo lá. Por quê?
Scott – É mais barato. A pós-produção encarece muito, mas
não foi só por isso. Num filme de terror, é bom que os atores se sintam
ameaçados para que o espectador acredite neles.
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Fonte: ZH on line, 17/06/2012
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