Victor J. Stenger*
A existência, ou não, de Deus é uma questão que a ciência pode dar conta, afirma Victor J. Stenger
Cientistas – crentes ou não – concordam que a ciência
e a religião são aquilo que Stephen Jay Gould denominou de “magistérios
não-interferentes”. Em 1998, a Academia Nacional de Ciências dos EUA
levantou a afirmação na qual a “Ciência não pode opinar sobre o
sobrenatural. Se Deus existe ou não é uma questão na qual a ciência é
neutra.”
E de acordo com uma pesquisa feita no mesmo ano, 93% dos membros dessa academia não acreditam em um deus em particular.
Porém essa mesma porcentagem dentro da população dos
EUA acredita num deus em particular. E isso me faz pensar o que, se não a
ciência, leva a elite dos cientistas dos EUA em diferir tão
dramaticamente da população em geral.
Uma grande parte dos cientistas, de todos os níveis,
não acredita em qualquer tipo de deus. Além disso, muitos deles se negam
a confrontar a crença religiosa de outros. Também sou um físico que,
juntamente com outros, milita o Novo Ateísmo e quer confrontar as
crenças religiosas. Os deuses venerados por bilhões de pessoas existem
ou não. E esses deuses, se existem, devem ter consequencias observáveis.
Logo, a questão de suas existências é um assunto científico legítimo
que é bastante importante para a humanidade.
Podemos levar em consideração a existência de Deus
numa forma de hipótese científica e procurar por evidências empíricas
consequentes. Muitos dos atributos associados com o Deus
judaico-cristão-islâmico possui consequencias particulares que podem ser
testadas empiricamente. Supõe-se que esse Deus exerça um papel chave na
ordenação do universo e das vidas humanas. Como resultado, sua
evidência pode ser detectada por meios científicos.
Se um experimento controlado mostra um dado que não
pode ser explicado pelos meios naturais, a ciência deverá levantar a
possibilidade de um mundo além da matéria.
E esses experimentos foram tentados.
Supõe-se que esse Deus exerça um papel chave na ordenação do universo e das vidas humanas. Como resultado, sua evidência pode ser detectada por meios científicos.
Os cientistas têm testado empiricamente a eficácia da
oração intercessória – orar em benefício de outra pessoa. Esses
estudos, em princípio, poderiam ter mostrado cientificamente que algum
deus existe. E os cientistas encontraram dados conclusivos, em testes
duplo-cego e com controle placebo, que a oração intercessória melhora o
quadro de saúde de doentes, e isso é bem difícil encontrar uma
explicação natural. E não encontraram.
Testes similares foram feitos com experiências de
quase morte (EQM). Algumas pessoas que tiveram a EQM durante uma
cirurgia relataram que flutuaram acima da mesa de operação e observaram
tudo que ocorria abaixo delas. Podemos testar se é uma experiência real
ou uma alucinação colocando mensagens secretas numa armário alto fora do
campo de visão do paciente e da equipe cirúrgica. Isso foi tentado, e
ninguém que tenha apresentado uma EQM conseguiu ler a mensagem.
Com milhões de pessoas orando todos os dias por centenas de anos, deveríamos esperar que algumas dessas orações fossem atendidas de um modo verificável. E não foram atendidas.
Do mesmo modo que a ciência pode desenhar
experimentos para testar a existência de Deus, ela pode também procurar
por evidências contra a existência de deus no mundo em nossa volta. Aqui
devemos ser bem claros que não estamos falando sobre evidências contra
qualquer e todos os deuses. Por exemplo, um deus deísta que cria o
universo e então o deixa de lado é algo muito difícil de se falsificar.
Mas ninguém venera um deus que não faz nada.
Se Deus é o desenhista inteligente da vida na Terra,
então devemos encontrar evidências dessa inteligência através da
observação da estrutura da vida. E não encontramos. O movimento do
Design Inteligente é falho em provar que a complexidade encontrada nos
sistemas biológicos é irredutível e não que não pode ser explicada
dentro da evolução Darwiniana. A vida na Terra aparenta ser como deveria
ser se surgisse pela seleção natural.
Grande parte das religiões afirma que os humanos
possuem almas imateriais que controlam nossos processamentos mentais. Se
fosse verdade, deveríamos estar aptos a observar fenômenos induzidos
mentalmente que são independentes da química cerebral. O que não é o
caso.
Se Deus é a fonte da moralidade, então devemos
encontrar evidências de uma origem sobrenatural no comportamento humano.
E não encontramos. As pessoas de fé se comportam como a média, e não
melhor, e em alguns casos se comportam pior que as pessoas que não tem
fé. A história mostra que a moral e a ética guiam grande parte de nossas
vidas, porém não surgiram a partir de religiões monoteístas, como os
defensores religiosos nos fazem acreditar. O comportamento moral
aparentemente evoluiu socialmente.
Novamente, se Deus resposde às preces, deveríamos
observar os efeitos milagrosos da oração. Com milhões de pessoas orando
todos os dias por centenas de anos, deveríamos esperar que algumas
dessas orações fossem atendidas de um modo verificável. E não foram
atendidas.
As pessoas de fé se comportam como a média, e não melhor, e em alguns casos se comportam pior que as pessoas que não tem fé
Se
Deus revelou as verdades para a humanidade, então essas verdades podem
ser testadas. Ao longo dos milênios, muitas pessoas têm relatado
experiências místicas ou religiosas nas quais podem se comunicar com um
deus ou outro. Hoje podemos confirmar essas evidências, tal como um fato
verificável que não é fruto da mente do indivíduo, mas que tenha sido
revelado a ele. E esse não é o caso.
Se Deus é o criador do universo, então devemos encontrar Sua
evidência na astronomia e na física. E não encontramos. A origem do
nosso universo não requer milagres. Além disso, a cosmologia moderna
sugere “multiversos” eternos nos quais muitos outros universos podem
surgir e desaparecer.
Se os humanos são a criação especial de Deus, então o
universo deve ser congênito à vida humana. E não é. Os teístas afirmam
que os parâmetros do universo são muito propícios para a vida humana. E
não são. O universo não é propício à vida humana. Após avaliar todas as
evidências podemos concluir que o universo e a vida seriam exatamente
aquilo esperado se não houvesse qualquer Deus.
A origem do nosso universo não requer milagres. Além disso, a cosmologia moderna sugere “multiversos” eternos nos quais muitos outros universos podem surgir e desaparecer.
Finalmente, gostaria de comentar a tolice da fé.
Quando a fé se sobrepõe aos fatos, o pensamento mágico se torna
profundamente marcado e aprisiona todas as áreas de vida. Ela produz uma
imagem mental na qual os conceitos são formulados por meio da paixão
profunda, mas sem qualquer atenção às evidências. Hoje em dia está mais
evidente que nunca dentro dos EUA, onde cristãos buscam converter a
nação numa teocracia dominada pelo partido Republicano. A fé cega não
pode controlar o mundo.
-------------------------------
*Victor J. Stenger é professor emérito de física
da Universidade do Havaí, e professor adjunto de filosofia na
Universidade de Colorado.
Traduzido da Revista NewScientist
Publicado por Gabriel Bass
Fonte: http://racionalistasusp.wordpress.com/2012/06/11/a-hipotese-de-deus/
Nenhum comentário:
Postar um comentário