quinta-feira, 14 de junho de 2012

Falar de Deus

D. Gianfranco Ravasi*
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O que me faz perceber se alguém passou através no fogo do amor divino não é a maneira de falar de Deus mas como fala das coisas terrenas. «Porque ficais a olhar para o céu?». O aviso do anjo da ascensão de Cristo é significativo para exprimir o verdadeiro rosto do cristianismo, que não é um impulso para descolar da realidade para os céus míticos e místicos.
O Reino dos céus é, antes, transcendente, «celeste», mas «está no meio de vós», como dirá Jesus; encarna-se em Jerusalém, isto é, na cidade das obras e dos dias. «Procurai as coisas do alto e não as da terra»: o apelo paulino não significa alienação «celestial» mas levar uma existência irradiada pelo Espírito de Deus («a vossa vida está escondida com Cristo em Deus», continua o apóstolo), é tornar-se criatura nova e não permanecer «homem velho» ligado ao peso das paixões e vícios terrenos.
Belíssima é por isso a frase acima proposta por Simone Weil, judia mas em profunda sintonia com o cristianismo. Podemos falar de Deus através de um modo predicatório, retórico e grandiloquente, que talvez atraia o ouvido mas não penetra o coração, fazendo-o vibrar. O teste decisivo da autêntica espiritualidade é, em vez disso, quando se fala e vive a realidade terrena irradiando luz, transfigurando-a em Deus. O verdadeiro profeta é aquele que, como dizia um aforismo rabínico, faz jorrar centelhas divinas das pedras.
A verdade sobre Deus entrelaça-se com a caridade; caso contrário é uma especulação teórica ou ênfase espiritualista. É curioso que em russo a palavra pravda significa «verdade» mas também «justiça». A verdade religiosa é também ação, a fé percorre o caminho da história e ilumina-a.
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* Presidente do Conselho Pontifício da Cultura
In Avvenire
Trad.: rjm
© SNPC (trad.) | 13.06.12
Fonte:  http://www.snpcultura.org/falar_de_Deus.html

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