sábado, 17 de maio de 2014

A REVOLUÇÃO DIGITAL

Nelson Mattos*
 
Não há dúvida de que a revolução digital está transformando o mundo. Em menos de uma geração, a internet cresceu do nada para mais de 2,5 bilhões de usuários; está disponível desde o Monte Everest até o Polo Sul; hoje em dia, existem 60 trilhões de endereços na web, levando o Google a ter que indexar 20 bilhões de páginas por dia; em nível global, são produzidos cerca de 5 exabytes de dados diariamente (isto é mais do que 5 bilhões de caminhões cheios de livros o mundo nem tem 5 bilhões de caminhões). Companhias como Facebook e Google, com mais de 1 bilhão de usuários servem a um número igual a 16% da população mundial (por volta de 7 bilhões).

A internet tornou-se uma parte tão integral da nossa vida, que quatro em cinco adultos no Primeiro Mundo consideram o acesso à rede um direito humano. Hoje com certeza é difícil imaginar a vida sem ela. Por isso, ela está tendo um impacto profundo, tanto positivo quanto negativo, no comportamento das pessoas, na sociedade, nos governos, e na economia. A internet facilitou como nos comunicamos, mas criou um desafio para as empresas de telecomunicações – desde 2012, por exemplo, mais de um terço das ligações internacionais é feito no Skype. Ela popularizou o consumo de informação pela sociedade, mas causou uma ruptura na imprensa tradicional – a Enciclopédia Britânica, depois de 244 anos, deixou de ser impressa, atribuindo isso à Wikipédia e à “febre da internet”. Também criou novas formas de entretenimento, mas gerou um impacto irreversível na televisão tradicional – nos Estados Unidos, o YouTube já alcança mais adultos entre 18 e 34 anos do que qualquer rede de televisão a cabo. A internet trouxe dificuldades para os governos autoritários, mas permitiu novas formas de espionagem e invasão de privacidade – a revolução árabe foi, em grande parte, possível pelo uso popular da internet, o mesmo uso que está permitindo ao governo americano espionar outros indivíduos. Se por um lado ela se tornou uma das grandes alavancas da economia mundial, por outro obrigou empresas a se modernizarem para não se tornarem obsoletas da noite para o dia – anualmente, mais de US$ 1 trilhão mudam de mãos mundialmente através de e-commerce. A internet também contribuiu enormemente na educação com um número de vídeos educacionais disponíveis online desproporcionalmente maior do que o número de livros educacionais impressos. Os vídeos da Khan Academy no YouTube, por exemplo, já foram vistos mais de 185 milhões de vezes. Que livro educacional chegou perto de ser lido 185 milhões de vezes? Porém, junto ao acesso ao conteúdo educacional, a internet facilitou a exposição de conteúdo pornográfico, racista, e de outras formas de radicalismo.

Eu acredito que, apesar dos problemas criados, a internet tem um saldo extremamente positivo, abrindo oportunidades para pessoas em todos os lugares, tornando o mundo mais aberto, mais justo e mais próspero.

A verdade é que a internet está não só fazendo mudanças radicais, mas também tornando-as irreversíveis e inevitáveis. Isso, obviamente, não pode ser ignorado. Sendo essas mudanças tão profundas, gosto de chamá-las de “Revolução Digital”. Assim, vou dedicar esta coluna mensal a entender essa revolução, a explicar o que está permitindo que ela aconteça, como ela está causando a proliferação do uso de tecnologia, a explicar novas tendências e o que o futuro nos trará.

Até o próximo encontro!
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 *Doutor em Ciências da Computação, gaúcho, residente no Silicon Valley, Califórnia
Fonte: ZH online, 18/05/2014
Imagem da Internet

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