Você e eu estamos na Terra para nos reproduzir. Nossa missão é
transmitir os nossos genes, multiplicar a nossa espécie e dar o fora.
Tudo o mais que fazemos, tudo a mais que nos acontece, ou é decorrência
ou é passatempo. O que vem antes e depois dos nossos anos férteis é só o
prólogo e o epílogo. Se a Natureza quisesse otimizar seus métodos, já
nasceríamos púberes e morreríamos assim que nossos filhos, que também
nasceriam púberes, pudessem criar seus filhos (púberes) sem a ajuda dos
avós. Daria, no total, aí uns 35, 40 anos de vida, e adeus. O que
resolveria a questão demográfica do planeta e, claro, os problemas da
Previdência. Mas a Natureza nos dá o resto da vida – a infância e a
velhice e todos os prazeres extrarreprodutivos do mundo, inclusive os
sexuais – como brinde. Como um chaveiro, um agradecimento pela nossa
colaboração.
A laranjeira não existe para dar laranja, existe para produzir e
espalhar sua própria semente. A fruta não é o objetivo da planta
frutífera, é o que ela usa para carregar suas sementes, é o seu
estratagema. Agradecer à laranjeira pela laranja é não entendê-la. Ela
não sabe do que nós estamos falando. Suco? Doçura? Vitamina C? Eu?! Você
e eu ficamos aí especulando sobre o que a vida quer de nós, e só o que a
vida quer é continuar. Seja em nós e na nossa prole, seja na minhoca e
na sua. Nossa missão, nossa explicação são as mesmas do rinoceronte e da
anêmona. Estamos aqui para fazer outros iguais a nós. Isto que
chamamos, carinhosamente, de “eu”, com suas peculiaridades e sua
biografia única, não é mais do que uma laranja personalizada. Um
estratagema da Natureza, a polpa com que a Natureza protege a nossa
semente e assegura a continuação da vida. Enfim, um grande
mal-entendido.
E os que passam pelo mundo sem se reproduzir? São caronas. Mas ganham o brinde da vida assim mesmo. A Natureza não discrimina.
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* Jornalista. Escritor.
Fonte: http://www.extraclasse.org.br/edicoes/2013/11/nossa-missao/
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