domingo, 11 de maio de 2014

Seja homem para terminar

FABRÍCIO CARPINEJAR*

 

Se vai se separar, não arrume desculpas ou evasivas.

Não tente colocar a culpa no outro para ainda se sair como vítima.

Não transfira sua decisão, muito menos queira repartir a culpa.

Não fique cavando erros para sair ileso e diminuir sua pena.

Não procure aliviar a dor com eufemismos.

Não torture com falsas promessas para ganhar tempo, não sustente planos conjuntos.

Não escolha o melhor dia para evitar conflitos. Não há melhor dia para se despedir. Todo dia é ruim. Todo dia é triste.

Não diga “eu te amo” por convenção, como se fosse um cumprimento, para despistar o que já definiu em segredo.

Não perdure cobranças se já não deseja mais nada.

Não discuta por horas a fio por um preciosismo ou um deslize se não tem paciência.

Não imponha sua vontade se não tem vontade.

Não banque o tirano, o ditador, para encobrir o crime do desamor.

Não conte aos amigos o que sente se não conta antes para sua companhia.

Não mergulhe na omissão sob a alegação de que ela não vai entender.

Não pense por ela, não fale por ela, não está mais conectado para traduzir o que ela deseja.

Não faça fiado com o silêncio, não faça empréstimo com as lembranças, não invente de pagar as palavras com juros.

Seja direto, didático, claro.

Que encontre a coragem da simplicidade. A confusão neste momento gera covardia.

Sem teorias, sem defesa, sem chantagem, sem adiamentos.

Exponha que não ama mais ou o que está envolvido com uma nova pessoa ou que não tem mais interesse.

Mas assuma o ponto final, não finja que é uma vírgula.

Metade dos traumas da separação é que alguém saiu sem explicar o motivo.

Metade dos traumas do divórcio é que alguém ficou com aquele medo preguiçoso de transparecer o fim.

E quem é deixado para trás passa o resto dos dias buscando entender o que aconteceu, remoendo o desfecho, carregando o ressentimento de que havia como continuar e inventando motivos.

Não dê trabalho de ressurreição a quem dividiu a vida com você, dê a verdadeira causa do óbito.

É uma injustiça sumir, desaparecer, virar as costas.

O coração é um cartório.

Tem que reconhecer firma. Na entrada e na saída de qualquer relacionamento.

Caso foi homem para declarar o amor, tem que ser homem para encerrar o amor.

Caso foi homem para começar o amor, tem que ser homem para terminar o amor.
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* Jornalista. Escritor. Poeta
Fonte; ZH online, 11/05/2014

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