Paulo Sant'ana*
Quando me avistou no Alvorada, a presidente Dilma elogiou a minha gravata vermelha. Mas ironicamente acrescentou: “Vermelha?”. Eu respondi a ela de pronto: “Tive o esmero de telefonar para o cerimonial do Planalto e perguntar sobre a cor do vestido que a senhora usaria para nos receber. Disseram-me que era vermelho, então eu só combinei nossas cores”.
Na janta que nos proporcionou no Alvorada, Dilma nos ofereceu, entre tantos petiscos, um camarão espetacular. Que camarões! Com raviólis e saladas, que nem conheço alguns vegetais.
Bastou para que dois leitores me escrevessem dizendo “que me vendi pelos camarões da presidente”.
Olhem, não me vendi ainda, mas, se da outra vez que eu for a Brasília ela me servir lagostas do nível dos camarões, aí então me vendo mesmo e mando a isenção para as cucuias.
Sem brincar, fiquei impressionado com o interesse tenso e entusiasmado que a presidente empresta à Copa do Mundo.
Foi Lula que conseguiu a Copa do Mundo e se empenhou por realizá-la. Vejo então que Lula deu um limão ácido para Dilma e ela está preparando uma limonada.
Comi os camarões e, enquanto se desdobrava o jantar-reunião com Dilma, devo ter bebido uns quatro cálices de licor, de marca tradicional e modesta, Amarula. A presidente bebeu só, durante todo o tempo, água mineral.
E o vinho que foi servido era sensacional. Provei-o em vários cálices, não era de Caxias, mas era gaúcho: Luiz Argenta, de Flores da Cunha. Que vinho tinto!
Dilma nos levou a conhecer algumas dependências do Alvorada, entre elas a capela. Ela parecia ser orgulhosa em morar naquele lugar. Juca Kfouri ainda brincou: como é que um arquiteto comunista (Niemeyer) podia ter erguido uma capela cristã?
Dilma, por minutos largos, só ouvia, ouvia, ouvia. Eu desconfiava de que ela nos levou lá para ouvir-nos.
E, quando falava, era firme na voz e na dialética, aquiescia quando a interrompiam – e continuava.
Por tudo isso e muito mais, voltei de Brasília apaixonado por tudo e por todos.
E voltei apaixonado pelo trânsito de Brasília, aquelas largas avenidas fluídicas de veículos, sinalização impecável.
Temos uma grande e linda capital. Bendito Juscelino!
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* Cronista da ZH
Fonte: ZH online, 18/05/2014
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