Catholica entrevista o padre Ariel di Gualdo. Perguntas sobre um lobby…
Em sua edição de número 120, de 28 de junho de 2013, a revista política e religiosa francesa Catholica, publicou
uma entrevista concedida ao padre Ariel Levi di Gualdo: “Perguntas
sobre um lobby.” Um lobby que deu origem a frequentes reações agressivas
e sufocantes por parte da mídia sob o pontificado de Bento XVI, e, de
repente, elas não são mais faladas, sem que esteja acontecendo coisa
alguma ou indicações de que algo esteja acontecendo [para mudar a
situação]. Agora há um silêncio completo. Assim, [esse lobby] continua
sua atividade prejudicial, desintegradora, sem ser atrapalhado.
A Entrevista. Nos
anos que se seguiram ao Vaticano II, retornamos ao período que precedeu
o Concílio de Trento, com toda a sua corrupção e lutas internas
alarmantes pelo poder. A renúncia de Bento XVI constituiu um evento
singular, e foi como [fazer uma] “pausa” no auge da crise, [ocorreu] ao
mesmo tempo em que o 50º aniversário de um concílio destinado a
rejuvenescer as instituições eclesiásticas estava sendo celebrado. Este
ato ainda permanece bastante indecifrável. Muitos falavam de não
governabilidade, em uma época em que numerosas tensões e lutas pelo
poder haviam se tornado progressivamente evidentes, com o caso Vatileaks
sendo de indicação especial.
Dentre os autores que foram induzidos a
se expressar sobre a situação, um padre romano tem atraído a nossa
atenção por causa de seu discurso claro. Seu nome é Padre Ariel Levi di
Gualdo, autor e um livro intitulado E Satana si fece trino (E
Satanás se tornou trindade, tradução livre), que evoca a trindade
satânica explicada no subtítulo: relativismo, individualismo,
desobediência. Um de nossos correspondentes romanos lhe fez algumas
perguntas sobre alguns aspectos da atual desordem. Temos a satisfação de
publicar aqui as suas respostas.
Catholica – Em sua última obra, o
senhor deixa implícito o papel de determinados dicastérios romanos por
trás das denúncias de muitos escândalos graves. O senhor poderia
esclarecer este ponto, acima de tudo, ao explicar em que consiste a
falta de seriedade em alguns serviços da Cúria e qual seria a implicação
dos acordos mais problemáticos?
Padre Ariel – Neste livro, explico que
efetivamente tivemos o Concílio Vaticano II, mas, na prática, durante os
anos seguintes, voltamos ao período que antecedeu o Concílio de Trento,
com a sua corrupção e lutas alarmantes pelo poder. Após discursos
abundantes ad nauseum sobre diálogo, colegialidade – já há
quase meio século – emergiram novas formas de clericalismo e
autoritarismo. Os paladinos progressistas do diálogo e da colegialidade
usam agressão e coação contra qualquer pessoa que pense fora do
“religiosamente correto.” Sempre é possível elucidar os dogmas da Fé,
desconstruí-los de acordo com a lógica antropológica, mas ai daqueles
que ousam duvidar do caráter “sagrado” e “infalível” do magistério
exercido por alguns teólogos imbuídos por Hegel e da teologia de Karl
Rahner – pensamentos que os levam lado a lado com o modernismo e
heterodoxias de todo tipo: esse [tipo de] homem será banido dessa
“panelinha” unida e poderosa na Cúria Romana, bem como das Universidades
Pontifícias.
A isso precisamos acrescentar que a
partir dos anos 70, clérigos homossexuais têm sido incluídos, cujo
número tem crescido consideravelmente ao longo dos anos através de
cooptação. Hoje em dia eles constituem um verdadeiro lobby – no estilo
da máfia – poderoso e pronto para destruir quem quer que se coloque em
seu caminho. Processos na inversão de valores emergiram – o bom se
tornou mal, a virtude se transformou em vício, e vice-versa. Eles foram
tão longe a ponto de transformar a sã doutrina em heterodoxia quando um
desses eclesiásticos é denunciado às autoridades, com provas e
testemunhos para apoiá-la; dado que a condenação de uma pessoa sozinha
seria o suficiente para colocar todo o sistema em perigo. Vimos, em
muitos casos, o inocente sendo punido e marginalizado e os culpados de
grave conduta moral sendo protegidos. Quando se via como oportuno
expulsar alguém da Cúria Romana, eles eram acolhidos e protegidos pelos
bispos naquelas dioceses onde os círculos de influência eram instalados,
cercados predominantemente por homossexuais. Mais uma vez, corrupto
como é este sistema, não é possível agir de qualquer outra maneira, uma
vez que se um culpado é punido, ele se vingaria arrastando todos os
demais membros desta máfia: Portanto, é necessário protegê-lo apesar dos
custos.
A impressão geral é aquela de incoerência no governo da Igreja: Isso parece demonstrar a promoção de alguns prelados.
Catholica – Na sua opinião, quais são as causas que limitam a autoridade de uma maneira tão coercitiva?
Padre Ariel – É um
paradoxo que sob o pontificado do “Papa teólogo” tínhamos visto um
aumento de nomeações, para posições chave no governo da Igreja, de
pessoas que estão em total contradição com aquilo que representa as
premissas teológicas de Bento XVI: Prelados de teologia duvidosa ou de
perfil insignificante com relação aos desafios atuais, como, por
exemplo, a nova evangelização. O traço comum que os caracteriza: por
trás da fachada de humildade, a prevalência, não da Igreja, mas de sua
própria pessoa. Nas décadas vindouras, não sei como o pontificado da
“doutrina esplêndida” será julgado, mas pelos fatos [ele é] contrariado
pela presença dessas pessoas. Contudo, no momento, pergunto-me como [é
possível] que a influência escondida (marionetista) de alguns, tenha se
tornado tão poderosa para acabar reduzindo o nosso Pedro, navegador sem
uma tripulação, em uma barca destroçada pelas ondas e vendavais de
tempestade, a tamanha impotência?
O que se tem por certo, por outro lado, é
que o Evangelho não deixa margem para equívocos desse tipo: Deus não
nos julgará pelas nossas palavras, mas de acordo com a sabedoria de
nossas obras (Mt. 11,19). Teremos de prestar contas a Deus pelos
talentos que Ele nos deu, e, eventualmente por esse talento enterrado
por medo dos ladrões. (Mt. 25, 12). Creio que o Sumo Pontífice recebeu
de Deus um talento tão pesado quanto precioso, que deve produzir frutos:
“Tu és Pedro e sobre essa pedra edificarei a minha Igreja”. Um talento
que impõe sobre a quem o recebe um compromisso, de modo que “as portas
do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt. 16,18). Sem dúvida alguma,
quando os historiadores estudam esse pontificado emergindo de uma época
tão difícil e aflitiva, nesse contexto de profunda decadência que pesa
sobre a Igreja, eles mostrarão como Bento tentou agir para o bem da
Igreja de Cristo, com base naquilo que as circunstâncias o permitiram
fazer. As multidões, na sua morte, indubitavelmente, não gritarão “santo
súbito”, mas, é provável que dentro de décadas vindouras ele será
“santo sicuro” [santo seguramente]. […]
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Padre Ariel S. Levi di Gualdo, é um
sacerdote da diocese de Roma. [Créditos: Chiesa e Post Concilio blog;
Tradução para o inglês: Francesca Romana]
Fonte: http://fratresinunum.com/21/05/2014
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