quarta-feira, 21 de maio de 2014

Padre Ariel e o lobby mais poderoso do mundo.

Catholica entrevista o padre Ariel di Gualdo. Perguntas sobre um lobby…

Em sua edição de número 120, de 28 de junho de 2013, a revista política e religiosa francesa Catholica, publicou uma entrevista concedida ao padre Ariel Levi di Gualdo: “Perguntas sobre um lobby.” Um lobby que deu origem a frequentes reações agressivas e sufocantes por parte da mídia sob o pontificado de Bento XVI, e, de repente, elas não são mais faladas, sem que esteja acontecendo coisa alguma ou indicações de que algo esteja acontecendo [para mudar a situação]. Agora há um silêncio completo. Assim, [esse lobby] continua sua atividade prejudicial, desintegradora, sem ser atrapalhado.

A Entrevista. Nos anos que se seguiram ao Vaticano II, retornamos ao período que precedeu o Concílio de Trento, com toda a sua corrupção e lutas internas alarmantes pelo poder. A renúncia de Bento XVI constituiu um evento singular, e foi como [fazer uma] “pausa” no auge da crise, [ocorreu] ao mesmo tempo em que o 50º aniversário de um concílio destinado a rejuvenescer as instituições eclesiásticas estava sendo celebrado. Este ato ainda permanece bastante indecifrável. Muitos falavam de não governabilidade, em uma época em que numerosas tensões e lutas pelo poder haviam se tornado progressivamente evidentes, com o caso Vatileaks sendo de indicação especial.

Dentre os autores que foram induzidos a se expressar sobre a situação, um padre romano tem atraído a nossa atenção por causa de seu discurso claro. Seu nome é Padre Ariel Levi di Gualdo, autor e um livro intitulado E Satana si fece trino (E Satanás se tornou trindade, tradução livre), que evoca a trindade satânica explicada no subtítulo: relativismo, individualismo, desobediência. Um de nossos correspondentes romanos lhe fez algumas perguntas sobre alguns aspectos da atual desordem. Temos a satisfação de publicar aqui as suas respostas.

Catholica – Em sua última obra, o senhor deixa implícito o papel de determinados dicastérios romanos por trás das denúncias de muitos escândalos graves. O senhor poderia esclarecer este ponto, acima de tudo, ao explicar em que consiste a falta de seriedade em alguns serviços da Cúria e qual seria a implicação dos acordos mais problemáticos?
Padre Ariel – Neste livro, explico que efetivamente tivemos o Concílio Vaticano II, mas, na prática, durante os anos seguintes, voltamos ao período que antecedeu o Concílio de Trento, com a sua corrupção e lutas alarmantes pelo poder. Após discursos abundantes ad nauseum sobre diálogo, colegialidade – já há quase meio século – emergiram novas formas de clericalismo e autoritarismo. Os paladinos progressistas do diálogo e da colegialidade usam agressão e coação contra qualquer pessoa que pense fora do “religiosamente correto.” Sempre é possível elucidar os dogmas da Fé, desconstruí-los de acordo com a lógica antropológica, mas ai daqueles que ousam duvidar do caráter “sagrado” e “infalível” do magistério exercido por alguns teólogos imbuídos por Hegel e da teologia de Karl Rahner – pensamentos que os levam lado a lado com o modernismo e heterodoxias de todo tipo: esse [tipo de] homem será banido dessa “panelinha” unida e poderosa na Cúria Romana, bem como das Universidades Pontifícias.

A isso precisamos acrescentar que a partir dos anos 70, clérigos homossexuais têm sido incluídos, cujo número tem crescido consideravelmente ao longo dos anos através de cooptação. Hoje em dia eles constituem um verdadeiro lobby – no estilo da máfia – poderoso e pronto para destruir quem quer que se coloque em seu caminho. Processos na inversão de valores emergiram – o bom se tornou mal, a virtude se transformou em vício, e vice-versa. Eles foram tão longe a ponto de transformar a sã doutrina em heterodoxia quando um desses eclesiásticos é denunciado às autoridades, com provas e testemunhos para apoiá-la; dado que a condenação de uma pessoa sozinha seria o suficiente para colocar todo o sistema em perigo. Vimos, em muitos casos, o inocente sendo punido e marginalizado e os culpados de grave conduta moral sendo protegidos. Quando se via como oportuno expulsar alguém da Cúria Romana, eles eram acolhidos e protegidos pelos bispos naquelas dioceses onde os círculos de influência eram instalados, cercados predominantemente por homossexuais. Mais uma vez, corrupto como é este sistema, não é possível agir de qualquer outra maneira, uma vez que se um culpado é punido, ele se vingaria arrastando todos os demais membros desta máfia: Portanto, é necessário protegê-lo apesar dos custos.

A impressão geral é aquela de incoerência no governo da Igreja: Isso parece demonstrar a promoção de alguns prelados.

Catholica – Na sua opinião, quais são as causas que limitam a autoridade de uma maneira tão coercitiva?
Padre Ariel – É um paradoxo que sob o pontificado do “Papa teólogo” tínhamos visto um aumento de nomeações, para posições chave no governo da Igreja, de pessoas que estão em total contradição com aquilo que representa as premissas teológicas de Bento XVI: Prelados de teologia duvidosa ou de perfil insignificante com relação aos desafios atuais, como, por exemplo, a nova evangelização. O traço comum que os caracteriza: por trás da fachada de humildade, a prevalência, não da Igreja, mas de sua própria pessoa. Nas décadas vindouras, não sei como o pontificado da “doutrina esplêndida” será julgado, mas pelos fatos [ele é] contrariado pela presença dessas pessoas. Contudo, no momento, pergunto-me como [é possível] que a influência escondida (marionetista) de alguns, tenha se tornado tão poderosa para acabar reduzindo o nosso Pedro, navegador sem uma tripulação, em uma barca destroçada pelas ondas e vendavais de tempestade, a tamanha impotência?

O que se tem por certo, por outro lado, é que o Evangelho não deixa margem para equívocos desse tipo: Deus não nos julgará pelas nossas palavras, mas de acordo com a sabedoria de nossas obras (Mt. 11,19). Teremos de prestar contas a Deus pelos talentos que Ele nos deu, e, eventualmente por esse talento enterrado por medo dos ladrões. (Mt. 25, 12). Creio que o Sumo Pontífice recebeu de Deus um talento tão pesado quanto precioso, que deve produzir frutos: “Tu és Pedro e sobre essa pedra edificarei a minha Igreja”. Um talento que impõe sobre a quem o recebe um compromisso, de modo que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt. 16,18). Sem dúvida alguma, quando os historiadores estudam esse pontificado emergindo de uma época tão difícil e aflitiva, nesse contexto de profunda decadência que pesa sobre a Igreja, eles mostrarão como Bento tentou agir para o bem da Igreja de Cristo, com base naquilo que as circunstâncias o permitiram fazer. As multidões, na sua morte, indubitavelmente, não gritarão “santo súbito”, mas, é provável que dentro de décadas vindouras ele será “santo sicuro” [santo seguramente]. […]
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Padre Ariel S. Levi di Gualdo, é um sacerdote da diocese de Roma. [Créditos: Chiesa e Post Concilio blog; Tradução para o inglês: Francesca Romana]
Fonte: http://fratresinunum.com/21/05/2014

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