domingo, 11 de maio de 2014

'É preciso ensinar a usar drogas', diz neurocientista

Entrevista - Carl Hart
Americano Carl Hart defende educação sobre como, 
onde e com quem usar 

Segundo o cientista, 11% dos usuários são viciados e o consumo não causa danos irreversíveis ao cérebro
Ele já usou drogas, traficou, cometeu pequenos crimes e costumava andar com uma arma no carro em Miami, onde vivia. Sobreviveu e escapou de ir preso, como aconteceu com amigos de infância. 

Aos 47 anos, o americano Carl Hart, professor de neurociência da Universidade Columbia (EUA), defende a descriminalização das drogas e que pessoas sejam educadas para usá-las, reduzindo riscos.
Sob o ponto de vista neurocientífico, defende que drogas não viciam na proporção que se imagina --apenas 11% dos consumidores podem ser considerados viciados--, não prejudicam o desempenho de uma pessoa, nem causam danos cerebrais irreversíveis. 

"Nossos três últimos presidentes [Bill Clinton, George Bush e Barack Obama] disseram ter usado. Não falo isso como demérito, mas para mostrar que se pode usar drogas e ser produtivo", disse.
Em viagem ao Brasil para divulgar seu livro "Um Preço Muito Alto" (ed.Zahar), Carl Hart falou à Folha. Leia abaixo trechos da entrevista. 

Folha - Há alguns meses o governo do Rio decidiu internar compulsoriamente dependentes de crack. É eficaz?
Carl Hart - Não importa se é legal ou ilegal, o que importa é que não é ético. Mas, para entender isso, é preciso combater alguns pressupostos a respeito do crack e da cocaína. Muitas pessoas acreditam que quem usa droga fica fora de si, sem controle, o que é falso. Em alguns casos, a droga pode inclusive melhorar uma pessoa. A internação compulsória só impede que você veja aquela pessoa drogada pela sua vizinhança. 

Então o que se deve fazer, por exemplo, com as crianças que usam drogas nas ruas?
Devemos assegurar que todos sejam bem tratados e que a sociedade seja justa. Essas crianças de rua, onde estão seus pais? Eles tiveram oportunidade de empregos, de aprender a criar seus filhos de forma que soubessem como atender as expectativas dessa sociedade? 

O sr. diz ser um mito a crença de que o vício é inevitável. Por que essa afirmação é falsa?
Coletamos dados durante muitos anos e sabemos que o percentual de pessoas que usa cocaína ou outras drogas e não se vicia é de 89%. Os últimos três presidentes americanos usaram drogas. Obama contou ter consumido cocaína algumas vezes; Bush disse que fumou maconha; Clinton também, apesar de tentar nos convencer de que não tragou. Não falo isso como demérito, mas para mostrar que se pode usar drogas e ser produtivo. 

As drogas causam danos cerebrais permanentes?
Usar cocaína é o mesmo que usar cafeína ou álcool. Há efeitos temporários que procuramos quando usamos: ficamos alertas, nos sentimos melhor. Um orgasmo também causa efeitos no cérebro, mas ninguém diz que ele mudou definitivamente por isso. Atribuir esses danos à cocaína e ao crack é uma forma de separar as "pessoas más que usam cocaína" das "pessoas boas que não usam". 

Se as drogas não viciam e não causam danos permanentes, por que combatê-las?
A política de combate só é benéfica para aumentar os orçamentos de segurança e favorecer aqueles ligados a essa indústria. Dizer que o crack é responsável pela criminalidade é mentir. No Brasil, antes da invasão das drogas, os moradores de favela frequentavam a universidade? As drogas podem exacerbar vários problemas, mas não são as causadoras. 

Se as drogas são um problema social, como lidar com o tema?
São duas propostas. Do ponto de vista legal, defendo a descriminalização de todas as drogas, sem exceção. Isso não significa legalizar, mas tirar da esfera criminal. Do ponto de vista de educação, proponho o ensino do básico sobre o uso de drogas. 

Como assim?
Coisas práticas, como dosagem. Quando há aumento de dose, aumenta-se o risco. Também precisam aprender que há organismos mais tolerantes. É necessário ensinar onde, como e com quem usar. 
--------------------
Reportagem por CRISTINA GRILLODO RIO
Fonte: Folha online, 11/05/2014
Imagem da Internet

Um comentário:

  1. As SPA - substancias psicoativas são todas as formas de vida, não existe vida sem as SPA, desde a anestesia nas operações, as dores, o comemorar a alegria e a tristeza. Vaillant o maior pesquisador, foi felicissimo na sua colocação sobre o alcool, "o alcool deixa a pessoa triste, mais triste". As outras drogas devem num futuro mas muito próximo terem o comercio normal. Visto o custo em valores altissimo : tres terços dos detentos são em virtude do trafico de outras drogas, a policia brasileira não pratica e não foi treinada para permanente investigação, o tempo gasto pelo inoperante JUDICIARIO, poderia por em dia os processos - por exemplo tem uma quantidade de detentos tem o direito estar fora, mas o JUDICIARIO esta inoperante. O Estado e Planos de Saude pagar tratamentos em clinicas terapeuticas. A formação urgente de profissionais de saude mental na disciplina de dependencia quimica/especialização/mestrado/doutorado. Infelizmente certo cidadãos brasileiros ficam discutindo o sexos dos anjos e se esquecem que dependente quimico na ativa é um ser humano e que a sua familia, vizinhos, empresa e comunidade estão na dor e no sofrimento..............Uma coisa eu digo de coração : eu Roberto Sims,estou vivo e limpo 15 nos graças ao meu plano de saude, aqueles que estenderam a mão e minha amada familia não deve um tostão a essa sociedade hipócrita/porca/sovina/pão dura, não devo mesmo nada/nem um figo podre, porque eu já paguei com o meu imenso sofrimento........ fui pisoteado pelo preconceito e outras imbecilidades dessa mesma sociedade que olha o próximo de cima, e diz: seu drogado, seu nóia, seu pingaiada...............

    ResponderExcluir