Moisés Mendes*
Videntes evitam anunciar notícias ruins em consultas
pessoais, para não afugentar para sempre o cliente. O Paulo Germano,
repórter aqui da Zero, conta que se apaixonou por uma francesa num Fórum
Social Mundial. Mãos dadas, passeios, Redenção, gangorra, Parcão, 35
CTG, Cidade Baixa.
Mas um dia a moça voltou para Toulouse e o Germano se deprimiu. Foi então a uma vidente que jogava chaves sobre a mesa. A mulher jogou as chaves e pegou a que caiu ao lado do Germano. Disse: aqui está ela. E avisou que ele reencontraria alguém que havia ido embora.
O repórter espantou-se, porque não tinha falado nada sobre a moça. Perguntou: reencontrarei no próximo Fórum Social em Cancún? Não, em outra vida, disse a mulher. Na próxima? Não, talvez daqui a três ou quatro reencarnações. O talentoso Germano até tem paciência, mas desistiu logo. Esperaria no máximo três ou quatro semanas.
Conto esta história porque videntes ainda têm prestígio. A morte de Mãe Dinah foi noticiada até pelo Jornal Nacional. Ela previu que os Mamonas sofreriam um acidente de avião, quatro meses antes da tragédia, em março 1996. Depois, não acertou mais nada, mas ficou com a fama.
Dizem que o esoterismo é apenas a ocupação de vazios deixados pela razão e pela ciência. Não é tão simples assim. Eu mesmo levo na carteira a imagem em papel, tipo santinho, do Gauchito, o santo marginal argentino. Por que o Gauchito entrou na minha vida tão enquadrada, tão certinha, onde tudo tem explicação?
Ganhei o santo de uma família de miseráveis andarilhos, numa estrada perto de Libres. Me faz bem andar com a imagem. É um santo clandestino, sem o reconhecimento da Igreja. É óbvio que o Gauchito me devolve à infância e aos santos da minha avó, da minha mãe e das minhas tias, e isso é muito bom.
Muitas vezes, só sobrevivemos porque nos agarramos ao imponderável. Fazem isso até os que precisam multiplicar fortunas com decisões cerebrais. Eike Batista, por exemplo. Achou que seria o homem mais rico do mundo se todas as suas empresas tivessem o X mágico no nome.
A força do sinal de multiplicar produziria riquezas sem fim. As empresas foram batizadas como MMX, MPX, OSX, CCX, OGX. Todas com três letras, o número da sorte dele, que nasceu em 3 de novembro. Todas quebraram.
Tem gente que muda o nome por causa da numerologia. Outras que sentam somente em bancos com números ímpares em cinemas, ônibus e aviões. Numerologistas, videntes e cartomantes podem nos deixar esperando por alguma coisa ou alguma pessoa que mudam nossas vidas só pelo fato de que são esperadas.
Você não espera que se cumpra uma previsão feita há algum tempo por um búzio, uma carta ou uma chave? Como aquela previsão que prometeu abrir as portas da casa da francesa para o Germano? Mas daqui a 500 anos?
Daqui a 500 anos, o mundo estará sob domínio da China. A francesa do Germano poderá então ser uma chinesa. O próprio Germano poderá ser um chinês. Anotem e me cobrem.
Mas um dia a moça voltou para Toulouse e o Germano se deprimiu. Foi então a uma vidente que jogava chaves sobre a mesa. A mulher jogou as chaves e pegou a que caiu ao lado do Germano. Disse: aqui está ela. E avisou que ele reencontraria alguém que havia ido embora.
O repórter espantou-se, porque não tinha falado nada sobre a moça. Perguntou: reencontrarei no próximo Fórum Social em Cancún? Não, em outra vida, disse a mulher. Na próxima? Não, talvez daqui a três ou quatro reencarnações. O talentoso Germano até tem paciência, mas desistiu logo. Esperaria no máximo três ou quatro semanas.
Conto esta história porque videntes ainda têm prestígio. A morte de Mãe Dinah foi noticiada até pelo Jornal Nacional. Ela previu que os Mamonas sofreriam um acidente de avião, quatro meses antes da tragédia, em março 1996. Depois, não acertou mais nada, mas ficou com a fama.
Dizem que o esoterismo é apenas a ocupação de vazios deixados pela razão e pela ciência. Não é tão simples assim. Eu mesmo levo na carteira a imagem em papel, tipo santinho, do Gauchito, o santo marginal argentino. Por que o Gauchito entrou na minha vida tão enquadrada, tão certinha, onde tudo tem explicação?
Ganhei o santo de uma família de miseráveis andarilhos, numa estrada perto de Libres. Me faz bem andar com a imagem. É um santo clandestino, sem o reconhecimento da Igreja. É óbvio que o Gauchito me devolve à infância e aos santos da minha avó, da minha mãe e das minhas tias, e isso é muito bom.
Muitas vezes, só sobrevivemos porque nos agarramos ao imponderável. Fazem isso até os que precisam multiplicar fortunas com decisões cerebrais. Eike Batista, por exemplo. Achou que seria o homem mais rico do mundo se todas as suas empresas tivessem o X mágico no nome.
A força do sinal de multiplicar produziria riquezas sem fim. As empresas foram batizadas como MMX, MPX, OSX, CCX, OGX. Todas com três letras, o número da sorte dele, que nasceu em 3 de novembro. Todas quebraram.
Tem gente que muda o nome por causa da numerologia. Outras que sentam somente em bancos com números ímpares em cinemas, ônibus e aviões. Numerologistas, videntes e cartomantes podem nos deixar esperando por alguma coisa ou alguma pessoa que mudam nossas vidas só pelo fato de que são esperadas.
Você não espera que se cumpra uma previsão feita há algum tempo por um búzio, uma carta ou uma chave? Como aquela previsão que prometeu abrir as portas da casa da francesa para o Germano? Mas daqui a 500 anos?
Daqui a 500 anos, o mundo estará sob domínio da China. A francesa do Germano poderá então ser uma chinesa. O próprio Germano poderá ser um chinês. Anotem e me cobrem.
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* Cronista da ZH
Fonte: ZH online, 09/05/2014
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