Ivan Martins*
Não sei em que momento da vida as pessoas começam a se interessar
conscientemente por gente mais jovem. Deve ser por volta dos 30, quando a
maioria percebe, pela primeira vez, as pontadas da mortalidade. Nesse
momento, olha-se para os que nasceram depois e sente-se que eles têm a
vida pela frente. Essa mistura infundada de admiração e nostalgia abre
as portas para o envolvimento. Em dois tempos, com alguma proximidade,
se está de queixo caído. Pelos mais jovens, claro.
Conheço uma multidão de pessoas que já passou por isso. Homens e mulheres de idades variadas e temperamentos diferentes. Existe um jeito padrão de começar esse tipo de relação (meio de brincadeira, meio por curiosidade, ninguém achando que vai durar), e uma maneira igualmente padronizada de terminar. Com dor e com dificuldade, em geral para a parte mais velha. A regra, que admite uma legião de felizes exceções, parece ser quebrar a cara.
Tenho visto muito desse sofrimento. Já senti na pele ao menos uma vez. É desconcertante. As pessoas ficam tontas, levemente obcecadas, incapazes de recomeçar. Por muito tempo. É como toda ruptura, mas talvez seja pior. Quem já leu o romance Lolita, de Vladimir Nabokov, tem ideia do que eu estou dizendo. Quem conhece a história lendária de Adriano e Antinoo – o imperador romano e seu jovem amante – sabe a que ponto as tristezas dessa espécie podem chegar. Se isso não for suficiente, basta percorrer as colunas de celebridades para encontrar atrizes maduras que se metem em relações tumultuadas com homens mais jovens – e depois ficam por aí, publicamente em pedaços.
Conheço uma multidão de pessoas que já passou por isso. Homens e mulheres de idades variadas e temperamentos diferentes. Existe um jeito padrão de começar esse tipo de relação (meio de brincadeira, meio por curiosidade, ninguém achando que vai durar), e uma maneira igualmente padronizada de terminar. Com dor e com dificuldade, em geral para a parte mais velha. A regra, que admite uma legião de felizes exceções, parece ser quebrar a cara.
Tenho visto muito desse sofrimento. Já senti na pele ao menos uma vez. É desconcertante. As pessoas ficam tontas, levemente obcecadas, incapazes de recomeçar. Por muito tempo. É como toda ruptura, mas talvez seja pior. Quem já leu o romance Lolita, de Vladimir Nabokov, tem ideia do que eu estou dizendo. Quem conhece a história lendária de Adriano e Antinoo – o imperador romano e seu jovem amante – sabe a que ponto as tristezas dessa espécie podem chegar. Se isso não for suficiente, basta percorrer as colunas de celebridades para encontrar atrizes maduras que se metem em relações tumultuadas com homens mais jovens – e depois ficam por aí, publicamente em pedaços.
Aquilo que provoca dor na ruptura talvez seja proporcional ao que causa
fascínio: as pessoas são cativadas, nos mais jovens, por aquilo que
julgam não existir mais nelas. Pode ser o viço do corpo, o esplendor da
ingenuidade, uma energia inquebrantável para o ócio. Até a escassez
material da vida. Até mesmo a preguiça. As pessoas se apaixonam no outro
pela saudade de si. Outras vezes, se envaidecem por serem capazes de
atrair alguém tão desejável. Mas isso é apenas o início. Com o tempo, a
criatura mais jovem converte-se apenas na criatura amada, com seus
atributos e defeitos – mas nela ainda residem as marcas da paixão
inicial. Ali ainda mora o estereótipo. No rompimento, ele ressurge.
Quando o mais jovem vai embora, ele tem a vida pela frente. Quem fica sente de outra forma. A mulher de pouco mais de 30, o homem de pouco mais de 40, eles se sentem gastos e sem horizonte por comparação. Atribuem ao outro, de 20 e poucos anos, uma capacidade de sedução e diversão infinita. Imaginam que ela ou ele vai conquistar o mundo, mesmo que seja uma pessoinha perdida e frágil. O mais velho sente – ou teme, inconscientemente - que a vida já não lhes reserva mais nada. Sempre é assim nas rupturas, o túnel escuro sem expectativas. Mas, neste caso em particular, o túnel parece ainda mais sombrio – porque o jovem tem tempo, um tempo que parece enorme, que o outro julga não ter mais. Embora tenha apenas 30, 40, 50 anos.
O outro sempre leva na despedida aquilo que sobra nele e que a nós faz falta, ou parece fazer. Pode ser dinheiro, pode ser cultura, pode ser coragem para lidar com a vida. Pode ser tempo também. Nos dias de hoje, de admiração desenfreada pela juventude, o tempo tem valor enorme. É uma forma subjetiva de riqueza. Eu troco a minha experiência – e aquilo que já conquistei na vida – pelo tempo que você tem de sobra, e que me faz falta. Mas há um problema nisso: o tempo do outro não pode ser apropriado. Quem tem dinheiro, pode dar. Quem tem cultura, pode ensinar. Quem tem coragem, pode emprestar. O corpo jovem do outro pode ser usado e sua alegria usufruída. Mas como se transfere tempo? Ele é intransferível. Pertence apenas a quem o tem.
Aos amigos que estão prostrados pelo amor negado de gente mais jovem, digo o que já disse a mim mesmo: toque em frente, tente não botar a pessoa num altar, não superestime o que ela tem. O tempo. Todo mundo já foi mais jovem e sabe que não era essa maravilha. Aos 15 anos, aos 20, mesmo aos 25 a vida costuma ser um saco. Lembre também como é chato lidar com as infantilidades do parceiro mais novo, com as suas imaturidades. O cara que não saiu da casa da mãe, os amigos dele ou dela que só falam merda, a mulher de 24 anos que ainda age como filhinha. Quando lembrar do riso e do beijo na boca, quando sonhar com o sexo e da gargalhada, pense nas chatices, nas bobagens, na dificuldade em ter uma conversa emocionalmente satisfatória. Isso não resolve, mas ajuda. Pelo menos até a dor tornar-se tolerável.
Quando o mais jovem vai embora, ele tem a vida pela frente. Quem fica sente de outra forma. A mulher de pouco mais de 30, o homem de pouco mais de 40, eles se sentem gastos e sem horizonte por comparação. Atribuem ao outro, de 20 e poucos anos, uma capacidade de sedução e diversão infinita. Imaginam que ela ou ele vai conquistar o mundo, mesmo que seja uma pessoinha perdida e frágil. O mais velho sente – ou teme, inconscientemente - que a vida já não lhes reserva mais nada. Sempre é assim nas rupturas, o túnel escuro sem expectativas. Mas, neste caso em particular, o túnel parece ainda mais sombrio – porque o jovem tem tempo, um tempo que parece enorme, que o outro julga não ter mais. Embora tenha apenas 30, 40, 50 anos.
O outro sempre leva na despedida aquilo que sobra nele e que a nós faz falta, ou parece fazer. Pode ser dinheiro, pode ser cultura, pode ser coragem para lidar com a vida. Pode ser tempo também. Nos dias de hoje, de admiração desenfreada pela juventude, o tempo tem valor enorme. É uma forma subjetiva de riqueza. Eu troco a minha experiência – e aquilo que já conquistei na vida – pelo tempo que você tem de sobra, e que me faz falta. Mas há um problema nisso: o tempo do outro não pode ser apropriado. Quem tem dinheiro, pode dar. Quem tem cultura, pode ensinar. Quem tem coragem, pode emprestar. O corpo jovem do outro pode ser usado e sua alegria usufruída. Mas como se transfere tempo? Ele é intransferível. Pertence apenas a quem o tem.
Aos amigos que estão prostrados pelo amor negado de gente mais jovem, digo o que já disse a mim mesmo: toque em frente, tente não botar a pessoa num altar, não superestime o que ela tem. O tempo. Todo mundo já foi mais jovem e sabe que não era essa maravilha. Aos 15 anos, aos 20, mesmo aos 25 a vida costuma ser um saco. Lembre também como é chato lidar com as infantilidades do parceiro mais novo, com as suas imaturidades. O cara que não saiu da casa da mãe, os amigos dele ou dela que só falam merda, a mulher de 24 anos que ainda age como filhinha. Quando lembrar do riso e do beijo na boca, quando sonhar com o sexo e da gargalhada, pense nas chatices, nas bobagens, na dificuldade em ter uma conversa emocionalmente satisfatória. Isso não resolve, mas ajuda. Pelo menos até a dor tornar-se tolerável.
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* Editor-executivo de ÉPOCA
Fonte: Revista Época online, acesso 19/05/2014
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