Autor da mais festejada síntese do século 20, o hoje clássico Era dos
Extremos, o historiador britânico Eric Hobsbawm parecia resumir o
espírito da época ao afirmar na metade dos anos 1980: “O próprio fato de
que os historiadores estejam ao menos começando a fazer algum progresso
no estudo e na análise das nações e do nacionalismo indica que, como de
hábito, o fenômeno já ultrapassou seu auge”. Atualmente, é difícil
conciliar visões como a de Hobsbawm com uma espiada no noticiário. Para
os especialistas, o grande desafio é identificar as causas do
renascimento nacionalista.
Na Europa, há uma certa unanimidade em atribuir a nova onda aos efeitos do tsunami que varreu a economia global a partir do final da década passada. Tradicionais movimentos separatistas da Europa Ocidental, que por muito tempo foram detentores quase exclusivos da desbotada bandeira nacionalista, experimentam um novo impulso na Bélgica (Flandres), na Espanha (Catalunha) e na Grã-Bretanha (Escócia). Partidos anti-imigração e anti-União Europeia despontam com chances nas pesquisas de intenção de voto para o Parlamento Europeu entre britânicos, franceses, dinamarqueses, finlandeses e austríacos. Numa cena que parece extraída de um documentário sobre a Europa dos anos 1930, dois deputados do partido extremista Aurora Dourada, presos por suspeita de uma série de crimes, compareceram algemados a uma sessão do parlamento na quinta-feira para testemunhar sobre as acusações.
– Não sou um fascista, não sou um nazista, mas um patriota. Por que estou na prisão? – gritou, em prantos, o deputado Stathis Bukuras, que responde por perseguição a opositores e assassinato de um imigrante paquistanês e um rapper de extrema esquerda.
A Suprema Corte grega determinará nos próximos dias se o Aurora Dourada poderá participar das eleições para o parlamento de Estrasburgo. A febre nacionalista não se limita, porém, ao continente europeu. No Oriente Médio, a primeira vaga da Primavera Árabe deixou à mostra as fraturas tribais na Líbia e as linhas divisórias religiosas e étnicas na Síria e na Turquia. O nacionalismo árabe, cujas origens remontam à segunda metade do século 19 e que teve como primeiro antagonista o Império Turco Otomano, choca-se hoje com as molduras pactuadas durante a I Guerra Mundial pela Grã-Bretanha e pela França.
Na Índia, o nacionalismo hindu afia suas garras contra a segunda maior população muçulmana do mundo. O candidato favorito a primeiro-ministro nas eleições que se encerram nesta segunda-feira, Narendra Modi, é um fundamentalista cuja passagem pelo governo estadual de Gujarat foi marcada por distúrbios em 2002. Mais de mil pessoas, a maioria muçulmanas, morreram em uma explosão de violência na época. O episódio levou a um boicote dos Estados Unidos e da União Europeia a Modi, que durou mais de uma década. A punição só chegou ao fim recentemente, quando a possibilidade de sua vitória ficou clara.
No caso do Leste europeu, embora a maioria dos analistas tenda a examinar as tensões entre a Rússia e os vizinhos em termos de política de potências, é inegável que o ingrediente nacionalista cumpre um papel de primeira linha na crise. Ao analisar as consequências da guerra na Iugoslávia em 1998, o historiador britânico Mark Mazower havia escrito: “As verdadeiras dificuldades situam-se principalmente na esfera da antiga União Soviética, com suas vastas minorias russas nas periferias ocidental e meridional do vasto império. Na zona europeia o conflito – com a parcial e breve exceção da Moldávia e das repúblicas bálticas em 1991 – permaneceu limitado ao plano político e não se intensificou”. A queda de um governo pró-russo na Ucrânia e a adesão da Moldávia ao bloco europeu confirmaram essa triste expectativa.
Na Europa, há uma certa unanimidade em atribuir a nova onda aos efeitos do tsunami que varreu a economia global a partir do final da década passada. Tradicionais movimentos separatistas da Europa Ocidental, que por muito tempo foram detentores quase exclusivos da desbotada bandeira nacionalista, experimentam um novo impulso na Bélgica (Flandres), na Espanha (Catalunha) e na Grã-Bretanha (Escócia). Partidos anti-imigração e anti-União Europeia despontam com chances nas pesquisas de intenção de voto para o Parlamento Europeu entre britânicos, franceses, dinamarqueses, finlandeses e austríacos. Numa cena que parece extraída de um documentário sobre a Europa dos anos 1930, dois deputados do partido extremista Aurora Dourada, presos por suspeita de uma série de crimes, compareceram algemados a uma sessão do parlamento na quinta-feira para testemunhar sobre as acusações.
– Não sou um fascista, não sou um nazista, mas um patriota. Por que estou na prisão? – gritou, em prantos, o deputado Stathis Bukuras, que responde por perseguição a opositores e assassinato de um imigrante paquistanês e um rapper de extrema esquerda.
A Suprema Corte grega determinará nos próximos dias se o Aurora Dourada poderá participar das eleições para o parlamento de Estrasburgo. A febre nacionalista não se limita, porém, ao continente europeu. No Oriente Médio, a primeira vaga da Primavera Árabe deixou à mostra as fraturas tribais na Líbia e as linhas divisórias religiosas e étnicas na Síria e na Turquia. O nacionalismo árabe, cujas origens remontam à segunda metade do século 19 e que teve como primeiro antagonista o Império Turco Otomano, choca-se hoje com as molduras pactuadas durante a I Guerra Mundial pela Grã-Bretanha e pela França.
Na Índia, o nacionalismo hindu afia suas garras contra a segunda maior população muçulmana do mundo. O candidato favorito a primeiro-ministro nas eleições que se encerram nesta segunda-feira, Narendra Modi, é um fundamentalista cuja passagem pelo governo estadual de Gujarat foi marcada por distúrbios em 2002. Mais de mil pessoas, a maioria muçulmanas, morreram em uma explosão de violência na época. O episódio levou a um boicote dos Estados Unidos e da União Europeia a Modi, que durou mais de uma década. A punição só chegou ao fim recentemente, quando a possibilidade de sua vitória ficou clara.
No caso do Leste europeu, embora a maioria dos analistas tenda a examinar as tensões entre a Rússia e os vizinhos em termos de política de potências, é inegável que o ingrediente nacionalista cumpre um papel de primeira linha na crise. Ao analisar as consequências da guerra na Iugoslávia em 1998, o historiador britânico Mark Mazower havia escrito: “As verdadeiras dificuldades situam-se principalmente na esfera da antiga União Soviética, com suas vastas minorias russas nas periferias ocidental e meridional do vasto império. Na zona europeia o conflito – com a parcial e breve exceção da Moldávia e das repúblicas bálticas em 1991 – permaneceu limitado ao plano político e não se intensificou”. A queda de um governo pró-russo na Ucrânia e a adesão da Moldávia ao bloco europeu confirmaram essa triste expectativa.
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Fonte: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a4497349.xml&template=3898.dwt&edition=24291§ion=3605
Imagem: Jean-Marie
Le Pen (ao centro, de cinza) e sua filha Marine, líderes da Frente
Nacional, marcham em uma manifestação em Paris, no último dia 1º de
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