Talita Moretto*
Recentemente, eu
fui questionada se as práticas que envolviam o conceito da educomunicação (ou mídia
e educação) poderiam contribuir para incentivar o gosto pela leitura entre
crianças e adolescentes, considerando que muitas pesquisas* realizadas em nível nacional apontam para o baixo
índice dessa habilidade importante para a aquisição do conhecimento e para a
formação do sujeito crítico.
É
importante, antes de avaliar se os jovens integrantes de um grupo específico (uma
sala de aula, por exemplo), leem ou não, os professores perguntarem-se até que
ponto a cibercultura (relacionada aos fenômenos sociais relacionados à internet
e às formas de comunicação em rede) está sendo contemplada naquele ambiente e quais
são as possibilidades dadas aos alunos para reconhecer a leitura como parte do
processo do seu letramento e da sua aprendizagem.
Um
texto divulgado no portal Todos Pela Educação com o título "Leitura no papel ou na tela: a diferença está em quem lê” traz as considerações da professora da área de linguística da Universidade do
Estado de Santa Catarina (Udesc), Rejane Dania, a respeito das diferenças entre
a leitura em papel e na tela. Ela afirma que essas diferenças estão
relacionadas com as características de quem lê, ou seja, idade, experiência em
leitura e grau de contato com a tecnologia, fatores individuais de cada leitor,
é que vão apontar se ele terá dificuldades em apreender os significados em
qualquer um dos formatos. Então, conclui-se que o processo de leitura é o
mesmo, independente do suporte, mas a capacidade de absorção depende do objetivo
da leitura.
Terá
um jovem de 16 anos algum objetivo para ler clássicos da literatura em um livro
com páginas amarelas, letras pequenas e palavras rebuscadas? Pode ser que sim,
mas pode ser que não. No entanto, se o professor inserir a obra em uma proposta
de leitura interativa, com recursos visuais e incentivos de criação em cima do
tema, promovendo o trabalho em equipe, a cooperação, a partilha e a divulgação
dos resultados, talvez a leitura seja mais apreciada, talvez ela faça mais
sentido para esse jovem.
Na
década de 1990, Jesús Martín-Barbero definiu a educomunicação como "um
processo educativo que permite aos alunos apropriarem-se criativamente dos
meios de comunicação, integrar a voz dos estudantes ao Ecossistema comunicativo
da escola e, em última instância, melhorar a gestão do ambiente escolar com a participação dos educandos" (a definição pode ser
lida aqui: http://www.unicef.org/brazil/pt/br_educomunicacao.pdf )
Para
isso acontecer, os jovens precisam ter acesso aos meios de informação e às novas
tecnologias e o direito à livre expressão, lembrando que um "ecossistema”
inclui as pessoas, o ambiente e as suas interrelações. Neste sentido, eu
acredito que se os profissionais da educação entenderem as práticas educomunicativas
como alavancas para resgatar o potencial de criação do aluno, tornando-o agente
e participativo no ambiente da escola e no seu processo de ensino e
aprendizagem, a educomunicação pode incentivar a frequência da leitura, pois os
alunos produzem (escrevem) mais quando sabem que serão lidos, quando terão o
seu conhecimento, a sua criatividade e a sua criação conhecidos, e a leitura é
uma consequência da escrita.
Uma atividade dinâmica e atual que
incentiva a leitura e a escrita são os Programas Jornal e Educação, que
funcionam assim: aos alunos, dentro da sala de aula, é entregue um meio de comunicação
impresso, com informações que fazem parte do seu cotidiano; a leitura acontece
naturalmente e com interesse, pois as notícias estão relacionadas à cidade, ao
bairro ou à escola; com isso, debate-se o tema/assunto/fato exposto e
dialoga-se com os participantes da aula, constrói-se um olhar crítico; em
seguida, acontece uma pesquisa mais profunda em outros meios de informação
(outras fontes), a fim de se obter mais dados a respeito do assunto, o que
significa mais leitura; munidos com informações, os alunos partem para a
produção textual (no papel ou no computador); a livre expressão deve ser
incentivada e a opinião respeitada; um novo diálogo surge com essas reflexões. No
caso do Programa Vamos Ler , os textos dos alunos são publicados
e lidos pela população local. Trata-se de uma estratégia educomunicativa para
se trabalhar leitura e escrita.
Os
estudantes leem muito hoje, porém são imediatistas. Desejam estar informados,
mas que isso aconteça sem delonga; gostam de aprender, desde que a orientação
seja rápida. Percebe-se que não querem perder tempo, mas sim ler o máximo que
conseguirem para conhecer cada vez mais. Com a mediação certa, essa forma de
leitura também é possível.
Conhecer
o que o aluno espera de um ecossistema comunicativo ideal dentro da escola e
aceitar as mudanças nas esferas social e educacional, ambas sob a influência
das novas tecnologias e da web 2.0, e inovar as práticas de leitura com novas
plataformas, novos formatos de textos e de livros, pode ser o caminho para
melhorar os números das pesquisas.
*Um exemplo é a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil(3ª edição) realizada pelo Instituto Pró-Livro ,com
apoio da ABRELIVROS, CBL e SNEL. O estudo tem como objetivo medir intensidade,
forma, motivação e condições de leitura da população brasileira. A primeira
edição foi em 2011 e tornou-se uma referência quando se trata do comportamento
leitor; seus resultados orientaram estudos e projetos e a implantação de
políticas públicas do livro e da leitura no país.
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* Jornalista, educomunicadora, especialista em mídias e tecnologias na
aprendizagem, coordenadora de Programa Jornal e Educação e blogueira:www.salaaberta.com.
Twitter: @talitamoretto
Fonte: http://site.adital.com.br/site/noticia.php?boletim=1&lang=PT&cod=80818
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