Carlos “Catito” Grzybowski*
Sociólogos, antropólogos e outros estudiosos da área de ciências
humanas têm debatido, sem chegar a um consenso, sobre a definição de
família. Desde definições que limitam o conceito aos vínculos
consanguíneos envolvendo várias gerações até definições modernas que
denominam de família unicelular as pessoas que vivem sozinhas – embora
no censo norte-americano, tais pessoas são denominadas de “não-família”.
Por aí vemos a complexidade do tema.
A “família” brasileira, segundo o censo do IBGE, tem muitas
configurações nas quais inclui as “produções independentes”, casais com
várias uniões cujos filhos de distintas uniões vivem sob o mesmo teto e
os pares homoafetivos, entre outros.
Entretanto a ideia moderna de família está fundamentada sobre o
conceito existencialista do século 17 de indivíduo, em torno do qual
gira toda a construção da modernidade e desemboca no superlativo do
“individualismo”, que norteia desde a economia do consumo até os
atualmente denominados “direitos humanos”.
Seguir uma discussão nessa perspectiva nos leva a um beco sem saída,
pois do ponto de vista psicológico, família é uma unidade de unidades
tão entrelaçada que é impossível distinguir este conceito de indivíduo
nestas relações. Gregory Bateson, antropólogo construtor dos conceitos
fundantes da teoria sistêmica, afirma que não consegue perceber a
realidade como possuindo algo que seja independente de outro algo, sendo
difícil conceber o conceito de indivíduo.
Assim, viver em família, ou tornar-se família, pressupõe dois
elementos essenciais: diferença e complementaridade. O crescimento de um
organismo só se dá “em relação a” e isso pressupõe a diferença. Dois
elementos iguais em tudo não promovem crescimento ao conjunto e, por
conseguinte, se o conjunto não cresce, a parte que o compõe também não
cresce. A complementaridade se dá no reconhecimento da incompletude e
limitação do “indivíduo” e é sempre simétrica. Em outras palavras, eu só
me constituo a partir do outro: só me torno marido diante de uma
esposa; só me torno pai diante de um filho.
Concluindo: viver juntos debaixo de um mesmo teto, mesmo passando por
rituais, civis ou religiosos, não nos constitui família. Família
transcende estes conceitos e, como cita o filósofo francês Gabriel
Marcel, faz parte do que não pode ser problematizado – é um mistério! E
como tal só pode ser contemplado.
Eu só me constituo como família quando participo em uma relação com o
outro que é diferente e complementar, que me proporciona crescer na
relação a partir desta diferença e complementaridade.
Nossa sociedade moderna estimula vínculos baseados no individualismo,
onde o outro deixa de ser o que me constitui e passa a ser objeto para o
meu desfrute individualista, logo descartável quando o desfrute chega
ao fastio ou esbarra nas limitações de minha humanidade. Esses vínculos
são essencialmente não-família, independente da forma que possui. Por
exemplo: o divórcio fácil é resultado da não vinculação real, pois em
tal união jamais está presente a possibilidade de frustração a partir
das diferenças. Uniões como estas são pseudo-relações, que, como outras
similares, hoje em dia se denominam equivocadamente de “família”!
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*Sou psicólogo clínico com especialização em Terapia Familiar Sistêmica,
professor e coordenador dos cursos de especialização em Terapia Familiar
Sistêmica e de Aconselhamento Pastoral Familiar da Associação
Brasileira de Assessoramento e Pastoral da Família – EIRENE do Brasil.em
parceria com a FLT (Faculdade Luterana de Teologia – São Bento do
Sul/SC) e também do curso de pós-graduação em Dependência Química e
Comunidade Terapêutica na mesma faculdade. Além disso sou professor
convidado do IATES – Instituto de Aconselhamento e Terapia do Sentido do
Ser, do CEM – Centro Evangélico de Missões e do Instituto da Família da
Faculdade Sul Americana. Também coordeno as atividades administrativas
do Instituto Phileo de Psicologia, onde exerço minhas atividades de
terapeuta familiar.
Fiz minha graduação superior em Psicologia na UFPR. Fiz minha especialização em Terapia Familiar Sistêmica no Centro de la Família EIRENE em Quito/ Equador, sob a orientação do Dr. Jorge Maldonado. Ingressei no Mestrado em Psicologia da Infância e da Adolescência na UFPR, trabalhando com a questão do Conflito conjugal e o uso de drogas no adolescente.e posteriormente fiz doutorado em Lingüística Aplicada, também na UFPR.
Tenho vários livros publicados, além de artigos científicos em periódicos especializados e sou articulista da Revista Ultimato, juntamente com minha esposa.
Tenho também como ‘hobbie’ a literatura infanto-juvenil, vários livros publicados e a criação de personagens que receberam prêmios nesta categoria, sendo um deles a formiga ‘Smilingüido’ e outro a “Tribo Selvação”.
Fiz minha graduação superior em Psicologia na UFPR. Fiz minha especialização em Terapia Familiar Sistêmica no Centro de la Família EIRENE em Quito/ Equador, sob a orientação do Dr. Jorge Maldonado. Ingressei no Mestrado em Psicologia da Infância e da Adolescência na UFPR, trabalhando com a questão do Conflito conjugal e o uso de drogas no adolescente.e posteriormente fiz doutorado em Lingüística Aplicada, também na UFPR.
Tenho vários livros publicados, além de artigos científicos em periódicos especializados e sou articulista da Revista Ultimato, juntamente com minha esposa.
Tenho também como ‘hobbie’ a literatura infanto-juvenil, vários livros publicados e a criação de personagens que receberam prêmios nesta categoria, sendo um deles a formiga ‘Smilingüido’ e outro a “Tribo Selvação”.
Quadro “A Família” (1925), de Tarsila do Amaral
Fonte: http://ultimato.com.br/sites/casamentoefamilia/2014/05/14/familia-diferenca-e-complementaridade/
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