sexta-feira, 9 de maio de 2014

Uma cultura do encontro, fora e dentro

José Tolentino Mendonça*
Um dos temas mais recorrentes e inspiradores do magistério do Papa Francisco é o da  "cultura do encontro". É uma questão  mais árdua do que parece, mas também mais decisiva do que pensamos. Árdua porque o encontro não é infelizmente a tendência habitual gerada pela lógica competitiva e individualista hoje  dominantes. Árdua porque parece mais fácil a muitos níveis (sejam eles culturais, ideológicos, psicológicos, organizacionais ou outros) reproduzir confortavelmente modelos isolacionistas do que dispor-se a uma abertura, a um acolhimento e valorização daquilo que o outro é, ao risco de um projeto comum centrado não apenas no bem individual, mas naquilo que é melhor para o todo. E há que reconhecer que o efeito de fragmentação que o desencontro produz, não é apenas um problema que afeta o mundo. O Papa Francisco não se tem cansado de repetir que essa é uma ferida que dilacera também o  corpo eclesial. Tantas chamadas de atenção deveriam constituir um ponto de séria reflexão. É, de facto, um aspeto em que pensamos pouco: o da qualidade das relações intra-eclesiais. E é essencial que elas sejam avaliadas, cuidadas, reparadas... Neste como noutros assuntos a Igreja das origens é uma fonte de interpelação e inspiração. Desde o «vede como eles se amam» (Act 4,32) - exclamação que a primeiríssima comunidade cristã de Jerusalém despertava aos que a olhavam de fora – à preocupação permanente do apóstolo Paulo para que a comunhão na Igreja fosse mais do que uma bela palavra.

Podemos dizer que a "cultura do encontro" em que insiste o Papa Francisco corresponde ao ADN da própria Igreja. A sua vitalidade está realmente nessa sabedoria, que é competência humana desenvolvida a partir do dom do Espírito Santo, para congregar, para aprofundar criativamente os dinamismos de comunhão, para fazer cair os muros da inimizade, para colocar em prática a misericórdia, para instaurar uma cultura de diálogo, de corresponsabilidade e de cooperação. Precisamos de uma cultura do encontro, fora e dentro.
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* Teólogo. Escritor português.
Fonte: http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=100294
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