Um livro que parece ser uma longa carta ao Papa Francisco sobre a questão homossexual depois da famosa frase: "Quem sou eu para julgar um gay?". A pergunta da qual se parte: o que é a violência para Jesus? "Violência, para Jesus,
é imputar aos diferentes, aos rejeitados e aos oprimidos que eles são
constitutivamente negativos, colocando no coração da sua autoconsciência
a culpa e o desprezo por serem o que são, mesmo não tendo feito mal a
ninguém".
A resenha é da filósofa e jornalista italiana Delia Vaccarello, vencedora do prêmio For Diversity Against Discrimination, da União Europeia. O artigo foi publicado no jornal L'Unità, 07-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Se a violência é induzir os "diferentes" a punirem a si mesmos com as
próprias mãos, assimilando os ditames de uma doutrina segundo a qual a condição homossexual
é uma tendência de "desordem objetiva", torna-se evidente a contradição
entre o anúncio de salvação de Jesus e a condenação do amor gay e
lésbico por parte da doutrina oficial católica.
Essa é a tese na base do livro de Paolo Rigliano, a partir do dia 12 de maio nas livrarias, intitulado Gesù e le persone omosessuali (ed. La meridiana), que abre à esperança. Com a carta-livro, Rigliano (autor, dentre outros, de Amori senza scandalo, Ed. Feltrinelli; Curare i gay?, Ed. Cortina) reúne entrevistas realizadas ao longo de quatro anos com personalidades de destaque entre as quais aparecem Alberto Maggi, Vito Mancuso, Franco Barbero, Elizabeth Green.
A questão dirigida a todos é: "como seguir Jesus?". E ela é formulada a partir deste princípio: "Para Simone Weil,
violência é impor aos outros – os oprimidos – que sonhem e realizem o
sonho do dominador, egocêntrico e exclusivo. A mensagem de Jesus nega na
raiz essa violência, toda violência: compromete a criar as condições
interiores e exteriores para que floresça o desejo e o sonho de cada um –
dos diferentes e dos rejeitados em primeiro lugar".
A pergunta, então, torna-se uma vara divinatória que busca uma
solução capaz de promover uma "relacionalidade nova" reconhecida pela
doutrina: "Eu perguntei aos meus interlocutores como seguir Jesus e,
portanto, dialoguei com eles sobre por que e como realizar uma acolhida
integral da vida e do amor das pessoas lésbicas e gays: como
fundamentá-lo e anunciá-lo, como antecipá-lo e suscitá-lo".
Das respostas de Elizabeth Green, vem à tona que
Jesus não fala de homossexualidade porque isso não lhe interessa, porque
o Evangelho "nos liberta da necessidade de criar categorias como
'homossexuais', 'mulheres', 'imigrantes', das quais eu tenho que me
separar e que eu tenho que excluir para conseguir ser eu mesmo ou eu
mesma".
Para Green, a "grandeza de Jesus está no fato de que
ele se faz próximo de todos e de todas, vai ao encontro de todos e de
todas", enquanto a oposição heterossexualidade/homossexualidade
enrijece, multiplica as exclusões, engessa a sexualidade.
Alberto Maggi convida a buscar novas respostas: "A
grande força que Jesus deu ao Evangelho é quando ele diz: 'O Espírito os
acompanhará nas coisas futuras'. Ou seja, a comunidade tem a
capacidade, graças ao Espírito Santo, de dar novas respostas às novas
necessidades. Não se pode dar respostas velhas para as novas
necessidades, portanto não se pode buscar nas Escrituras respostas a
essa problemática".
Maggi se mostra confiante nas capacidades da Igreja
de encontrar caminhos para evitar a exclusão, justamente porque os
fechamentos sobre a sexualidade são e foram muito fortes, a ponto de
serem paradoxais, e a reflexão está em andamento: "Ora, o pecado do
divórcio é pior do que o de homicídio - diz o padre de Marche
–, porque, se você matar a sua esposa e depois se arrepender, você
retorna novamente à comunhão da Igreja. Mas se você se divorciar, não há
mais perdão para você. É possível que seja mais grave se divorciar de
um cônjuge do que matá-lo? Portanto, há comissões estudando isso, também
o divórcio e a condição homossexual".
A propósito de "lei natural", com base na qual a homossexualidade é definida como "contra a natureza", Vito Mancuso
fornece uma leitura alta disso, alinhada com os Evangelhos: "A lei que
vivifica a natureza é a lei da relação. Tudo o que favorece a relação
está em conformidade com a lei natural; tudo o que impede a relação é
contrário à lei natural". E o Evangelho é "relação que busca alimentar
os outros a ponto de se fazer alimento, relação que se esvazia para
saciar os outros". Portanto, argumenta Mancuso, o Evangelho diz "que
esses afetos que você desenvolve em nível físico devem poder ser vividos
sob a insígnia da relação total harmoniosa".
Com uma prosa discursiva, o livro, através dos diálogos, mostra como o
livre pensamento está presente dentro da Igreja. Ele oferece aos fiéis
homossexuais uma nova forma de ler a própria experiência, colocando em
primeiro lugar não a lei que exclui, mas sim a relação e o amor de Deus.
Ele se inscreve no rastro da interrogação traçada pelo Papa Francisco.
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Fonte: IHU online, 11/05/2014Imagem da Internet
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