Rosely Sayão*
Precisamos de um manual de etiqueta para mães na internet; seríamos donas da imagem de nossos filhos?
Temos dia para lembrar e/ou comemorar quase tudo: o último sábado foi
dedicado à internet. Já faz alguns anos que o dia 17 de maio é o Dia
Mundial da Internet.
Essa data me fez lembrar de um assunto que estou para comentar já faz um
tempo: precisamos de um manual de etiqueta para o comportamento de mães
na internet, tenham elas filhos crianças, adolescentes ou adultos.
Vamos começar com mães de bebês e crianças pequenas, com até três anos,
mais ou menos. Gente, precisa postar fotos dos filhos na internet? Bebê
comendo, sendo trocado, peladinho no banho, se alimentando, fazendo
birra, jogando futebol, dançando... Tem de tudo!
As mães que postam essas fotos, todas orgulhosas de seus rebentos,
querem exibir seus filhos a todos --em geral em redes sociais-- para que
reconheçam que não se trata de corujice da parte delas, e sim de plena
razão. "Estão vendo como estou certa quando falo de meu filho?", dizem
as entrelinhas.
Cada um de nós é dono da própria imagem e faz dela o que bem (ou mal)
quiser. Mas, seríamos nós donos da imagem de nossos filhos? Temos o
direito de publicá-las?
O que as mães não consideram na hora do impulso --não vou tratar de
questões de segurança na rede-- é que o filho vai crescer. E isso não é
ameaça ou promessa: é realidade. Crescido, o que achará ele das fotos
que sua mãe publicou? Como irá se sentir em relação a isso?
Quando interpelei uma mãe que conheço e que tem o costume de publicar
fotos do filho que tem menos de dois anos, ela respondeu que não
considerava isso um problema porque só veem as fotos quem está em sua
lista de "amigos". E daí? Isso não muda nada em relação à exibição da
imagem do filho.
As crianças um pouco maiores são até mais invadidas pelas mães nas redes
sociais. São fotografias de pequenas cartas que os filhos escreveram à
mãe, meninas vestidas com roupas provocantes e com legenda do tipo
"Aprendiz de Periguete", recebendo medalhas em algum tipo de competição,
com um penteado esquisito, fotos de anotações que a professora enviou
aos pais relatando algo sobre a criança na escola, por exemplo.
Não somos todos contra o tal de bullying? Por que, então, dar boas
razões para que os colegas de nossos filhos o pratiquem contra eles?
E os adolescentes? Ô, dó... Castigos e broncas públicas, que tal? Sim,
caro leitor, há mães que escrevem longos posts, em que marcam o nome do
filho que também está na mesma rede, sobre o que ele fez ou deixou de
fazer, sobre o castigo com que terá de arcar, muitas vezes esculachando o
comportamento do filho. E dá-lhes comentários de solidariedade de
outras mães! A mãe pode expor um filho assim?
Pois eu desconfio que essas mesmas mães não teriam pudor de reclamar na
escola por algum fato lá ocorrido e que elas tenham identificado como
"exposição" dos filhos perante os colegas.
Os filhos adultos também não são poupados. "Ele vai me matar quando vir
que eu publiquei esta foto", costumam ser as legendas de fotos de filhos
quando crianças ou adolescentes, com alguma característica que, hoje, é
motivo de riso.
Precisamos nos conter em relação a tais publicações. Nossos filhos
merecem nosso respeito. Precisamos da autorização deles para publicar
algo que diz respeito a eles.
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*Psicóloga formada pela PUC de Campinas
Fonte: Folha online, 20/05/2014
Imagem da internet
Para ler mais: http://focusfoto.com.br/pais-devem-ter-cuidado-ao-postar-foto-de-crianca-nas-redes-sociais/
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