quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A carroça do futuro

GILBERTO DIMENSTEIN

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O equipamento, com um motor elétrico, seria adaptado ao corpo humano,
seguindo os princípios da ergonomia
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SE SAIR do papel, uma invenção projetada num laboratório do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) vai dar um ar de modernidade a um personagem medieval das ruas paulistanas: as carroças movidas à tração humana dos catadores de papel.

O novo equipamento seria adaptado ao corpo humano, seguindo os princípios da ergonomia. Além de instrumento de trabalho, a carroça, movida com um motor elétrico, também serviria de casa -viria até com um espaço que serviria de casinha de cachorro, inseparável companheiro do carroceiro.

O projeto começou como um misto de arte e brincadeira, mas agora é levado a sério por seu autor, o engenheiro e designer Ary Perez. "Precisamos levar em conta que os carroceiros são parte importante da indústria da reciclagem. Precisam ser valorizados."

Inventar engenhocas sempre fez parte da vida de Ary. Quando menino, criava brinquedos e, com eles, aprendia os rudimentos da engenharia. Num naufrágio com amiguinhos na praia, aprendeu que uma balsa, por mais que se parecesse com o desenho que viu no livro, afundaria se feita com eucalipto.

Virou engenheiro e se dedicou no IPT, um dos maiores centros de pesquisa do Brasil, a desenvolver novos métodos de habitação popular. Mas acabou enveredando por outros caminhos, ao misturar engenharia, design e artes plásticas -é de sua coautoria uma das principais esculturas de Chicago (EUA).

É um dos inspiradores do projeto de criação de um museu de ciências voltado às crianças, uma ideia que se materializou, anos depois, na Fundação Catavento, hoje instalada no parque Dom Pedro.

As temáticas ecológicas entraram na sua vida não só com a pesquisa de materiais, mas em exposições sobre a Amazônia que fez pelo mundo.

Um pesquisador do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussetts) esteve em São Paulo e ficou espantado com o número de carroças. "Ele teve a ideia de um projeto para um veículo." Do laboratório do IPT, colocou um modelo na rua e pôde exibi-lo no arte-cidade, um projeto que produzia instalações artísticas espalhadas em espaços públicos.

Está agora montando parcerias na busca de alianças para que os catadores de papel ganhem o carrinho -seria bancado, imagina, por empresas interessadas em questões ambientais, com direito a anunciar no veículo. Seria também desenvolvida uma miniusina móvel de reciclagem.

Se sair do papel e não virar apenas um brinquedo, certamente Ary terá ajudado a inventar, em São Paulo, uma carroça do futuro.
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FONTE: Folha online, 03/02/2010

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