Ruy Carlos Ostermann*
Não há outra solução senão continuar pensando. Interrupções
do tipo que levam a gente a ficar alheio, distraído ou simplesmente sonolento e
repetitivo não ajudam
em nada. Na verdade, afundam no já conhecido de outros momentos,
uma dolorosa constatação de que não está acontecendo qualquer coisa ao redor.
Pensei nisso lendo uma das minhas referências intelectuais,
o poeta e pensador Ferreira Gullar, citação constante nas conversações que
sustento cidade afora. Uma crônica entristecida que escreveu essa semana na
Folha. Ele parece liquidado, derrubado, sem saída. Não sabe a quem mais
recorrer. Tudo é corrupção, safadeza, sacanagem ou falcatrua, no setor público
e também nas empresas, na vida cotidiana (deve pensar que sobra alguma coisa
para a imprensa também, claro, se ninguém escapa), enfim para onde se olhar com
um mínimo de atenção não se salva ninguém, não há mais em quem confiar uma
palavra que seja.
Não é apenas uma visão de mundo pessimista, derrotada, é a
forte impressão que provoca os noticiários de todos os dias. A imprensa não
poderia ficar alheia a CPIs, investigações policiais e jurídicas,
denúncias novas as cada dia, um nome depois do outro, articulados por uma culpa
irreprimível. Todos os dias, na primeira página, na manchete. Essa é uma de
suas tarefas, nada de errado.
Mas o que está nos faltando é justamente continuar pensando,
não se atolar até o pescoço no imenso noticiário da desonestidade nacional.
Isso é um fato, mas é preciso distinguir que nem tudo pode ser assim tão
degradante, que existem ao nosso redor – na convivência diária, algumas mais
afetivas, outras mais profissionais ou de amizades, muitas só anunciadas à
distância – provas suficientes de que vamos sobreviver.
E que elas justificam uma forma saudável de otimismo no ser
humano.
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* Escritor. Jornalista. Cronista
Fonte: http://www.encontroscomoprofessor.com.br/
imagem da Internet
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