Card. Gianfranco Ravasi*
É a doença que torna agradável e boa a saúde, a fome o apetite, a fatiga o repouso.
Como na eletricidade o pólo negativo e o positivo são
necessários para acender a faísca e a luz, assim a nossa vida é uma
ininterrupta oscilação entre extremos, e é ela que torna autêntica a
existência.
Não é por acaso – para dar um exemplo talvez banal –
que se deseja a reforma ao fim de uma vida inteira de trabalho e
depois, quando chegam aqueles dias tão despidos e monótonos, se sente
nostalgia pelo passado tecido de cansaço e repouso alternados. É isto
que observa, com a contundência do fragmento 111, o filósofo grego
Heraclito (século VI-V a.C.), que via a vida como um fluxo entre
positivo e negativo que impulsionava a criatura humana.
Um conjunto monocórdico de dias só aparentemente seria
tranquilo e sereno. No final resultaria incolor e maçador. Viver é,
portanto, saber dar a justa importância à mutação das situações e, em
alguns casos, fazer força para que a mudança aconteça. Afinal a própria
conversão é uma passagem do mal ao bem; a pessoa caída no pecado não é
só uma experiência nefasta, pode ser uma base para o ressurgimento, um
erro que transforma, como ensina Santo Agostinho.
É por isso que devemos estar gratos a Deus, que não nos
mergulha numa existência pincelada apenas a cinzento mas que nos faz
provar também o gosto amargo da dor para depois nos fazer rejubilar
intensamente na felicidade. Os dois pólos entre os quais correm
ininterruptamente as etapas da nossa vida são ambos necessários e
preciosos.
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*Presidente do Conselho Pontifício da Cultura
In Avvenire*Presidente do Conselho Pontifício da Cultura
Trad.: rjm
Fonte: http://www.snpcultura.org/entre_a_dor_e_a_alegria.html 06/06/2012
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