quarta-feira, 6 de junho de 2012

Entre a dor e a alegria

Card. Gianfranco Ravasi*
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É a doença que torna agradável e boa a saúde, a fome o apetite, a fatiga o repouso.
Como na eletricidade o pólo negativo e o positivo são necessários para acender a faísca e a luz, assim a nossa vida é uma ininterrupta oscilação entre extremos, e é ela que torna autêntica a existência.
Não é por acaso – para dar um exemplo talvez banal – que se deseja a reforma ao fim de uma vida inteira de trabalho e depois, quando chegam aqueles dias tão despidos e monótonos, se sente nostalgia pelo passado tecido de cansaço e repouso alternados. É isto que observa, com a contundência do fragmento 111, o filósofo grego Heraclito (século VI-V a.C.), que via a vida como um fluxo entre positivo e negativo que impulsionava a criatura humana.
Um conjunto monocórdico de dias só aparentemente seria tranquilo e sereno. No final resultaria incolor e maçador. Viver é, portanto, saber dar a justa importância à mutação das situações e, em alguns casos, fazer força para que a mudança aconteça. Afinal a própria conversão é uma passagem do mal ao bem; a pessoa caída no pecado não é só uma experiência nefasta, pode ser uma base para o ressurgimento, um erro que transforma, como ensina Santo Agostinho.
É por isso que devemos estar gratos a Deus, que não nos mergulha numa existência pincelada apenas a cinzento mas que nos faz provar também o gosto amargo da dor para depois nos fazer rejubilar intensamente na felicidade. Os dois pólos entre os quais correm ininterruptamente as etapas da nossa vida são ambos necessários e preciosos.

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*Presidente do Conselho Pontifício da Cultura
In Avvenire
Trad.: rjm 

Fonte:  http://www.snpcultura.org/entre_a_dor_e_a_alegria.html 06/06/2012

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