Jornalista britânico argumenta que a vida moderna está superestimulando as funções mais primitivas das pessoas, que encorajam a perda de controle
Obesa, descontrolada, viciada em jogos, pílulas, pornografia, e
apetrechos tecnológicos, a humanidade moderna se depara com tentações
para as quais é mal equipada para resistir. Damian Thompson, um
jornalista britânico que parou de beber após 14 anos de alcoolismo,
produziu um relato informativo e divertido do que ele retrata como uma
epidemia do vício.
A sua principal mensagem em The Fix é que os viciados não
sofrem de uma doença. Ele argumenta que o comportamento do dependente é
essencialmente voluntário: uma desordem cerebral química pode
influenciar o dependente a fazer más escolhas, que, apesar da má
qualidade, são escolhas. O ambiente também intensifica a tentação: o
autor cita a epidemia de vício em heroína entre tropas norte-americanas
na guerra do Vietnã. A maioria dos soldados descartou o hábito ao voltar
para casa.
O livro – escrito em um estilo ágil que camufla a sua profundidade –
presta uma atenção especial à química cerebral. Um conjunto de circuitos
mentais diz às pessoas para consumirem o máximo possível: a comida que
está aqui hoje pode ter desaparecido amanhã. Outras partes mais
sofisticadas permitem que elas se restrinjam. A vida moderna, argumenta
Thompson, está confundindo as partes inteligentes e superestimulando as
funções mais primitivas que encorajam a perda de controle. A dopamina – o
neurotransmissor associado ao desejo – desempenha um papel importante:
Thompson a chama de “droga mestra”. Ela contribui para que as pessoas
continuem a desejar coisas que já não lhes dão prazer.
As empresas miram em tais fraquezas, utilizando-se de tecnologia
alimentícia para criar combinações de gordura, sal e açúcar. Designers
de jogos de computadores testam seus produtos para torná-los viciantes.
Ou seja, tanto a necessidade de manipular sentimentos quanto a
habilidade para fazê-los cresceram de modo colossal. Inovações produzem
vícios baratos, fortes e insalubres fortemente vinculados ao que outrora
eram atividades prazerosas ligadas a metas evolucionárias (nutrição,
socialização e reprodução). Hoje em dia eles estimulam as pessoas muito
além da satisfação de suas necessidades biológicas. Condicionados pela
evolução para procurar prazer onde sabemos que podemos encontrá-lo, nos
encontramos agora em um ambiente que “nos bombardeia com recompensas de
que nossos corpos não precisam e que não ajudam em nada a garantir nossa
sobrevivência como espécie”.
Reagir a isso, o autor argumenta, vai requerer que as pessoas
recuperem a vigilância que seus ancestrais caçadores-coletores já
tiveram em relação a riscos letais. Mas será que as pessoas estão
dispostas a abandonar os seus vícios?
The Fix. Por Damian Thompson. Collins; 279 páginas; £18.99
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