filosófica com linguagem simples
De olho no público não especializado,
obras usam referências do
universo pop para debater Freud e Jung
Diversas obras que se destinam a decodificar o hermetismo da linguagem
da filosofia e das ciências humanas foram publicadas neste ano.
Este movimento editorial reflete uma demanda de leitores leigos -ou
simplesmente não especialistas em determinados temas- que buscam acesso a
um tipo de conhecimento mais específico.
A editora Leya, por exemplo, lançou a Coleção Entendendo, que procura
inovar o formato por meio de livros que usam a narrativa das HQs para
mostrar a história e o pensamento de Freud, em um volume, e de Jung, em
outro.
Pedro Almeida, editor da coleção, destaca a importância das referências
pop para familiarizar leitores não acadêmicos em assuntos que exijam
alta erudição.
"A linguagem dos livros técnicos pode ser complicada para leigos. Na
obra sobre Jung, Casanova e Madonna, são personagens que ilustram os
comportamentos extrovertido sensitivo e extrovertido sentimental, o que
facilita a compreensão", diz.
Ainda neste ano, a editora prepara mais quatro volumes da coleção: "Filosofia", "Slavoj Zizek", "Psicologia" e "Psicanálise".
O selo Difel, do grupo editorial Record, também tem investido em livros
que mostram a história do pensamento filosófico e humanístico.
Para Jeanne Marie Gagnebin, professora titular de filosofia na PUC e de
teoria literária na Unicamp, há hoje um fenômeno mercadológico em torno
da filosofia, suscitado em parte pela volta da disciplina ao ensino
médio e também pela crise das religiões.
"A filosofia e a psicanálise tendem a substituir outras concepções do
mundo, que ofereciam um quadro de referências estáveis. Como muitas
religiões tradicionais entraram em crise, há um surgimento de teorias
gerais de substituição sobre o sentido do mundo e da vida pessoal."
Esse tipo de publicação sempre evoca o debate sobre o risco de promover uma simplificação excessiva de conceitos complexos.
Por outro lado, pode ser facilitadora para leitores interessados em
determinados temas, mas que não têm formação específica para adentrar
obras cifradas que exijam prévios conhecimentos conceituais ou de
terminologia.
Segundo Gagnebin, obras deste tipo podem ser interessantes quando
conseguem preservar a precisão e a sutileza dos temas tratados,
mostrando as verdadeiras questões que estão por trás da fonte de sua
complexidade.
"No entanto, quando transformam um pensamento vivo e complexo em mais um
produto de consumo, não servem para muita coisa além de fazer
dinheiro", ressalva.
Famoso pelo didatismo, filósofo francês
lança novas obras no país
O filósofo francês Roger-Pol Droit é um contumaz escritor de obras que destrincham o universo filosófico para o público leigo.
Autor de 31 livros, traduzidos em 27 línguas, Droit enfrenta a
tecnicidade de signos e conceitos filosóficos -muitas vezes obscuros ao
leitor comum- para divulgar a disciplina além dos guetos de
especialistas e acadêmicos.
Pesquisador do Centre National de la Recherche Scientifique (Centro
Nacional de Pesquisa Científica) e também colunista do jornal "Le
Monde", Droit diz que a ininteligibilidade, na filosofia, é mera questão
de vocabulário.
"É preciso distinguir um pequeno número de termos técnicos, realmente
necessários para expressar ideias muito específicas, das questões
principais da filosofia, que são absolutamente possíveis de serem
abordadas com a linguagem cotidiana."
"Sócrates não questionava sobre a 'titulação acadêmica' antes de debater com as pessoas na rua", sentencia.
No Brasil, o autor já publicou suas obras por diferentes editoras. Neste
ano, lançou "Um Passeio pela Antiguidade: Na Companhia de Sócrates,
Epicuro, Sêneca e Outros Pensadores" (Difel) e "Filosofia em Cinco
Lições" (Nova Fronteira) -veja acima.
Droit diz acreditar que sua experiência de décadas trabalhando com
filosofia o ajude na escrita de livros didáticos e compreensíveis. "Acho
que quanto mais você sabe, de maneira mais simples você é capaz de
escrever", diz.
"Eu falo tanto a linguagem filosófica, como acadêmico, quanto a
linguagem do dia a dia. O desafio é traduzir a primeira forma para a
segunda. Tento nunca esquecer como as pessoas 'comuns' falam, e que
filósofos não são ETs com pensamentos impossíveis de serem entendidos",
afirma.
Para Droit, suas obras podem levar leitores aos textos originais dos
grandes filósofos. "Tudo depende do primeiro encontro", brinca. (MA)Veja mais:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u712.shtml
-------------
Reportagem por MARCIO AQUILES DE SÃO PAULO
Fonte: Folha on line, 05/06/2012
Imagem da Internet
Nenhum comentário:
Postar um comentário