Tyler Woolstenhulme
pode ser relutante em admitir, mas às vezes ele não está prestando
atenção na igreja. O mórmon de 31 anos, mais de uma vez, se sentou no
banco da sua congregação, em Sandy, Utah, e deixou a sua mente vagar. Quando isso acontece, ele puxa o seu iPhone e às vezes joga algum jogo. Ou talvez envia mensagens aos seus amigos
do outro lado do corredor.
"Eu aproveito o tempo na igreja para conversar com pessoas com quem
eu não tenho contato há algum tempo", disse. "Eu envio mensagens a
amigos ou à família".
A questão é que, segundo ele, cerca de metade da congregação também usa celulares e tabletes durante o sermão.
"Eu vejo as pessoas jogando o tempo todo. Eu já as vi assistindo
jogos de futebol", disse ele sobre outros congregantes e seus
dispositivos móveis.
Para muitos fiéis entediados, mexer nos smartphones ou nos tabletes é
o equivalente no século XXI a jogar jogo-da-velha ou a cochilar durante
os ritos.
Isso pode ser um problema especialmente para os membros mais jovens, a
primeira geração a não conhecer nenhum estilo de vida sem celulares ou
redes sociais, e para quem os dispositivos digitais são "como um
apêndice do seu corpo", disse Colleen Gudreau, porta-voz da diocese católica de Salt Lake City. "Eles não veem isso no mesmo contexto que os adultos".
Ligar o iPhone ou o iPad pode ser
especialmente tentador para os mórmons em busca de uma pausa, de acordo
com alguns membros, possivelmente, em parte, devido aos cultos de
domingo, que se estendem por cerca de três horas.
A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias não tem nenhuma política oficial que proíba o uso de dispositivos móveis durante os ritos, segundo a porta-voz Ruth Todd.
De fato, aplicativos móveis da Igreja dos mórmons que contêm
Escrituras, lições, palestras, sermões e muito mais podem intensificar
ao invés de obstruir a experiência do culto.
Os dispositivos também podem ser uma dádiva de Deus para os pais que
querem entreter os seus filhos inquietos. Mas, às vezes, muitos deles
estão acessando o Facebook, verificando resultados esportivos, lendo notícias ou jogando.
Quase todas as igrejas tem transgressores. Um fiel mórmon estava tão focado ao jogar Candy Crush
no seu telefone que ele não percebeu que o culto tinha acabado, e todos
tinham ido embora. Outro estava jogando um jogo de corrida em um
tablete, e segurava e girava o iPad como se fosse um volante durante o culto.
Quando Kurt Anderson era membro de uma congregação
de solteiros dos mórmon, ele percebeu que de 60% a 80% dos fiéis estavam
nos seus telefones e tabletes durante o culto. Agora que ele dirige a
sua própria congregação de membros mais velhos, ele ainda vê cerca de
10% deles nos seus dispositivos móveis durante os serviços.
"Não é nada muito terrível", disse Anderson, "mas existem alguns
momentos em que você tenta encurralá-los, em que você diz: 'Deixemos de
lado os dispositivos eletrônicos e tentemos nos conectar como pessoas'".
Em alguns casos, os dispositivos se tornaram tão distrativos que é
normal lembrar os paroquianos antes dos cultos que desliguem as suas
unidades móveis. Alguns bispos mórmons mencionaram isso em suas falas.
Outras igrejas colocam cartazes ou lembram seus fiéis nos seus boletins
semanais.
Em uma congregação mórmon em Cottonwood Heights, as
adolescentes começaram a colocar seus celulares em uma cesta antes do
início do encontro, quando o envio de mensagens saiu do controle. A Igreja Presbiteriana Westminster, em Burbank, Califórnia, chegou até a produzir um vídeo muito popular no YouTube,
com mais de 3,9 milhões de visualizações, que brinca que, se o seu
telefone tocar durante o sermão, "você irá direto para o inferno" [veja o
vídeo aqui].
"Lembre-se", salienta o narrador: "Deus quer a sua total atenção".
"Muitas igrejas têm anúncios no início informando que este é um
momento sagrado e que, por favor, coloquem os seus dispositivos de lado.
É como em um avião", disse Samantha Almanza, diretora da Pastoral Juvenil e de Jovens Adultos da diocese católica de Salt Lake City.
"Trata-se simplesmente de um tempo para se dedicar a Deus e não ao seu
dispositivo móvel, e isso é ensinado e reforçado a eles".
Agora que os dispositivos eletrônicos se tornaram tão ubíquos nas igrejas, alguns clérigos querem usá-los a seu favor.
"Na verdade, estou explorando um serviço em que eu encorajo as pessoas a me tuitarem", disse o Rev. Dennis Shaw, pastor da Igreja Metodista Unida Hilltop, em Sandy.
"Assim, enquanto eu faço o serviço, eu tenho o meu celular nas minhas
mãos e acompanho as novas postagens e o diálogo no Twitter. É uma forma
de envolver as pessoas potencialmente".
O Rev. Ray Waldon, deão da Catedral Episcopal de São Marcos, em Salt Lake City, recentemente participou de um seminário em San Diego intitulado Digital Jesus,
em que os líderes eclesiásticos foram incentivados a fazer com que seus
membros tuítem e postem mensagens sobre os sermões durante o rito. Ele
disse que as pessoas mais jovens que usam as mídias sociais são chamadas
de "nativos digitais", enquanto os fiéis mais velhos são conhecidos
como "imigrantes digitais".
"Os nossos nativos digitais estão realmente prestando atenção. O que
eles fazem é enviar mensagem ou tuitar a palavra de Deus", disse. "A
minha experiência na catedral não é que eles não estão prestando
atenção. É exatamente o oposto: eles estão tão comovidos que querem que a
palavra de Deus vá ao encontro dos outros".
A Igreja mórmon também abraçou a era digital, produzindo dezenas de
aplicativos móveis oficiais para celulares e tabletes que permitem que
os membros façam buscas nas Escrituras ou preparem os encontros da
escola dominical.
"Eu vejo o desenvolvimento da tecnologia como o cumprimento de uma profecia judaico-cristã", disse Tracy Cowdell, líder regional em Sandy da Igreja mórmon.
"Isaías, que falou sobre o nosso tempo, disse: 'A
terra estará cheia do conhecimento do Senhor, assim como as águas enchem
o mar'. A tecnologia é uma maneira de nos conectar com mais pessoas e
de que mais pessoas tenham mais acesso à informação espiritual".
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*A reportagem é de Vince Horiuchi, publicada no jornal The Salt Lake Tribune, 20-08-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: IHU on line, 02/09/2013
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