Nuno Costa Santos*
Em
Portugal é tudo em princípio. Em princípio esta crónica vai chegar ao
fim. Fazer essa nota do “em princípio” é uma das nossas marcas. Devia
candidatar-se o “em princípio” a património imaterial da humanidade.
Expressa a nossa cultura e a nossa identidade. Nenhuma acção por aqui é
garantida. O “garanto-lhe” soa sempre estranho. Quando alguém, numa
oficina, nos diz: “Garanto-lhe que vai ter o carro pronto às 6h”, uma
pessoa fica entre o desconfiado e o desconsolado. “Não queria antes
dizer: ‘Em princípio vai ter o carro pronto às 6h?’” Ninguém está
preparado para a certeza. O escândalo acontece se o funcionário
porventura remata: “Se não tiver o carro pronto às 6h pode levar o meu à
vontadinha.” “Tá maluco ou quê?”
Nem os serviços públicos escapam a esta filosofia da incerteza. Vamos às finanças: “O reembolso dos impostos em princípio vai chegar daqui a 15 dias.” Pausa. “Se não chegar, venha cá ou então telefone. Peça para falar com a Gabriela.” Pergunta-se à Gabriela: “Quem é que, em princípio, me vai reembolsar pelo cacau gasto em transportes e telefonemas?” “Em princípio, ninguém.” Pois. Calculava. Não se importa que, com toda a certeza, me passe dos carretos?
O “acho que” também se usa muito. É um início de frase que nos fica da infância. Quando se pergunta a um miúdo “gostas mais do teu pai ou da tua mãe?” a resposta, já arriscada, é “acho que é do meu pai, que me compra mais jogos para a Play Station”. Quando se pergunta ao mesmo miúdo o que sonha ser quando for grande a resposta, nestes dias, é no máximo “acho que quero ser astronauta ou emigrante”. Sim, o “acho que”, expressão naturalmente infantil e juvenil, própria das idades da indecisão, sobrevive na lusitana idade adulta. “Acho que isto vai lá” é a nossa sentença. O “acho que” também devia seguir como proposta para a UNESCO.
Nem os serviços públicos escapam a esta filosofia da incerteza. Vamos às finanças: “O reembolso dos impostos em princípio vai chegar daqui a 15 dias.” Pausa. “Se não chegar, venha cá ou então telefone. Peça para falar com a Gabriela.” Pergunta-se à Gabriela: “Quem é que, em princípio, me vai reembolsar pelo cacau gasto em transportes e telefonemas?” “Em princípio, ninguém.” Pois. Calculava. Não se importa que, com toda a certeza, me passe dos carretos?
O “acho que” também se usa muito. É um início de frase que nos fica da infância. Quando se pergunta a um miúdo “gostas mais do teu pai ou da tua mãe?” a resposta, já arriscada, é “acho que é do meu pai, que me compra mais jogos para a Play Station”. Quando se pergunta ao mesmo miúdo o que sonha ser quando for grande a resposta, nestes dias, é no máximo “acho que quero ser astronauta ou emigrante”. Sim, o “acho que”, expressão naturalmente infantil e juvenil, própria das idades da indecisão, sobrevive na lusitana idade adulta. “Acho que isto vai lá” é a nossa sentença. O “acho que” também devia seguir como proposta para a UNESCO.
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* Cronista português.
Fonte: http://www.sabado.pt/
Imagem da Internet
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