Filipe Goulart, 27 anos, lidera uma equipe de 82 pessoas
Foto:
Fernando Gomes / Agencia RBS
Jovens estão assumindo posições de chefia nas empresas e suas características marcam um novo modelo de liderança
Sabe aquele guri (ou guria) que entrou no escritório há alguns anos,
ainda com aparelho nos dentes, incrivelmente atento a tudo e acabou
ensinando todo mundo a baixar aplicativos no smartphone? Pois, então,
ele cresceu e agora é chefe.
Anos de atuação, carreira consolidada e tempo de casa já não são mais
determinantes para se estabelecer como gestor. A primeira leva de
integrantes da geração Y começa a capitanear equipes e, da mesma forma
que ocorreu quando entrou no mercado de trabalho, provoca mudanças
significativas no universo da gestão de pessoas e entre colegas.
Multifuncionais, tecnológicos e arrojados, os novos líderes regem
pelo exemplo. Com a questão da hierarquia mais flexível, costumam
delegar mais e cobrar resultados. Movidos a desafios e destemidos,
tentam todos os caminhos para atingir o sucesso e acertam com a mesma
intensidade com que erram.
— Estamos em fase de aprendizado, tanto para quem é da área de
recursos humanos, quanto para quem assume o cargo de gestão ou para as
equipes. Como resolver isso? Oferecendo um ambiente que priorize o
respeito mútuo e propicie a troca de experiências — destaca Laira Seus,
vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Estado
(ABRH-RS) e responsável pelo seminário Plug and Play, que tratou do tema
no mês passado, em Porto Alegre.
A singularidade no cenário atual dos quadros funcionais das
organizações fica evidente com a expectativa de vida profissional
crescendo na proporção do aumento da longevidade no Brasil. Assim, cada
vez mais se vê pessoas jovens chefiando times formados por integrantes
de idades variadas. De acordo com Sidnei Oliveira, autor de uma série de
livros sobre a geração Y, essa convivência entre pessoas que começaram a
trabalhar em épocas variadas pode gerar conflitos:
— A nova leva de trabalhadores, diferentemente de seus pais, já
entrou no mercado com mais informação, mais estudo, geralmente com
conhecimento de outro idioma. Eles acham que já sabem tudo. Os sêniores,
por outro lado, voltaram para as salas de aula. Então, o confronto
acontece quando o jovem encontra esse veterano turbinado. Ambos
permanecem competitivos e prontos para se enfrentar.
Para não haver embates entre profissionais de gerações diferentes, as
organizações adotam soluções para desenvolver o potencial dos chefes
juniores. No LinkedIn, por exemplo, há treinamentos internos e até
cursos no Exterior.
— Sabendo que a geração Y é motivada por desafios e busca crescimento
rápido. Incentivamos que as pessoas corram riscos inteligentes e
oferecemos esse suporte, promovendo a troca de experiências aqui e lá
fora. A barreira de hierarquia não está ocorrendo só no Brasil e temos
essa comprovação quando as pessoas voltam para cá — destaca Alexandre
Ullmann, diretor de recursos humanos do site de relacionamento
profissional.
Tratamentos diferenciados
Aos 27 anos, Filipe Goulart lidera uma equipe de 82 pessoas na rede
de lojas de suplementos alimentares e artigos esportivos Flex Mega
Store.
O seu maior desafio foi coordenar profissionais com até uma década a
menos e mais de uma década além da sua idade, questão que o ex-fuzileiro
naval aprendeu a tirar de letra:
— Gerir pessoas com mais idade requer um cuidado grande, quando vou
me dirigir à equipe, falo de maneira diferente conforme cada geração.
Até as premiações são adequadas à faixa etária de cada grupo: se para a
gurizada temos convites para baladas, para os mais velhos são jantares
em restaurantes bacanas — afirma Goulart.
O que essa galera tem a oferecer e a aprender
Pontos fortes
— São digitais e grupais, mas criam e desfazem laços naturalmente.
— Arrojados e com menos medo de arriscar.
— Não se prendem a hierarquias e são adeptos da meritocracia.
— Regem pela referência, dando exemplo.
— Costumam delegar, mas cobram resultados.
— Têm facilidade de comunicação.
— Valorizam a qualidade de vida.
Pontos fracos
— Destemidos e apressados, se arriscam e erram mais.
— Focados nos resultados, são menos sensíveis aos problemas dos seus colaboradores.
— Passam a ideia de serem líderes frios.
— Individualistas, nem sempre estão atentos aos outros.
— Não costumam criar vínculos com as empresas, e vão em busca de novas oportunidades quando se sentem pouco motivados.
-------------------------
Reportagem por Maria Amélia Vargas
Nenhum comentário:
Postar um comentário