Cláudia Laitano*
O otimista é um forte. Caminha pela vida e pelas redes
sociais desviando das armadilhas do derrotismo moral como quem percorre
as calçadas mal conservadas da cidade. Atento, mas confiante. Paciente,
mas não necessariamente resignado.
Eis que esse sujeito esperançoso e sempre disposto a compartilhar uma boa notícia com os amigos fica sabendo que foi aprovada, no Rio de Janeiro, uma lei que proíbe o uso de bonés no comércio e em locais públicos da cidade. O objetivo? Evitar que criminosos escondam o rosto durante assaltos.
Um otimista radical, desses que vivem em casas sem grades e acreditam que o país vai funcionar como um relógio suíço durante a Copa, poderia argumentar que a Lei do Boné deve mesmo inibir os assaltantes – principalmente os que não gostam do próprio cabelo e que ficarão obviamente constrangidos de sair de casa com a cabeça descoberta. Um observador mais cético dirá que se trata de apenas mais uma lei tola, entre tantas aprovadas todos os dias nos mais distantes rincões do nosso país continente, que tenta resolver problemas complexos de forma simplória. Um pessimista trágico, porém, notaria que o problema com a Lei do Boné não é sua validade ou aplicabilidade, mas o que simboliza: o descontrole da violência de um lado e a tentativa de controlar a vida cotidiana do outro.
Os futuros distópicos imaginados pela ficção costumam oscilar entre dois extremos: o das regras totalitárias e o da ausência absoluta de leis. 1984 e Fahrenheit 451, por exemplo, imaginam sociedades em que cada detalhe da vida cotidiana é controlado por um Estado onipresente que supostamente faz o que faz para proteger o cidadão do caos da democracia e da liberdade. Já filmes como Mad Max e livros como A Estrada, de Cormarc MacCarthy, projetam um planeta em colapso, em que a degradação moral e a escassez de recursos levam a um vale-tudo em que cada um luta apenas por si e pela própria sobrevivência. A Lei do Boné realiza a proeza de fazer com que os brasileiros se sintam desamparados e hipercontrolados ao mesmo tempo – se é que isso é possível.
Para quem consegue não levar tão a sério a Lei do Boné, a boa notícia é que a luta diária pela sobrevivência do otimismo não é uma causa totalmente perdida. Acaba de chegar ao Brasil o livro O Otimista Racional – Por que o Mundo Melhora, do cientista Matt Ridley. O autor argumenta que, apesar de os pessimistas dominarem a opinião pública e o senso comum, nosso cérebro coletivo trabalha incessantemente para que as coisas fiquem melhores para a espécie como um todo. E garante: o século 21 vai assistir ao aumento da prosperidade humana e da biodiversidade. Os usuários de boné assim esperam.
Eis que esse sujeito esperançoso e sempre disposto a compartilhar uma boa notícia com os amigos fica sabendo que foi aprovada, no Rio de Janeiro, uma lei que proíbe o uso de bonés no comércio e em locais públicos da cidade. O objetivo? Evitar que criminosos escondam o rosto durante assaltos.
Um otimista radical, desses que vivem em casas sem grades e acreditam que o país vai funcionar como um relógio suíço durante a Copa, poderia argumentar que a Lei do Boné deve mesmo inibir os assaltantes – principalmente os que não gostam do próprio cabelo e que ficarão obviamente constrangidos de sair de casa com a cabeça descoberta. Um observador mais cético dirá que se trata de apenas mais uma lei tola, entre tantas aprovadas todos os dias nos mais distantes rincões do nosso país continente, que tenta resolver problemas complexos de forma simplória. Um pessimista trágico, porém, notaria que o problema com a Lei do Boné não é sua validade ou aplicabilidade, mas o que simboliza: o descontrole da violência de um lado e a tentativa de controlar a vida cotidiana do outro.
Os futuros distópicos imaginados pela ficção costumam oscilar entre dois extremos: o das regras totalitárias e o da ausência absoluta de leis. 1984 e Fahrenheit 451, por exemplo, imaginam sociedades em que cada detalhe da vida cotidiana é controlado por um Estado onipresente que supostamente faz o que faz para proteger o cidadão do caos da democracia e da liberdade. Já filmes como Mad Max e livros como A Estrada, de Cormarc MacCarthy, projetam um planeta em colapso, em que a degradação moral e a escassez de recursos levam a um vale-tudo em que cada um luta apenas por si e pela própria sobrevivência. A Lei do Boné realiza a proeza de fazer com que os brasileiros se sintam desamparados e hipercontrolados ao mesmo tempo – se é que isso é possível.
Para quem consegue não levar tão a sério a Lei do Boné, a boa notícia é que a luta diária pela sobrevivência do otimismo não é uma causa totalmente perdida. Acaba de chegar ao Brasil o livro O Otimista Racional – Por que o Mundo Melhora, do cientista Matt Ridley. O autor argumenta que, apesar de os pessimistas dominarem a opinião pública e o senso comum, nosso cérebro coletivo trabalha incessantemente para que as coisas fiquem melhores para a espécie como um todo. E garante: o século 21 vai assistir ao aumento da prosperidade humana e da biodiversidade. Os usuários de boné assim esperam.
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* Escritora. Jornalista da ZH.
Fonte: ZH online, 26/04/2014
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