Característica de um tempo anunciado
Tom
Wolfe, jornalista norte-americano, foi um dos precursores do Jornalismo
Literário (também conhecido como New Journalism) - estilo que surgiu no começo
dos anos 60 e que permitia ao escritor usar as técnicas da literatura para dar
uma abordagem mais romanceada dos fatos, com um intenso, detalhado e profundo
trabalho de apuração [como também faziam Gay Talese e outros]. O método viria a ser amplamente usado na imprensa mundial e o nome
de Wolfe foi reconhecido por suas reportagens e ensaios, ainda hoje, entre os
mais aclamados da história. Ele também ficou conhecido por escrever livros de
ficção, como o best-seller A fogueira das vaidades (1984) e Um homem por inteiro (1998). Mas
Tom Wolfe é famoso não somente por desenvolver um novo estilo de escrita. Ele
também construiu sua fama por ter uma língua afiada a gerar polêmicas - seja
com os políticos, com a elite ou com a classe de artistas - ele fala o que os
outros não ousam. Com suas inquietantes análises filosóficas acerca de questões
existenciais e sócio-políticas, Wolfe torna-se um dos mais profundos pensadores
de nossa época. Por esse motivo, o pessoal do Fronteiras do Pensamento buscou
saber mais sobre esse interessante jornalista e suas ideias. Afinal, desafiar a
mente e expandir as fronteiras do nosso pensamento é o caminho para um olhar
mais crítico e profundo sobre o mundo à nossa volta.
Em
conferência ao Fronteiras, Wolfe retomou o pensamento do filósofo alemão
Friedrich Nietzsche para argumentar que a célebre frase “Deus está morto” não é
apenas uma conclusão, mas uma profecia. Segundo o jornalista, os dias atuais
têm confirmado uma previsão que Nietzsche fez em 1880. Na época, ele disse: “Deus
está morto.” E revirou os olhos e os ânimos dos mais conservadores. No entanto,
segundo a teoria de Wolfe, Nietzsche não quis dizer que Deus estava, de fato,
morto, mas sim que Deus estava morto nos corações da maioria dos europeus ricos
e instruídos. Ora, podemos nós, hoje, afirmar o contrário? Se refletirmos,
rapidamente, em como temos vivido nas últimas décadas, não é difícil perceber
que não há espaço para Deus - ou qualquer sentimento de generosidade, empatia e
solidariedade - nos corações. Se bem observarmos, concluiremos facilmente que
hoje o individualismo impera no modo de viver de uma grande parcela da
sociedade. O “outro” já não existe. Podemos, portanto, certamente concordar que
Deus está morto nos corações das pessoas. O “Deus” que Nietzsche usa em sua
frase nos remete à ideia cristã do que Deus representa: amor, no mais amplo
sentido da palavra. Sendo assim, essa impiedosa conclusão de Nietzsche foi uma feliz previsão, por mais que não
gostemos do pessimismo do filósofo perante o espírito das pessoas.
Wolfe
ressalta a ideia que o filósofo alemão insistiu em pregar: que dentro de 25
anos - falando a partir de 1880 - veríamos o nascimento de irmandades
nacionalistas bárbaras, cujo único objetivo seria retirar as propriedades de
outras pessoas. Isso levaria, rapidamente, a guerras que nunca foram
empreendidas antes, guerras catastróficas que vão além da imaginação, afirma
Wolfe. “Primeiro, ele prevê o Nazismo e o Comunismo. Depois, prevê a Primeira e
a Segunda Guerra Mundial”, conclui.
É
por isso que Wolfe atenta para o fato de que devemos prestar atenção ao que
Nietzche fala sobre o nosso tempo. Ele diz que as religiões sobreviverão a
duras custas durante o século 20, baseadas no que quer que tenha sobrado do
espírito do século 19. Finalmente, elas serão levadas ao fim e irão morrer de
osteoporose. Mas há ainda algo pior, ainda pior do que as grandes guerras, o
que segundo Nietzsche é aquilo que será o eclipse de todos os valores. Seremos
ainda atingidos por uma dor terrível, o egoísmo do ser humano ainda vai
ultrapassar todos os limites até tornar-se tão natural que nenhuma outra ideia,
senão a nossa própria, terá alguma validade, e ela somente existirá se seu
propósito for tirar algum tipo de vantagem em todos os contextos. Essa é a
conclusão à qual Nietzche chegou. Podemos afirmar que essa é uma ideia sem
cabimento? Podemos afirmar ao contrário? Segundo Tom Wolfe, não. O jornalista
afirma que, a começar pela Genética e pela Neurociência, podemos perceber que
cada vez mais o desenvolvimento está predeterminado, como se já não houvesse
motivo para que tentemos “consertar” ou incentivar as próximas gerações a ser
melhores do que nós. A dor virá. O homem está sem esperança na sua coexistência.
Deus está morto.
O
Fronteiras do Pensamento nos convida a assistir ao vídeo “Tom Wolfe - Marxismo e o politicamente correto”, no qual ele
explica a amplitude do conceito “religião de escravos”, de Nietzsche, cruzando
dois nomes da história por meio de uma delicada e profunda análise: Marx e
Jesus Cristo.
Leia
um trecho do vídeo: “Ambos, marxismo e o politicamente correto, são o que
eu chamo de ‘marxismo rococó’, começaram com o Sermão da Montanha de Jesus. E
Jesus propôs um conceito revolucionário, que era: Os primeiros serão os últimos
e os últimos serão os primeiros. Os mansos herdarão a Terra. É mais fácil um
camelo passar no buraco de uma agulha do que o rico entrar no Céu. Essas ideias
eram explosivas. Nada próximo dessa mensagem jamais havia sido dado. Nós,
infelizmente, não sabemos muito da história do início do cristianismo, mas,
pelo século IV, em 325 ou 330 d.C., Constantino, o imperador romano, declarou
sua conversão ao cristianismo. Isso deve ter fortalecido muito os pobres.
Nietzsche o chamou de religião dos escravos, claro que ele estava certo. Ela
deu aos escravos esperanças que eles não teriam de outra forma. Isso foi usado
por Marx, mas ele não disse que os mansos herdarão a Terra, ele disse que os
proletários herdarão a Terra. E, no politicamente correto atual, são os desfavorecidos,
as pessoas mais tristes que existem, que herdarão a Terra.”
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Fonte:http://www.criacionismo.com.br/2014/04/tom-wolfe-deus-esta-morto-no-coracao-de.html
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