quarta-feira, 30 de abril de 2014

Por que somos todos macacos (“y otras cositas más”)

Henrique A. Camargo*

Foi fantástica a ação de Daniel Alves ao comer a banana atirada em sua direção durante um jogo do Barça. A atitude ganhou o mundo. Foi de uma espontaneidade e inteligência tão grandes, que furou até mesmo uma iniciativa preparada por Neymar e um time de comunicadores. No escurinho dos bastidores, eles armavam uma ação com o mesmo roteiro. Então, melhor que tenha sido com a simplicidade de Dani e ganhado força com o carisma de Neymar. Assim, a coisa toda tem mais legitimidade e abafa qualquer especulação sobre o oportunismo da situação. O que vale é a mobilização que essa campanha está causando. #Somostodosmacacos é o que eu chamaria de comunicação do bem.

Ah… Sobre oportunismo, estou ignorando a ação da empresa de um apresentador de TV. Pelo que acompanho desse homem, sua aura de bom moço só acende quando as câmeras estão ligadas. Mas esse julgamento prefiro deixar para a opinião pública.

Voltando ao que interessa, mais do que um ato contra o racismo, #somostodosmacacos enfatiza a incompreendida obviedade: todos os homens, mesmo que não sejam macacos, são iguais e fazem parte da mesma raça humana.

Mas daí alguém pode argumentar que as diferenças entre brancos e negros são gritantes sim e que definitivamente não são parte da mesma raça (talvez nem da mesma espécie).

Pois bem, para responder a essa questão podemos apelar para os fatos científicos. Em fevereiro, o Mercado Ético publicou um artigo do filósofo Roberto Malvezzi, que leva justamente o mesmo título da campanha: Somos todos macacos (tenho certeza que Neymar e seus criativos se inspiraram nesse texto). Nele, o articulista aponta que “entre os seres humanos, a identidade genética é de 99,9%. Todos nós temos origem na África e pode haver mais diferença entre dois louros que entre um louro e um africano”. Com tamanha semelhança, o argumento de raças vai pelo ralo.

Mas essa história de compatibilidade genética não para por aí. O DNA humano é tão semelhante ao de outros animais, que fica difícil acreditar que somos tão diferentes assim. (Saiba mais aqui) Olha só, chipanzés compartilham 99% dos genomas humanos. Olhando sob essa perspectiva não é difícil perceber que #somostodosmacacos no sentido literal da frase. Mas também somos parentes próximos dos camundongos. Sim, temos 97,5% de semelhança genética com esses adoráveis roedores. Nos gatos, essa relação é de 90%, e na mosca da fruta, de 60%. Até vegetais como o repolho têm alguma coisa de humano, com 40% de compatibilidade entre os DNAs. Vegetariano que sou, não vou conseguir evitar o sentimento de canibalismo em minhas próximas refeições.

Talvez esses testes de DNA não sejam tão conclusivos quanto aqueles do programa do Ratinho, mas uma coisa é certa: toda a vida na Terra, desde a mais inteligente até a mais primitiva, tem algum grau de parentesco entre si. E assim sendo, começo a entender a complexa relação de amor e ódio entre os humanos e a Natureza. #somostodosumagrandefamilia
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*Henrique é jornalista e pelo exercício da profissão apresenta uma forte tendência ao ceticismo. Para expressar sua busca pela neutralidade, veste roupas de tons neutros e sem estampas – com exceção daquelas belas camisas e camisetas coloridas que sua esposa gosta de presenteá-lo. Mas apesar de cético, acredita nas mudanças climáticas, na possibilidade de sua mitigação e na construção de um mundo mais amigável para a maioria das pessoas. Com um herdeiro a caminho, quer deixar um mundo melhor para seu filho e essa geração que se anuncia. Além de diretor de redação do Mercado Ético, é especialista em Gestão Socioambiental para a Sustentabilidade pela Fundação Instituto de Administração (FIA)
Fonte: (Mercado Ético)

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