Henrique A. Camargo*
Foi fantástica a ação de Daniel Alves ao comer a banana atirada em
sua direção durante um jogo do Barça. A atitude ganhou o mundo. Foi de
uma espontaneidade e inteligência tão grandes, que furou até mesmo uma
iniciativa preparada por Neymar e um time de comunicadores. No escurinho
dos bastidores, eles armavam uma ação com o mesmo roteiro. Então,
melhor que tenha sido com a simplicidade de Dani e ganhado força com o
carisma de Neymar. Assim, a coisa toda tem mais legitimidade e abafa
qualquer especulação sobre o oportunismo da situação. O que vale é a
mobilização que essa campanha está causando. #Somostodosmacacos é o que
eu chamaria de comunicação do bem.
Ah… Sobre oportunismo, estou ignorando a ação da empresa de um
apresentador de TV. Pelo que acompanho desse homem, sua aura de bom moço
só acende quando as câmeras estão ligadas. Mas esse julgamento prefiro
deixar para a opinião pública.
Voltando ao que interessa, mais do que um ato contra o racismo,
#somostodosmacacos enfatiza a incompreendida obviedade: todos os homens,
mesmo que não sejam macacos, são iguais e fazem parte da mesma raça
humana.
Mas daí alguém pode argumentar que as diferenças entre brancos e
negros são gritantes sim e que definitivamente não são parte da mesma
raça (talvez nem da mesma espécie).
Pois bem, para responder a essa questão podemos apelar para os fatos
científicos. Em fevereiro, o Mercado Ético publicou um artigo do
filósofo Roberto Malvezzi, que leva justamente o mesmo título da
campanha: Somos todos macacos (tenho
certeza que Neymar e seus criativos se inspiraram nesse texto). Nele, o
articulista aponta que “entre os seres humanos, a identidade genética é
de 99,9%. Todos nós temos origem na África e pode haver mais diferença
entre dois louros que entre um louro e um africano”. Com tamanha
semelhança, o argumento de raças vai pelo ralo.
Mas essa história de compatibilidade genética não para por aí. O DNA
humano é tão semelhante ao de outros animais, que fica difícil acreditar
que somos tão diferentes assim. (Saiba mais aqui) Olha
só, chipanzés compartilham 99% dos genomas humanos. Olhando sob essa
perspectiva não é difícil perceber que #somostodosmacacos no sentido
literal da frase. Mas também somos parentes próximos dos camundongos.
Sim, temos 97,5% de semelhança genética com esses adoráveis roedores.
Nos gatos, essa relação é de 90%, e na mosca da fruta, de 60%. Até
vegetais como o repolho têm alguma coisa de humano, com 40% de
compatibilidade entre os DNAs. Vegetariano que sou, não vou conseguir
evitar o sentimento de canibalismo em minhas próximas refeições.
Talvez esses testes de DNA não sejam tão conclusivos quanto aqueles
do programa do Ratinho, mas uma coisa é certa: toda a vida na Terra,
desde a mais inteligente até a mais primitiva, tem algum grau de
parentesco entre si. E assim sendo, começo a entender a complexa relação
de amor e ódio entre os humanos e a Natureza.
#somostodosumagrandefamilia
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*Henrique é jornalista e pelo exercício da profissão apresenta uma forte
tendência ao ceticismo. Para expressar sua busca pela neutralidade,
veste roupas de tons neutros e sem estampas – com exceção daquelas belas
camisas e camisetas coloridas que sua esposa gosta de presenteá-lo. Mas
apesar de cético, acredita nas mudanças climáticas, na possibilidade de
sua mitigação e na construção de um mundo mais amigável para a maioria
das pessoas. Com um herdeiro a caminho, quer deixar um mundo melhor para
seu filho e essa geração que se anuncia. Além de diretor de redação do
Mercado Ético, é especialista em Gestão Socioambiental para a
Sustentabilidade pela Fundação Instituto de Administração (FIA)
Fonte: (Mercado Ético)
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