Rosely Sayão*
Mesmo com o grude dos pais, há filhos que querem se emancipar e então os pais se sentem abandonados
Entrar na faculdade, começar a namorar de maneira mais compromissada
--com seus sentimentos e com o outro --e deixar de morar com os pais já
foram índices de que o filho havia crescido e de que, a partir de então,
ele poderia e deveria cuidar da própria vida. Essas eram marcas de que a
adolescência terminara, enfim.
Não é mais assim. Agora, fatos desse tipo são sinais, para os pais, de
que eles precisarão se dedicar ao filho de modo diferente: de que serão
outras as preocupações que lhes tirarão o sono, de que serão outros os
riscos que o filho correrá. Como tem sido, para muitos pais, ter filhos
com 18 anos, ou um pouco mais?
Bem, a partir do momento em que o jovem entra na faculdade, os pais se
preocupam porque querem evitar que o filho fique lá por muito tempo.
É: muitos jovens, nos mais diversos cursos, não conseguem terminar o curso de graduação que iniciaram.
Ora porque ficaram em dúvida e passaram a achar que seu curso é outro,
ora porque não encontraram professores que consideram "bons e
motivadores", ora porque simplesmente não dão conta das
responsabilidades exigidas, muitos abandonam o curso ainda no primeiro
ano ou trancam matrícula em várias disciplinas.
Alguns deles querem voltar a fazer um cursinho preparatório para um novo
vestibular, outros esperam transferência de curso e, outros ainda,
decidem "dar um tempo" nos estudos e ficar só curtindo a vida.
Apesar de os pais se preocuparem, vários deles aceitam a posição do
filho e até se penalizam porque pensam que, afinal, escolher uma
profissão que o acompanhará para o resto da vida não é fácil mesmo nessa
idade. E muitos deles até querem que o filho insista, e para tanto se
prontificam a ajudar o jovem a resolver suas pendências na faculdade.
É impressionante ver a quantidade de pais nas faculdades que lá foram
para tentar resolver problemas dos filhos. Antes, isso seria motivo de
vergonha para o jovem; agora, muitos consideram isso "normal". Aliás,
querem que isso aconteça.
E o namoro? Muitos pais abrem a casa para que os filhos durmam com a
namorada ou namorado e até providenciam camisinha, quando é o caso, para
que a/o filha/o evite surpresas inesperadas.
Mesmo com esse grude dos pais com os filhos, há os jovens que querem se
emancipar, conquistar liberdade e autonomia, e decidem morar sozinhos.
Ah! Os pais se sentem abandonados e não entendem os motivos que levam o
jovem a renunciar a todo o conforto que oferecem.
E acham, também, que o filho não conseguirá bancar sua própria vida.
Pode ser que inicialmente eles não consigam. Mas, aos poucos, irão
aprender que para ter roupa limpa precisam lavá-las, que para ter casa
limpa precisam limpá-la e, que receber amigos para comer todo santo dia
custa caro e dá trabalho.
Tudo o que esses pais precisam, talvez, seja lembrar de sua própria
juventude. Eles escolheram um curso com a mesma idade que agora têm os
filhos, quiseram muito morar sozinhos e administraram tão bem quanto
puderam sua vida sexual.
Pode ser que eles pensem que não foram felizes assim, por isso querem
dar melhores oportunidades aos filhos. Mas ninguém tem a receita da
felicidade; sabemos uma única coisa: só a própria pessoa pode buscar
esse estado.
Nossa questão em relação a esses jovens deve ser: será isso bom para eles?
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* Psicóloga e consultora em educação
Fonte: Folha online, 22/04/2014
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