Nei Alberto Pies*
"O que as
pessoas mais desejam é alguém que
as escute de maneira calma e tranquila.
Em
silêncio. Sem dar conselhos.
Sem que digam: "Se eu fosse você".
A
gente ama não é a pessoa que fala bonito.
É a pessoa que escuta bonito.
(Rubem
Alves)
Os alunos acumulam um grande déficit na escuta. Em
compensação, extrapolam todos os seus limites em outra perspectiva: falar. Os professores e professoras, por sua vez,
numa sala de 20 a 30 alunos, enfrentam grande prejuízo que envolve a sua função
na educação: escutar. Professores e professoras usam demasiadamente a única
arma que ainda apresenta alguma eficácia: a sua voz. Esta, por sua vez, ecoa em
gritos como último recurso para chamar atenção de seus conteúdos e manter a
disposição dos alunos para propósitos de uma sala de aula.
Acredito nas perspectivas dialógicas da educação, mas
confesso que pouco consigo fazer em um período semanal de 45 ou cinquenta
minutos. Tenho experimentado, timidamente, conversar com alguns dos muitos
alunos que tem frequentado nas minhas aulas. Esta conversa, no entanto, sempre
precisa de alguma mediação de algum colega da escola. Geralmente converso com
alunos nos intervalos chamados de "janelas” no ambiente escolar. Sinto a
necessidade de conversar fora do calor das discussões e dos "nervos à flor da
pele”. Nesta hora, o professor é quem
convida o aluno a conversar, numa iniciativa propositiva e positiva.
Chegar junto ao aluno para escutá-lo é um grande
aprendizado. Dizer a ele que você está aí para escutar, sem julgamentos nem
imposições, revela-se maneira eficaz de construir vínculos. Processos
educativos que não permitem vínculos reais entre os sujeitos aprendentes não
tem valor significativo para ninguém. Muito provavelmente, a grande maioria de
nossos alunos não tem em suas casas uma relação dialógica de convivência, por
isso mesmo convidar para o diálogo lhes causa um grande estranhamento.
Existe uma grande riqueza nas práticas de convivência
humana, mas nem sempre acreditamos o suficiente nisso para nos encorajar em
atitudes. Como afirma Rubem Alves, todo
mundo precisa mais de quem escuta do que quem fala bonito. A sensibilidade do
autor refere ainda que os seus mais significativos aprendizados não foram
ensinados através dos livros, mas "prestando atenção”. Infelizmente, nossas
intervenções na vida, na convivência e nas relações interpessoais estão cada
vez menos pautadas pelas vivências empíricas.
As experiências da escuta e da fala, quando significativas,
revelam que devemos acreditar nos ricos processos desencadeados numa
perspectiva dialógica do conhecimento. Observamos que dialogar com os alunos na
perspectiva de ouvir as suas razões, sentimentos e incompreensões muda a
percepção dos mesmos em relação a si, aos outros e com o mundo. Por isso mesmo,
deveríamos ter a coragem e a ousadia de transformar nossas escolas em
permanentes laboratórios de diálogo e de escuta, envolvendo diferentes tempos e
lugares, com alunos, pais e professores. Separados ou misturados. A nossa persistência nesta tese nos levará,
inevitavelmente, a seres humanos mais humanizados e equilibrados. Humanizar-se
é o maior desafio humano!
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* Nei Alberto Pies é professor e ativista de direitos
humanos.
Fonte: Adital online, 04/04/2014
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