Bruno Peron*
Nas linhas seguintes, proponho duas interpretações sobre a espécie humana:
1) eu desafio o status privilegiado que nos diferencia de outras espécies animais como seres dotados de inteligência e razão;
2) argumento que algumas atividades humanas nos situam abaixo de outros animais e caracterizam nosso papel colonizador-predatório na Terra.
Antes de desenvolver estas ideias, cujo conteúdo é um tanto desafiador
para uma espécie que há poucos séculos acreditou que fosse a mais
importante a habitar o planeta central do universo, exponho a definição
de animal que encontrei num dicionário. De três acepções listadas,
parafraseio a primeira que o situa como um ser vivo que tem células
múltiplas, alimenta-se de outros seres vivos, tem capacidade de
movimento e responde a estímulos. Até este ponto, tal definição cabe a
uma infinidade de criaturas, inclusive humanas.
Porém meu questionamento diz respeito à segunda acepção de animal de
acordo com o dicionário. Ela define-o como um ser irracional e que, por
isso, opõe-se ao homem.
De acordo com esta linha que diferencia os seres humanos de outros
animais, de fato contamos com atributos mais sofisticados (a razão) e
mais complexos (a inteligência) que neles. Quantos exemplos temos de
criação e manipulação de técnicas para facilitar nossa sobrevivência! O
desequilíbrio entre o uso de instinto e de inteligência é o que dá à
espécie humana um ar de superioridade no reino das coisas vivas deste
planeta.
Entretanto, há que levar em conta que instinto é também um tipo de
inteligência pelo qual os animais (incluindo-nos, de acordo com meu
argumento) satisfazem suas necessidades de sobrevivência. O ser humano
possui resquícios desta inteligência rudimentar quando suas paixões,
vícios e más inclinações prevalecem sobre suas virtudes.
Deste modo, temos um clima de animalização do ser humano e de
humanização dos outros animais, se tomarmo-nos como parâmetro para
comparação. Isto significa que nosso instinto de preservação faz-nos
cobiçar, invejar e matar seres da mesma espécie quando não houver
impedimentos normativos (as leis, as morais, os costumes);
frequentemente a razão se põe de lado para que humanos saciem seus
apetites carnais.
Noutro relato, menciono que a organização laboral das abelhas e das
formigas nos dá exemplos que nosso orgulho nos impede de observar,
enquanto cachorros muitas vezes são de fato “o melhor amigo do homem”
devido à sua companhia e fidelidade.
Estamos, assim, abaixo de outros animais no uso de nossa inteligência
instintiva. Portanto, não somos uma espécie privilegiada, ainda que
façamos uso da razão.
A segunda interpretação que gostaria de propor sobre a espécie humana é
de que temos exercido um papel colonizador-predatório na Terra. E há os
que já estão de olho na possibilidade de viver em estações espaciais,
na Lua e em Marte.
Junto da pretensão de superioridade da espécie humana sobre os outros
animais, há também um desejo frenético de controle, expansão e
exploração. A história da humanidade tem exemplos de impérios
influentes, de diásporas e migrações entre continentes, e de construção
de estações científicas no Polo Norte e na Antártica.
O ser humano é sedento de território (daí a origem da globalização
através das conquistas de além-mar), ainda que não possa estar de corpo
em todos os lugares que conquista. É notável, porém, que temos
escravizado as outras espécies para saciar nossas necessidades e temos
construído abundâncias que põem o planeta em risco de extinção.
Está sempre conosco a decisão sobre se queremos aprimorar nossa
inteligência ou disseminar no lodo da Terra os elementos de nossos
instintos rudimentares.
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* Escritor e analista de relações internacionais.
Fonte: http://www.brunoperon.com.br/textos-sul-americanos/artigo.asp?id=361&lang=br
Imagem Internet
* Escritor e analista de relações internacionais.
Fonte: http://www.brunoperon.com.br/textos-sul-americanos/artigo.asp?id=361&lang=br
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