sábado, 26 de abril de 2014

O Antibuda

 Paulo Brabo*
Nosso mundo encontra-se numa grande encruzilhada entre narrativas competidoras.

De um lado, as narrativas do sagrado insistem que devemos admirar gente como Buda e como Jesus, e nos dizem:  

desapegue-se, meu caro. 
Deixe de correr atrás do vento. 
Deixe de derramar ansiedade sobre si mesmo e sobre os outros. 
Não seja idiota de ajuntar riquezas inconstantes onde tudo se perde. 
Conquiste o seu coração.
Respeito o próximo e o ambiente. 
Ame. 
Reduza, e será grande.
Recolha-se, e estará no centro. 
Sirva, e será maior do que todos. 
Recue, e verá a paisagem que todos perdem. 
A notícia da graça é a gratuidade de todas as coisas. 
Rico é quem não precisa de nada.

Do outro lado, as narrativas da sociedade de consumo querem que admiremos os grandes e bem-sucedidos, e nos dizem:  

tome posse, meu caro. 
Corra atrás de resultados. 
Crise é oportunidade, canalize em produtividade essa insatisfação. 
Acumule, e será finalmente livre para desfrutar. 
Conquiste o mundo, e seu coração encontrará a paz. 
Faça alianças sinergéticas e aposte todas as suas fichas. 
Consuma. 
Pense grande, e será grande. 
Cada palmo que você pisar será seu. 
Seja servido, e sua grandeza será evidente. 
Um dia tudo isso será seu. 
Todo aquele que invocar o nome da performance será salvo. 
Rico é quem tem tudo.
Diga-me quem você admira, e saberei quanto você é admirável.
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* Escritor.
Fonte: http://www.baciadasalmas.com/
Imagem da Internet

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