Alta demanda
O papel dos médicos no centro da medicina está sob pressão
Os 150 anos passados foram uma era de ouro para os médicos. De
certa maneira, o seu ofício tem sido o mesmo há milênios: examinar o
paciente, diagnosticar seus problemas e tentar fazer com que eles fiquem
melhor. Desde o meio do século XIX, contudo, os doutores experimentaram
uma nova eminência. A ascensão das associações de médicos e escolas de
medicina ajudou a separar os médicos dos charlatões. O licenciamento e
as leis de prescrição sacralizaram o seu status. E à medida que o
entendimento, a tecnologia e a técnica evoluíram, os médicos se tornaram
mais eficientes, mais capazes de fazer diagnósticos consistentes,
tratar de modo eficaz e dar conselhos em relação a intervenções de saúde
pública – tais como assuntos de higiene e vacinação.
O século 21 certamente verá um aumento enorme da demanda por
assistência médica, e é improvável que essa demanda seja suprida pelos
médicos do mesmo modo que no século passado. Por uma lado, tratar os
problemas do século XXI com uma abordagem do século XX requereria um
número impossível de médicos. Por outro, tratar de condições crônicas
não é o que os médicos fazem de melhor. Essas duas razões indicam que os
médicos se tornarão muito menos essenciais à assistência médica – um
processo que, em alguns lugares, já teve início.
A maioria dos países sofre de um descompasso simples: a demanda por
assistência médica está aumentando mais rapidamente do que a oferta de
médicos. O problema é mais agudo no mundo em desenvolvimento, ainda que
os países ricos não estejam imunes. Mas é nos países pobres que o
interesse em modos alternativos de treinar médicos e em alternativas aos
médicos em si gerou mais inovações.
Uma abordagem para tornar os médicos mais eficientes é aumentar o
foco de suas ações. A Índia abriga alguns dos modelos mais
entusiasmantes do mundo nesta linha. A Grã-Bretanha tem 27,4 médicos
para cada 10.000 pacientes. A Índia tem apenas 6. Com tão poucos
médicos, o país está mudando a maneira de usá-los.
Devi Shetty, executivo chefe do Narayana Hrudayalaya quer fazer com
que seus médicos desempenhem apenas as tarefas mais complexas, enquanto
as mais fáceis podem ser desempenhadas por um batalhão de outros
trabalhadores. O resultado são cirurgias que custam menos de US$ 2.000
cada, cerca de um quinze avos do valor de um procedimento similar nos
EUA.
Outros problemas inspiraram outras soluções nas quais a tecnologia
ocupou as lacunas da força de trabalho. A Fundação Bill e Melinda Gates
apoia um programa que usa telefones celulares para fornecer conselhos e
lembretes a mulheres grávidas em Gana. Em dezembro, a fundação e a Grand
Challenges Canada, uma organização sem fins lucrativos, anunciou US$ 32
milhões em incentivos de pesquisa para novas ferramentas relacionadas a
telefones celulares que possam ajudar trabalhadores de saúde a
diagnosticar diversas doenças. No México, pacientes preocupadas podem
ligar para o Medicall Home, um serviço de “telesaúde”. Caso os pacientes
precisem de cuidados, o Medicall Home pode ajudar a marcar a visita de
um médico. Mas cerca de dois terços das preocupações dos pacientes podem
ser resolvidas pelo telefone por um médico (em geral um recém formado).
À medida que os médicos se tornem mais escassos e os custos de saúde
continuem a aumentar, mais e mais sistemas procurarão inovar, e os
sucessos logrados serão mais amplamente conhecidos. Tudo isso deveria
ser motivo de entusiasmo.
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