sexta-feira, 10 de maio de 2013

As canções de amor duram para sempre


Karl Lagerfeld/Divulgação 
Charles Aznavour: "Quando as pessoas se apaixonam, 
independentemente das modas, das 'tribos', 
é a mim que elas recorrem"
Prestes a completar 89 anos, o cantor e compositor francês Charles Aznavour é um homem da contemporaneidade. Estandarte da tradicional música francesa, o artista testemunhou o surgimento de diversas movimentações culturais juvenis. E, com entusiasmo de garoto, saudou a todas. Sejam elas rock, heavy metal, punk rock, hip hop e música eletrônica. "Nunca enxerguei as novas gerações como concorrentes. Pelo contrário, sempre defendo o que é produzido pelos jovens, pois, ao mesmo tempo, eles dão continuidade à tradição e a questionam", diz Aznavour, autor de mais de mil canções (incluindo 150 em inglês, 100 em italiano, 70 em espanhol e 50 em alemão) e detentor da marca de mais de 200 milhões de discos vendidos pelo mundo. "Quando essas mesmas pessoas se apaixonam, independentemente das modas, das 'tribos', é a mim que elas recorrem. Afinal, sou eu que tenho as canções românticas no repertório", diverte-se.

A chegada da octagésima nona primavera será comemorada em meio à turnê sul-americana "Aznavour en Toute Intimité", que prevê apresentações no Brasil, Argentina e Chile, entre os dias 13 e 25 - no dia do aniversário, 22, Aznavour estará no palco do Auditório Araujo Vianna, em Porto Alegre. "Muitas vezes me perguntam qual o segredo da longevidade. Não há, respondo. Graças a Deus, eu e minha irmã, que tem 90 anos completos, herdamos uma ótima saúde dos nossos pais. Quer herança mais maravilhosa que essa?"

De família de artistas armênios, cujo nome de batismo é Shahnour Varenagh Aznavourian, o "chansonnier" estreou no tablado do teatro de variedades ainda criança. Mas o sucesso foi conquistado vagarosamente. No que o papel da cantora Edith Piaf (1915-1963) foi fundamental. Em 1946, uma das mais populares intérpretes francesas o viu cantando num cabaré, e encantou-se com a performance. Logo, Aznavour estava excursionando com a estrela pela França, pelo Canadá e pelos EUA - a cantora teve a dolorida trajetória retratada na cinebiografia "Piaf - Um Hino ao Amor", em 2007, assinada por Olivier Dahan. "[Edith] Piaf era de uma verdade cênica impressionante. Ela foi de uma importância vital para a minha carreira. Assim como outros dois amigos que sempre me inspiram: [o cantor e comediante] Maurice Chevalier (1888-1972) e [cantor e compositor] Charles Trenet (1913-2001), um letrista fenomenal."

Gravado por Bing Crosby (1903-1977), Juliette Gréco, Ray Charles (1930-2004), Shirley Bassey, Fred Astaire (1899-1987), Liza Minnelli, Elvis Costello, entre outros. "Agradeço a todos aqueles que foram tocados e gravaram as minhas músicas", ele afirma, na elegância, sem revelar possíveis predileções. Aznavour também tem uma vasta carreira cinematográfica. São mais de 60 títulos no currículo. O debute se deu em 1959, no longa-metragem "La Tête Contre les Murs", de Georges Franju (1912-1987). E a mais recente aparição foi no filme "Ararat" (2002), de Atom Egoyan. Porém, sua atuação, como um pianista em apuros, em "Tirez Sur le Pianiste" ("Atire no Pianista", 1960), um inusitado experimento noir de François Truffaut (1932-1984), é objeto de culto maior entre os cinéfilos. Trabalhar com Truffaut, lembra Aznavour, era muito fácil. A delicadeza com que o realizador se dirigia à equipe no set de filmagem se refletia diretamente em suas produções. "Como ator, eu me senti extremamente confortável. Mesmo nas cenas mais difíceis", diz ele, que não costuma assistir aos filmes que fez, tampouco visitar os discos que gravou.

Nos shows que faz pelo mundo, Aznavour é ladeado por uma grande orquestra. E, no íntimo, leva consigo a ascendência armênia - é embaixador da República da Armênia na Suíça e representante permanente do país junto às Nações Unidas - mesclada à cultura dos mais variados povos do planeta. Segundo ele, o interesse global é outra das heranças deixadas pelos pais. Os fãs do veterano "chansonnier" agradecem.

"Aznavour en Toute Intimité"

Nos dias 13 e 15, no Theatro Municipal do Rio; no dia 16, no Espaço das Américas (SP); no dia 22, no Oi Araujo Vianna (Porto Alegre), e, no dia 25, no Chevrolet Hall (Recife)
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Por Rodrigo Carneiro | Para o Valor, de São Paulo

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