sábado, 8 de março de 2014

ELAS POR ELAS

Nílson Souza*

Sobre mulheres, jamais vou escrever algo tão bonito que Cora Coralina já não tenha escrito: 

“Que pretendes, mulher? 
Independência, igualdade de condições... 
Empregos fora do lar? 
És superior àqueles que procuras imitar. 
Tens o dom divino de ser mãe. 
Em ti está presente a humanidade”.

Sobre mulheres, não poderia ser tão autêntico e verdadeiro quanto Martha Medeiros: 

“A todos trato muito bem
sou cordial, educada, quase sensata,
mas nada me dá mais prazer
do que ser persona non grata
 expulsa do paraíso
uma mulher sem juízo, que não se comove
com nada
 cruel e refinada
que não merece ir pro céu, uma vilã de novela
mas bela, e até mesmo culta
estranha, com tantos amigos
e amada, bem vestida e respeitada
aqui entre nós
 melhor que ser boazinha é não poder ser imitada”.

Sobre mulheres, poderia até dizer que prezam a própria autonomia, mas não com a legitimidade de Bruna Lombardi

“Tenho os caprichos inerentes à natureza da mulher
abro a caixa de pandora que eu quiser
e lanço mão de todo mal e todo bem
avanço a passos largos
 alcanço o ponto extremo e vou além”.

Sobre mulheres, sei que carregam mistérios na alma, mas sabe-o muito melhor Clarice Lispector:

“Sou como você me vê,
posso ser leve como uma brisa,
ou forte como uma ventania,
depende de quando,
e como você me vê passar”.

Sobre mulheres, só mesmo a irreverência de uma Adélia Prado para desafiar Drummond: 

“Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável.
Eu sou”.

Sobre mulheres, poderia arriscar-me a falar de inconstância, mas prefiro dar a palavra a Cecília Meireles: 

“Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha”.

Sobre mulheres, poderia defini-las, mas não com a convicção de Raquel de Queiroz

“Nós, mulheres, herdamos muito da personalidade de Eva: todas as vezes que nos encontramos na santa paz do Paraíso, ficamos ansiosas por morder uma maçã e cairmos fora de lá!...”.

Sobre mulheres, permito-me saudá-las muito mais pela sensibilidade e pelo talento do que propriamente pelo dia de hoje.
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* Cronista da ZH
Fonte: ZH online, 08/03/2014
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