segunda-feira, 3 de março de 2014

Eu odeio! Sobre a guerra na Ucrânia

 Blindados e camiões com tropas russas cercando uma base ucraniana junto a Simferopol (capital da Crimeia)
 - Foto do twitter de Carlos Franganillo
 
Escrever numa posição crítica não é muito apreciado em tempos de tumulto. Por Volodymyr Ishchenko*
 
Para alguns idiotas histéricos eu sucumbi aos fascistas, para outros, traí a Pátria. O tempo é agora precioso e deve ser utilizado de forma eficiente. É por isso que eu respondo a tudo num único post.

Odeio os Euroidiotas que começaram tudo isto por causa dos seus pequenos tiques e do chauvinismo cultural.

Odeio os corruptos que se agarraram ao poder, apesar de dezenas de mortes e que agora querem voltar ao país em tanques externos.

Odeio os da antiga oposição, que se tornaram as autoridade de hoje, e que não encontraram nada melhor para "salvar a língua ucraniana" [restringindo o russo] do que preencher o governo com os fascistas e prometer medidas sociais impopulares.

Odeio as autoridades da Crimeia, que estão com tanto medo a defender os seus lugares que ficarão felizes em servir de capacho de uma administração de ocupação.

Odeio o tirano do Kremlin, que precisa de uma pequena guerra vitoriosa para fortalecer o rublo e o seu próprio poder quase ilimitado.

Odeio todos os burocratas da UE e dos EUA "profundamente preocupados", que introduzem sanções apenas quando o governo está quase a cair e dão ajuda em condições que se assemelham a um roubo à luz do dia.

Odeio fascistas ucranianos e russos, que não conseguem habituar-se à realidade de um país multicultural e multilinguístico, e estão prontos a destruí-lo.

Odeio os "liberais", que estiveram prontos para dar cobertura aos fascistas presentes na Maidan1 e nunca se distanciaram deles para dar uma hipótese ao movimento verdadeiramente democrático de todos os ucranianos, em vez de empurrarem o país para uma guerra civil.

Odeio-me a mim próprio e a outros esquerdistas por passarmos a maior parte do nosso tempo em recriminações mútuas, em vez de construirmos uma poderosa organização política. Divididos, pouco podíamos influenciar o Maidan ou o anti-Maidan. Parte da culpa recai sobre nós.

Sou pela paz mundial. Envio estas flores da Valónia. Flocos de neve sobre o fundo das folhas verdes do ano passado. Espero que esta não seja a última vez que as vejamos. Acabei de voltar para o meu país dividido e desejo que tudo termine com uma Segunda Crimeia em vez de uma Terceira Guerra Mundial. Porque esta guerra não se vai transformar numa revolução mundial (as hipóteses disso são muito menores do que há 100 anos atrás), mas num holocausto nuclear.

Camaradas russos, vão para as praças centrais das vossas cidades, para que possam parar a intervenção na Ucrânia.

Camaradas ucranianos, vamos pensar o que poderemos fazer. É claro que inscrever-se no Right Sector2 [que fez um apelo à mobilização] não é uma opção.

* Artigo de Volodymyr Ishchenko, sociólogo e diretor adjunto do Centro de Investigação Social de Kiev, publicado em LeftEast. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net

1 Referência à concentração na praça principal de Kiev.
2 Movimento de extrema-direita.
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Fonte:  http://www.esquerda.net/02/03/2014

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