No seminário “Cultura e Tecnologia”, professores argumentam
que o espaço na rede proporciona novas democracias, mas também novas
fórmulas de controle
e interações sociais e comerciais
Por Marcelo Hailer
Na tarde desta segunda-feira (24) foi realizada a primeira
mesa do seminário “Cultura e Tecnologia”, que acontece durante todo o
dia de hoje na Biblioteca Municipal Mário de Andrade, em São Paulo. O
debate de abertura, “Tecnologia e Sociedades do Controle”, contou com a
participação dos professores Peter Pal Pelbart (PUC-SP), Henrique Parra
(Unifesp) e Claudio Penteado (UFABC).
Penteado tratou da “tecnologia e
subjetividades da ideologia” e, como referência da construção de
subjetividades no cinema, utilizou o cinema nazista com a obra Triunfo da Vontade, “a qual muitos consideram como o início da propaganda política”. Na outra ponta,lembrou do cinema soviético com o filme O Encouraçado Potemkin,
que, segundo Penteado, é considerado “a base da cultura soviética”, e
citou ainda o cinema de Hollywood como base de comparação. “O cinema
norte-americano pode ser entendido como o primeiro esforço de guerra
como propagação da ideologia política dos Estados Unidos. Alguns filmes
são utilizados como desculpa pelo país entrar na guerra e ‘salvar a
democracia’”, analisou o professor.
Sobre a rede, Penteado colocou que a
“internet é o ambiente do controle, mas também um ambiente de
subjetividades, e é justamente na produção das subjetividades que se dá o
controle”, chamando a atenção para o Facebook, que funciona a partir da
“modulação da sociabilidade”. “A nossa locomoção dentro de um site é
modulada, criam-se protocolos de navegação. Se você escreve algo na timeline, a regra diz que é legal você ‘curtir’”, aponta. “A sua liberdade no Facebook é modulada por aplicativos.”
Posteriormente, quem falou foi
Henrique Parra (Unifesp), que baseou sua intervenção nas “Tecnologias de
controle democrático Vs tecnologias de controle autoritário”. Em sua
fala, abordou as questões contraditórias da rede e questionou “quais são
as condições de liberdade que a gente constitui a partir do controle”.
Henrique Parra argumenta que, ao mesmo tempo que as tecnologias
atuais incorporam regimes de poder que potencializam as liberdades,
observa-se o fortalecimento de “estados de vigilância planetária”. A
partir disso, emergem os controles autoritários (estatal e comercial) e
também o democrático, realizado a partir dos usuários com os seus
perfis. “Esta tecnologia não é neutra.
Na internet convivem práticas de radicalização democrática, e outras
práticas que visam a vigilância e controle. No Brasil vivemos a
regulamentação da internet, que, a depender dos resultados pode tanto
aumentar a liberdade como mudar o cenário”, finalizou.
“O indivíduo é feito em pedaços:
inteligência, força física,
memoria…
já não é mais unificado, não há mais sujeito individuado.
São
componentes que não encontram uma síntese
numa pessoa, mas sim num
agenciamento maior.
A vida em pedaços”
Quem encerrou a mesa foi Peter
Palbert (PUC-SP), que iniciou a fala revelando que não tem celular nem
perfil nas redes sociais. A partir disso que considera uma “ironia”,
disse que, apesar de não ter tais ferramentas, vive entre pessoas que as
possuem. O professor resolveu então fazer um paralelo com Deleuze e
Guattari, que estabelecem dois conceitos em torno do sujeito moderno:
servidão maquínica e sujeição social. “Servidão
é quando os homens são peças constituintes de uma máquina maior. Em
contraposição, há a sujeição, quando essa unidade superior constitui o
homem como um sujeito, não apenas uma peça, uma máquina”, explica
Palbert.
Posteriormente, Peter explica que hoje vivemos a reedição do regime
de servidão. “Vivemos a servidão maquínica no meio cibernético. A
sujeição distribui papeis e locais na sociedade: trabalho, nacionalidade
e sexo. Somos todos apanhados numa armadilha significativa”, teorizou,
sobre a vida na rede social e a respeito da servidão contemporânea que
se dá com os celulares e redes sociais. “O
ser humano já não se comunica diretamente com humanos, mas com
máquinas, montagem maquínica”, explicou o professor, sobre as relações
atuais. “O indivíduo é feito em pedaços: inteligência, força física,
memoria… já não é mais unificado, não há mais sujeito individuado. São
componentes que não encontram uma síntese numa pessoa, mas sim num
agenciamento maior. A vida em pedaços”, finalizou Peter Pelbart.
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Fonte: http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/03/o-ser-humano-ja-nao-se-comunica-diretamente-com-humanos-diz-professor/
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