Quando o papa Bento 16 renunciou, em fevereiro do ano passado, a Igreja
Católica exalava crise. Internamente, escândalos financeiros, sexuais e
intriga estremeciam o Vaticano. Fora de seus muros, prosseguia o
declínio de fiéis em regiões importantes, como a América Latina e a
Europa.
O diagnóstico dos problemas estava claro, mas, um ano atrás, ninguém
previu que o argentino Jorge Bergoglio pudesse atacá-los com tanto
ímpeto. Eleito papa aos 76 anos, ele conseguiu em pouco tempo iniciar
uma ampla reforma.
Consciente da importância simbólica e da repercussão midiática de seus
gestos e discursos, Francisco investe em estratégia personalista, uma
espécie de mitologia da própria humildade, para deixar em segundo plano
os preconceitos da igreja, incompatíveis com o mundo moderno.
Permaneceram intactos, afinal, os principais pontos da doutrina
católica.
Valendo-se de uma combinação de carisma, comportamento austero e foco
nos mais pobres, o papa logo se tornou figura mundialmente admirada. Fez
apenas uma viagem internacional --ao Brasil, em julho--, mas sua
popularidade começa a ser comparada à de João Paulo 2°, que beijou o
chão de 129 países em 26 anos de pontificado.
Muito do sucesso de Francisco se deve a seu entendimento de que é
preciso lidar com a "renovação interna da igreja e o diálogo com o mundo
atual", como disse a bispos latino-americanos.
Nessa linha, buscou abordagem menos conflituosa de temas espinhosos para
os católicos, como a homossexualidade, inclusive declinando julgá-los.
Para conhecer melhor seu rebanho de 1,2 bilhão de pessoas, instou os
fiéis a dizer o que pensam sobre questões polêmicas, como divórcio,
união gay e uso de anticoncepcionais. É clara a inversão: a igreja, que
sempre se aferrou a um tipo bem definido de estrutura familiar, agora se
abre para ouvir.
Já não soa improvável que, no Sínodo da Família, marcado para outubro,
temáticas dessa natureza sejam pelo menos postas em debate. A esta
altura, o papa sabe muito bem que algumas das posições tradicionais do
Vaticano criam uma grande distância entre o que pensam os fiéis e aquilo
que pregam padres e bispos.
Ao lado de tais iniciativas externas, por assim dizer, reformas internas
incluem a renovação dos quadros da Cúria e mudanças no banco do
Vaticano, foco de vários escândalos recentes devido ao descontrole de
suas atividades.
Aos 77 anos e com apenas um pulmão, Francisco tem pressa. Sabe que um
ano é sempre fugaz para uma instituição milenar. Ainda assim tenta, sem
perder tempo, mover a barca de são Pedro rumo ao que parece ser um
futuro menos ancorado no próprio passado.
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EDITORIAIS
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