Chesterton escreveu um trecho belíssimo no livro Ortodoxia (1908):
“O sol se levanta todas as manhãs. Eu não me levanto todas as manhãs;
mas a variação se deve não à minha atividade, mas à minha inação. Ora,
para expressar o caso numa linguagem popular, poderia ser verdade que o
sol se levanta regularmente por nunca se cansar de levantar-se. Sua
rotina talvez se deva não à ausência de vida, mas a uma vida exuberante.
O que quero dizer pode ser observado, por exemplo, nas crianças, quando
elas descobrem algum jogo ou brincadeira com que se divertem de modo
especial. Uma criança balança as pernas ritmicamente por excesso de
vida, não pela ausência dela. Pelo fato de as crianças terem uma
vitalidade abundante, elas são espiritualmente impetuosas e livres; por
isso querem coisas repetidas, inalteradas. Elas sempre dizem: “Vamos de
novo”; e o adulto faz de novo até quase morrer de cansaço. Pois os
adultos não são fortes o suficiente para exultar na monotonia.
Mas
talvez Deus seja forte o suficiente para exultar na monotonia. E
possível que Deus todas as manhãs diga ao sol: “Vamos de novo”; e todas
as noites à lua: “Vamos de novo”. Talvez não seja uma necessidade
automática que torna todas as margaridas iguais; pode ser que Deus crie
todas as margaridas separadamente, mas nunca se canse de criá-las. Pode
ser que ele tenha um eterno apetite de criança; pois nós pecamos e
ficamos velhos, e nosso Pai é mais jovem do que nós.”
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Fonte: http://sociedadechestertonbrasil.org/a-sociedade/noticias/
-acesso: 04/03/2014
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