Em 'The Americanization of Narcissism', a historiadora Elizabeth Lunbeck explica como o narcisismo se tornou o 'diagnóstico favorito dos analistas culturais'
Em 2013 a Oxford Dictionaries elegeu “selfie” a palavra do ano, a
fim de celebrar a popularidade explosiva desse novo termo para o
autorretrato, em geral tirado por um smartphone e em seguida postado em
uma rede social. Como afirmam os anúncios de dois novos livros, a
ascensão dessa forma de autopromoção foi generalizadamente compreendida
como evidência de uma explosão de egoísmo ou egolatria. Caso esse boom
realmente exista, então se pode
presumir que ele é uma recidiva do surto epidêmico de narcisismo
diagnosticado pelos críticos nos anos 70 – “a década do eu”, conforme
batizada pelo jornalista americano Tom Wolfe.
Em “The Americanization of Narcissism”, Elizabeth Lunbeck,
historiadora da Vanderbilt University, em Nashville, Tennessee, explica
como o narcisismo se tornou o “diagnóstico favorito dos analistas
culturais”. Em 1979, quando o influente historiador Christopher Lasch
publicou “The Culture of Narcissism”, muitos intelectuais americanos
falavam o idioma da psicanálise como se essa fosse a sua língua materna.
Havia uma audiência receptiva para a ideia freudiana de que a repressão
do ódio a si mesmo poderia gerar indivíduos autocentrados,
megalomaníacos e rasos, e para a ideia de que essa desordem de
personalidade refletia de alguma maneira uma era rica e mimada.
Para Sigmund Freud, havia um tipo bom de narcisismo, pelo menos nos
primeiros anos de vida, e um tipo ruim. Impulsos narcísicos – desejos
voltados para a satisfação do eu – são componentes de um desenvolvimento
saudável. Mas eles podem passar do ponto, resultando em excessos de
amor próprio de vários tipos, e cada um deveria se livrar deles. Às
vezes o panorama freudiano se torna deveras confuso. Homossexuais
masculinos, Freud sugeriu em 1910, procuravam por parceiros parecidos
consigo, por que um vínculo erótico exagerado às suas mães faz com que
eles queiram amar seus parceiros do mesmo jeito que elas as amaram.
Conforme observa Lunbeck, os aspectos positivos do amor próprio foram
negligenciados por Freud e seus seguidores mais influentes, os quais
começaram a enxergar o narcisismo ruim por todos os lados. Nos anos 1930
alguns analistas tentaram limpar a imagem de um tipo “saudável” de
narcisismo que, argumentavam, baseavam uma vida bem ajustada. Mas suas
vozes foram soterradas por outros analistas, e pelas invectivas de
críticos sociais que estavam tentando achar um arcabouço
pseudocientífico para legitimar seus ataques à cultura do consumo.
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Fontes:
The Economist-Know thy selfie
http://opiniaoenoticia.com.br/cultura/livros/livro-revela-os-aspectos-positivos-do-narcisismo/
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