sábado, 29 de março de 2014

Livro revela os aspectos positivos do narcisismo

Em 'The Americanization of Narcissism', a historiadora Elizabeth Lunbeck explica como o narcisismo se tornou o 'diagnóstico favorito dos analistas culturais'

Em 2013 a Oxford Dictionaries elegeu “selfie” a palavra do ano, a fim de celebrar a popularidade explosiva desse novo termo para o autorretrato, em geral tirado por um smartphone e em seguida postado em uma rede social. Como afirmam os anúncios de dois novos livros, a ascensão dessa forma de autopromoção foi generalizadamente compreendida como evidência de uma explosão de egoísmo ou egolatria. Caso esse boom realmente exista, então se pode presumir que ele é uma recidiva do surto epidêmico de narcisismo diagnosticado pelos críticos nos anos 70 – “a década do eu”, conforme batizada pelo jornalista americano Tom Wolfe.

Em “The Americanization of Narcissism”, Elizabeth Lunbeck, historiadora da Vanderbilt University, em Nashville, Tennessee, explica como o narcisismo se tornou o “diagnóstico favorito dos analistas culturais”. Em 1979, quando o influente historiador Christopher Lasch publicou “The Culture of Narcissism”, muitos intelectuais americanos falavam o idioma da psicanálise como se essa fosse a sua língua materna. Havia uma audiência receptiva para a ideia freudiana de que a repressão do ódio a si mesmo poderia gerar indivíduos autocentrados, megalomaníacos e rasos, e para a ideia de que essa desordem de personalidade refletia de alguma maneira uma era rica e mimada.

Para Sigmund Freud, havia um tipo bom de narcisismo, pelo menos nos primeiros anos de vida, e um tipo ruim. Impulsos narcísicos – desejos voltados para a satisfação do eu – são componentes de um desenvolvimento saudável. Mas eles podem passar do ponto, resultando em excessos de amor próprio de vários tipos, e cada um deveria se livrar deles. Às vezes o panorama freudiano se torna deveras confuso. Homossexuais masculinos, Freud sugeriu em 1910, procuravam por parceiros parecidos consigo, por que um vínculo erótico exagerado às suas mães faz com que eles queiram amar seus parceiros do mesmo jeito que elas as amaram.

Conforme observa Lunbeck, os aspectos positivos do amor próprio foram negligenciados por Freud e seus seguidores mais influentes, os quais começaram a enxergar o narcisismo ruim por todos os lados. Nos anos 1930 alguns analistas tentaram limpar a imagem de um tipo “saudável” de narcisismo que, argumentavam, baseavam uma vida bem ajustada. Mas suas vozes foram soterradas por outros analistas, e pelas invectivas de críticos sociais que estavam tentando achar um arcabouço pseudocientífico para legitimar seus ataques à cultura do consumo.
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