"Eu
queria começar por perguntar ao Marcelo como ele situaria as etapas da
espiritualidade dele”, perguntou Frei Betto ao teólogo e monge beneditino
Marcelo Barros, dando início à palestra "Espiritualidade Libertadora hoje”, na
noite desta quinta-feira, 1º de maio. A conferência abriu o I Encontro Nacional
de Juventudes e Espiritualidade Libertadora, que acontece até o próximo
domingo, 04, na cidade de Fortaleza, Estado do Ceará.
Diante
de um público de cerca de 400 jovens provenientes de 15 estados do Brasil, os
teólogos compartilharam suas vivências no caminho da espiritualidade. "O que me
fez entrar no mosteiro é o desejo de viver e compartilhar a vida e a
experiência da fé a partir da Bíblia”, explicou Barros. Segundo ele, sua
espiritualidade foi dividida em três fases: busca de Deus na liturgia; busca de
Deus nos pobres e oprimidos; e o diálogo com os não-crentes.
Respondendo
à mesma pergunta, Betto relatou que sua espiritualidade também foi dividida em
três fases, que começou na família, com a idéia de "Deus lá em cima e baseada
no moralismo, na punição, na idéia de pecado”, passando, em seguida, pela
espiritualidade militante, momento em que entrou na ordem dominicana, e quando teve
"uma profunda crise de fé”, que foi superada com a leitura das obras de Santa Teresa
de Ávila. "Tive outra fé com Deus personalizado”.
Essa
nova fé foi vivenciada por ele nos anos em que passou na prisão, onde descobriu
"coisas importantes da espiritualidade”. "Deus chega muito antes da gente lá
[na prisão]. Toda essa experiência mexeu muito com minha idéia de Deus. Não há
nada que a gente faça que Deus deixe de nos amar, nós é que nos abrimos mais ou
menos a esse amor”.
Os
teólogos ressaltaram a importância da luta pelos pobres e excluídos, pelo
acolhimento, meditação, "deixar Deus falar e ter um encontro com Deus”. "Ser
Cristão nesse mundo injusto e desigual é viver na militância política”,
enfatizou Frei Betto, ressaltando o comprometimento de viver a espiritualidade
com justiça social.
Espiritualidade x
Espiritualismo
Questionado
sobre a diferença entre espiritualidade e espiritualismo, Betto ressaltou que
espiritualismo "cheira” a "fundamentalismo” e lembrou que espiritualidade é
algo que existe antes mesmo das religiões, comparado ao amor familiar.
"Espiritualidade é quando se é capaz de se enternecer”, complementou Barros.
O
monge citou ainda Hugo Chávez, líder da Revolução Bolivariana da Venezuela,
como um exemplo de homem que teve a capacidade de doar a vida. "Hugo Chávez
definia a revolução como capacidade de amar, dar a vida para os outros. Foi
alguém que lutou pela integração latino-americana”.
Debate com a
juventude
Um
dos assuntos questionados pelos jovens no momento de debate com os teólogos foi
a relação entre movimentos sociais e igreja. Sobre isso, Frei Betto, lamentou o
fato de não haver mais, na atualidade, movimentos que se baseiam em marxismo.
"Falta boa dose de marxismo aos movimentos sociais. Os jovens só sabem dizer o
que não querem, mas não sabem o que propor. Precisamos voltar ao diálogo da
utopia, para qual modelo de sociedade queremos”. Ele aproveitou para alertar sobre
a importância do plebiscito da Reforma Política e Barros chamou os jovens a
assumirem o papel de continuar o movimento da Teologia da Libertação.
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Reportagem por Tatiana Félix
Mais informações sobre o I Encontro Nacional de Juventudes e
Espiritualidade Libertadora no site www.espiritualidade2014.com.br;
página do Encontro no Facebook; twitter @espiritual2014
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