O filósofo Philippe Van Parijs, que deu palestra na USP e na FGV-SP na semana passada.
Apu Gomes/Folhapress
Para ele, a falta de inspeção rigorosa para remover beneficiários torna o
Bolsa Família mais parecido com um sistema de renda básica universal,
modelo que ele julga ideal.
Ciceroneado pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP), outro defensor histórico da proposta, Parijs esteve em São Paulo na semana passada, onde deu palestras na USP e na Fundação Getúlio Vargas.
Parijs - Acho um programa muito importante, imprescindível. Não
há dúvida sobre sua contribuição para reduzir a pobreza e a
desigualdade. Acho muito bom que seja pago em dinheiro, não em vale
alimentação. E acho uma boa ideia ter condicionantes de saúde e
educação. As dificuldades são a focalização --encontrar milhões de
famílias pobres-- e, principalmente, a regra que faz com que as pessoas
saiam quando conseguem obter um pouco mais de dinheiro com suas próprias
fontes.
Por que isso é um problema?
É um defeito dos programas desse tipo, pois cria dependência. Uma
armadilha: se a pessoa encontra um emprego, é punida, precisa ser tirada
do programa. Então muitos permanecem nessa situação de dependência.
[...] Na angústia de perder o benefício, não faz nada, fica parada, não
muda sua situação. Esse é o perigo. É por isso que acho importante o
aspecto universal. Dizer: "olha, não há risco de perder, pode ir
adiante, pode assumir um trabalho, mesmo que seja mal remunerado no
início".
Mas não há evidência de que os inscritos no Bolsa Família deixem de procurar emprego.
É verdade. Mas no último congresso que participei, recebi a informação
de que é muito pequeno o número de famílias que deixam o programa. Elas
recebem o Bolsa Família porque estão nas condições de ingresso, mas
depois não são visitadas para ver se arrumaram emprego. Dessa forma, o
Bolsa Família já opera como um programa de renda básica universal. O que
eu e outras pessoas como o senador Suplicy dizemos é que seria melhor
ter um piso de renda que possa ser dado para todo mundo.
Todos?
Todos. Se a pessoa encontra um trabalho, ela mantém o benefício. Mas a
forma como o Bolsa Família funciona de fato já é similar a isso, porque
não tira a família se alguém acha trabalho, é formalizado e fica um
pouco acima do patamar de ingresso. Isso é bom. [...] Essa disfunção do
Bolsa Família é um elemento de dinamismo do programa com efeito
positivo.
Alguém já adotou um programa como o senhor propõe: universal e incondicional?
No Alasca (EUA) há uma pequena renda básica, produto de um fundo
originário do petróleo. O dinheiro é distribuído para todos. Cerca de
US$ 2 mil por ano, para crianças, para idosos. Vem desde 1982. E
funciona. Foi implantado por um governador republicano.
Qual seria o valor adequado para o Brasil?
Digo que o ideal é o nível máximo sustentável. Não só o possível, mas o
sustentável de geração em geração. E na escala mais larga possível. É
uma resposta genérica, de princípio.
O senhor diria que dinheiro é um direito humano?
Não gosto [dessa definição] porque há uma inflação dos direitos humanos.
Seria uma retórica útil, mas prefiro formular as coisas em termos de
uma sociedade justa. Uma sociedade na qual há liberdade real para viver.
O ingresso universal [num programa de renda básica] é um dos elementos
centrais nesse sentido. Uma boa educação, um bom sistema de saúde, um
ambiente público agradável também são.
Idade
61 anos
Formação
Filosofia e economia política
Militância
Fundador da Rede Mundial de Renda Básica, que agrega defensores do tema
Raio-X Philippe Van Parijs
61 anos
Formação
Filosofia e economia política
Militância
Fundador da Rede Mundial de Renda Básica, que agrega defensores do tema
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Reportagem por RICARDO MENDONÇA. EDITOR-ASSISTENTE DE "PODER"
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/poder/1198305-filosofo-diz-que-deficiencia-do-bolsa-familia-e-positiva.shtml
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