sábado, 1 de março de 2014

Parabéns pra você!

 Alberto Villas*
 Villas
 Não sei por que, desde pequenininho, nunca gostei 
do dia do meu aniversário.
Na verdade, sempre odiei o dia do meu aniversário. Nem vou dizer aqui que dia é. O problema é que minha mãe adorava. Uma semana antes, ela começava os preparativos para a festa. Encomendava os salgadinhos lá na Dona Elvira, comprava os refrigerantes, os enfeites, mas os docinhos ela mesmo fazia. Cajuzinho, canudinho, olho-de-sogra,  brigadeiro e aquele delicioso bombom recheado com uva verde. A bala de coco ela encomendava lá na Dona Olívia.

Quando ia chegando a data - repito, não vou dizer aqui -  ela fazia uma faxina geral na casa, daquelas com palha de aço, cera Parquetina e enceradeira. Depois  passava horas no telefone convidando todos os vizinhos, parentes e amigos. Quando chegava o dia, quando os convidados começavam a tocar a campainha, eu tinha vontade de fugir, de sumir do mapa. Algumas vezes cheguei a me esconder debaixo da cama mas fui descoberto, claro.

Eu até que gostava de receber presentes. Ganhava Forte Apache, João Bobo, Kit Xerife, O Pequeno Cientista, O Pequeno Arquiteto, bola de couro, os presentes eram bons, mas eu ter de agradecer a cada um era a morte pra mim. Morria de vergonha. Confesso que não gostava de receber roupas ou sabonetes. Ficava meio desapontado mas mesmo assim ouvia da minha mãe:

- Agradeça a Dona Geny a caixa de sabonetes!

E eu agradecia.

E na hora do parabéns? Que horror! Quando o meu pai apagava a luz, eu já ficava gelado. Quando acendia as velinhas eu ficava roxo de vergonha vendo todas aquelas carinhas e caronas cantando parabéns, sorrindo, batendo palmas e olhando pra mim. A mesa era a coisa mais linda do mundo. Toalha branca bordada e um bolo de coco em cima. O Guaraná Champagne Antartica era servido em taças e o bolo em pratinhos de porcelana. Ainda não havia o descartável nesse mundo.

Quando cresci um pouquinho, implorava à minha mãe para não ir na escola no dia do meu aniversário. Não aparecer no Colégio Marista naquele 3 de agosto (ops, falei!) para mim era tudo. Tinha pavor da minha professora se lembrar e chamar a turma para um “parabéns pra você”. Com que cara eu ficaria vendo os meus colegas cantando e batendo palmas pra mim?

Até hoje fico com um pé atrás quando vai chegando o dia do meu aniversário. Não que eu ainda tenha vergonha do parabéns, do bolo com velinhas ou tristeza de ficar mais velho, nada disso. Já passei por 63 aniversários, me acostumei, mas confesso que vivi alguns 3 de agosto traumáticos e inesquecíveis. Este ano, minhas filhas estão pensando em fazer uma festa temática pra mim, aproveitando a música dos Beatles, “When I’m Sixty-Four”. Pode até ser divertido mas, por enquanto, não quero pensar muito nessa história não.

Na verdade, o meu sonho sempre foi ser como o chargista Jaguar, o cantor argelino Cheb Khaled, o rapper norte-americano Ja Rule ou a atriz inglesa Emma Barton, que nasceram no dia 29 de fevereiro e só fazem aniversário de quatro em quatro anos. Isso é que é felicidade.
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* Jornalista, é autor dos livros “O mundo acabou!” e “Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Morta”
Fonte: Carta Capital online, acesso 01/03/2014

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