domingo, 10 de junho de 2012

A educação e o dinheiro ou a falta dele

Celso Bernardi*


“A educação não é a preparação para a vida; é, sim, a própria vida.
John Dewen, médico norte-americano


O piso salarial do magistério, mais uma vez, coloca em lados opostos os educadores e o governo gaúcho. E o governo, mais uma vez, mesmo com o compromisso de campanha, alega falta de dinheiro para honrar o pagamento devido. Os governos mudam, mas a desculpa é a mesma: “Dinheiro não dá em árvore”. Isso é verdade, é a sociedade que produz o dinheiro. Porém, cabe ao governo decidir em quais prioridades serão aplicados os recursos gerados, pois estes serão sempre menores do que as demandas. Diante desta verdade, cabe a seguinte questão:

Vamos esperar que um dia sobre dinheiro para, então, investir em educação, ou vamos primeiro investir em educação, na certeza de que isto produzirá mais dinheiro?

A melhor resposta vem dos chamados países vencedores. Por exemplo, os que emergiram do pós-guerra, Alemanha e Japão, ou aqueles que deram grandes saltos de crescimento no século 21, como China e Coreia do Sul. Eles não tiveram dúvida: primeiro investiram maciçamente em educação, pois é ela que estimula a economia, gera o desenvolvimento harmônico e faz a inclusão social duradoura. O Rio Grande, infelizmente, nos últimos anos vem desconhecendo esta lição. Nas décadas de 80/90 foi aplicado, em média, 36% da Receita Corrente Líquida na Manutenção e Desenvolvimento do Ensino (MDE).

Mas, na última década, esse índice caiu para 29,5%, sendo que nos últimos dois anos alcançou apenas 27,6%. Consequência disso, óbvia e natural, é que deixamos de ser exemplo em educação, saindo do 1º para o 6º lugar no ranking dos Estados brasileiros. Caíram os recursos e, logicamente, caiu a qualidade.

E o professor? Este é mais uma vítima dessa diminuição dos recursos.

O professor conquistou, pela Lei Estadual nº 8.026, de 14/08/85, a contar de outubro de 1986, um salário básico de 2,5 salários mínimos, que hoje corresponderia a R$ 1.555. O atual básico do Plano de Carreira (Lei 6.672/1974) não alcança R$ 1.000, transformando boa parte dos professores em boias-frias do giz.

Não priorizar a educação é o maior erro estratégico do Brasil e do Rio Grande.

A bolsa pode cair ou subir, a taxa anual de crescimento econômico pode ser maior ou menor, mas o que importa mesmo e o que determina a força de um país é a qualidade do que ensinamos às gerações mais jovens. Somos, essencialmente, aquilo que trazemos dentro de nós. É a boa educação que influencia positivamente a vida de uma pessoa e a vida de uma nação, refletindo-se na saúde, segurança, meio ambiente, política e em todos os setores.

Os anos ruins na bolsa ou quebras de safras podem ser recuperados, porém os anos perdidos, e até os dias perdidos em educação, não voltam mais. Por isso, não investir em educação “é preferir gastar com o sinistro a fazer o seguro”.

Mesmo assim, os governos se sucedem e teimam em resolver primeiro os problemas de caixa, esquecendo que é no front educacional e não financeiro que vamos construir o nosso futuro.
----------------
*Professor, advogado e presidente PP-RS
Fonte: ZH on line, 09/06/2012
Imagem da Internet

Nenhum comentário:

Postar um comentário