Carlos Heitor Cony*
Suponhamos que um historiador, lá pelo século
22, queira saber como era o mundo no século 21, tomando como base de
pesquisa a semana que passou, no ano da graça de 2012. Afinal, uma
semana como outras. Ele terá uma noção assombrosa do nosso tempo.
Nos Estados Unidos, um documentário mostrou que a crise econômica que
aquele país atravessa foi causada pelas retiradas dos grandes executivos
que se aposentaram nas maiores instituições financeiras. Num dos bancos
de projeção mundial, um deles recebeu US$ 2 bilhões para vestir o
pijama. A taxa de desemprego e de miséria pode aumentar em 16%, as
falências individuais e de pequenas empresas subirão 17%. Mas os Estados
Unidos são o guardião do mundo livre e da sociedade democrática.
No Brasil, um ex-presidente e um juiz se engalfinharam publicamente por
causa de escândalos e eleições -dois fatores que caminham sempre juntos
neste país.
Esquecendo a vida pública, também no Brasil uma mulher formada em
direito mata o marido e o esquarteja com uma faca. O mordomo do papa
reinante roubou dinheiro e documentos do Vaticano, terremotos na Itália e
no Japão, os países árabes estão agitados. Por muito menos, o
romancista Eça de Queiroz, no final do século 19, diante do fracasso das
democracias, das repúblicas e, sobretudo, das ditaduras, decidiu-se
pela anarquia, um sistema que prega o enforcamento do último rei com a
tripa do último frade. Uma solução que ainda não foi tentada, embora
reis e frades continuem existindo.
Pelo rolar da carruagem, o futuro historiador considerará o nosso tempo
uma Era de Ouro. Felizmente, não estarei lá, ficarei por aqui mesmo,
usufruindo tamanha paz e prosperidade com o meu anarquismo triste e
inofensivo.
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* Escritor. Colunista da Folha
Fonte: Folha on line, 10/06/2012
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